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Carnaval

‘Madame Satã: Resistir para Existir’ é o enredo da Lins Imperial para o Carnaval 2023

Agremiação fará uma releitura do tema que apresentou em 1990

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Agremiação fará uma releitura do tema que apresentou em 1990 (Foto/Ilustração: Edu Gonçalves, Ney Júnior e Igor Damásio)

A Lins Imperial levará para a Marquês de Sapucaí em 2023 a história de João Francisco dos Santos, o Madame Satã. Nordestino, preto e homossexual, o “bicha malandro” teve a Lapa como o seu mundo na primeira metade do século XX. Hoje, suas histórias ainda habitam os becos e as vielas do bairro, sendo símbolo de (r)existência.

A escolha do tema vai ao encontro da agremiação falar sobre personalidades pretas e celebrar a sua comunidade. O enredo faz parte da agenda dos 60 anos da escola, que será comemorado em março. E, diferentemente do que foi feito pela própria Lins em 1990, a abordagem será contemporânea e em forma de manifesto.

O cartaz de divulgação do enredo, assinado pelo carnavalesco Edu Gonçalves, pelo designer Ney Júnior e pelo diretor cultural Igor Damásio, faz referência ao “O Pasquim”, jornal de grande circulação na época de Satã. O veículo divulgava recorrentemente os causos envolvendo “o bicha malandro”, assim como ele se autointitulava.

“Hoje, as manchetes dos jornais, infelizmente, pouco destacam a representatividade de pessoas como Satã no Brasil. Colocar Madame Satã como destaque de um jornal é reafirmar a importância de vozes como a dele não serem silenciadas. Vamos estampar Satã por aí. É preciso aplaudir – incansavelmente – a bicha que não treme no salto!”, comentou Edu.

Para Igor Damásio, falar de Madame Satã no momento atual do país é de suma importância. “Em 2020, Satã foi retirado da lista de personalidades pretas homenageadas pela Fundação Palmares. Precisou de uma ordem judicial para que, em 2021, fosse recolocado. É um exemplo de como pessoas pretas são tratadas no atual momento político do país. É preciso, em vista disso, deixar corpos bichas pretos, abjetos, passarem! Deixem Satã dançar, rascunhar infinitos movimentos no espaço como a impetuosidade de um vendaval”, afirmou.

A posição é compartilhada pelo diretor cultural Mateus Pranto. “Segundo o relatório de 2021 da Transgender Europe (TGEU), responsável globalmente pelo monitoramento de dados levantados por instituições trans e LGBTQIAP+, embora, desde 2019, a transfobia seja tipificada como crime, o Brasil é o país que mais mata trans e travestis no mundo. Falar de Satã, nesse sentido, é necessário e urgente. Deixem Satã serpentear sobre o asfalto, ora ou outra tirando o chapéu e saudando aos seus!”, disse Pranto.

“Este é um enredo sobre nós. Um enredo-manifesto pela (r)existência. É um escancaramento. Um pé na porta. É um convite a todos os corpos abjetos, todos os encantados das ruas. Venham, malandros, Padilhas, Pelintras, bonecas, mendigos, catadores, prostitutas, vadios e foliões! Esta festa é vossa!”, completou o diretor cultural Raphael Homem.

“Como presidente de escola de samba, minha luta é diária. Rememorar Madame Satã, com os óculos da atualidade, é também falar de nós, que resistimos, para podermos existir numa sociedade que sempre nos colocou à margem. Uma flor sempre vai romper o asfalto e dizer: estamos aqui, mesmo que vocês não queiram, como é o caso de Madame Satã”, finalizou Flavio Mello, presidente da escola.

O samba da Lins Imperial no ano que vem, inédito, será encomendado e divulgado em breve, bem como a sinopse do enredo. Com “Madame Satã: resistir para existir”, que será desenvolvido pelos carnavalescos Edu Gonçalves e Ray Menezes, a Lins Imperial será a segunda escola a desfilar na sexta-feira de carnaval, dia 17 de fevereiro, pela Série Ouro.

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Logo oficial da Lins Imperial para o Carnaval 2023 (Foto/Ilustração: Edu Gonçalves, Ney Júnior e Igor Damásio)
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