PGR pede que Supremo abra inquérito contra Bia Kicis para apurar prática de racismo

A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito para apurar um suposto caso de racismo praticado pela deputada federal Bia Kicis (PSL-DF). A parlamentar é acusada de ter cometido o crime ao publicar nas redes sociais, em setembro de 2020, uma imagem de “blackface” para criticar um programa de trainee exclusivo para negros realizado pela rede varejista Magazine Luiza.

“Cuidado, se você consegue enxergar racismo nesse post ao invés de vê-lo na atitude da Magazine Luiza, o estrago do ensino aos moldes de Paulo Freire pode ter sido muito grande na sua capacidade de interpretar textos e de compreender a vida”, escreveu a deputada na postagem, que era ilustrada pelas fotos dos ex-ministros Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta com os rostos pintados de preto e perucas de cabelo black. Havia ainda os dizeres “não está fácil para ninguém” na montagem, fazendo referência aos desempregados e à perda dos cargos dos ex-gestores.

As fotos dos ex-ministros com “blackface” ainda traziam simulações de manchetes. “Desempregado, blogueiro Sergio Moro faz mudança no visual para tentar emprego no Magazine Luiza”, dizia a frase sobre o ex-comandante da pasta da Justiça e Segurança Pública. “Sem emprego e cansado de errar o pico, Mandetta mudou de cor e manda currículo para Magazine Luiza”, afirmava a outra mensagem, essa sobre Luiz Henrique Mandetta.

Ao encaminhar o pedido de abertura de inquérito para o STF, o vice-procurador-geral, Humberto Jacques de Medeiros, defendeu que a conduta de Bia Kicis implica, em tese, na prática de crimes resultantes de preconceito ou discriminação. Dessa forma, o vice-procurador pede a tomada de depoimento da deputada e que as postagens sejam guardadas.

A prática de pintar pessoas brancas para simular a pele negra, denominada “blackface”, teve origem no século 19, quando negros não podiam atuar no teatro e no cinema. Nela, certas características físicas são realçadas, de forma caricata, com o intuito de ridicularizar. Nos dias atuais, o ato segue recorrente entre grupos racistas, sendo utilizada como mecanismo de discriminação racial.