Educação

Idosos mostram que não existe idade para voltar às salas de aula

Ignácia de Carvalho do Carmo e Nair da Silva têm o mesmo apelido: Dona Naná. Mas não é só isso que elas têm em comum. Ambas retornaram às salas de aula depois dos 80 anos de idade. Dona Ignácia, moradora de Itaguaí, Zona Oeste do Rio, hoje tem 85 anos e voltou aos estudos aos 82, porque sonha em se tornar professora. Dona Nair, de São Gonçalo, na Região Metropolitana, tem 84 anos e retornou às salas de aula há três anos para incentivar um neto a estudar. Mas muito mais do que aprender, as “Nanás” têm muito o que ensinar.

Ignácia é aluna do curso de formação de professores do Colégio Estadual Clodomiro Vasconcelos, em Itaguaí, onde chega todos os dias em grande estilo: de meias ¾, saia plissada e sorriso no rosto. Ela está no primeiro ano do Curso Normal.

Aos oito anos, no bairro de Piracema, a Dona Naná de Itaguaí ganhou de presente do pai uma enxada e foi trabalhar no campo. Ela gostava de mexer com a terra, mas sonhava mesmo era estar em uma sala de aula, o que só aconteceu em 1948, aos 11 anos de idade. A alegria da menina em estudar durou pouco. Dona Naná ficou apenas um ano na escola. A idosa conta que sempre faltava às aulas às quintas-feiras, porque era o dia da conferência do uniforme.

  • Eu não tinha o uniforme completo, não tinha sapatos e não queria fazer feio, né? Minha família não tinha condições, então o jeito era faltar. Eu usava um sapato com solado de cordas. Como iria me apresentar sem os sapatos? E, por isso, foi uma alegria tão grande o dia em que comprei este uniforme. Posso dizer que foi a maior alegria da minha vida. Comprei logo dois para que eles fiquem sempre limpinhos – fala, com orgulho.

O retorno às salas de aula aconteceu em 2019, quando uma sobrinha sabendo dos seus sonhos a matriculou em um curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA). O programa do Governo do Estado, elaborado pela Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), é um incentivo para quem parou os estudos, mas nunca desistiu do “canudo”. Mas o sonho de virar aluna ainda era pouco; ela queria ser professora. Por isso, este ano, Dona Ignácia, que é a aluna mais idosa de toda a Rede Estadual de Ensino, se matriculou no Curso de Formação de Professores onde foi muito bem recebida pelas colegas de classe, que têm entre 15 e 17 anos. Maria Eduarda Espinheira, de 15 anos, fala de Dona Naná com muito carinho.

  • Quando cheguei aqui fiquei maravilhada. Ela é muito linda. Ela arruma o cabelinho todo para trás. Até nos dias frios ela vem toda arrumadinha, mesmo quando não dá para usar saia ela coloca calça do uniforme, sapatilha e vem impecável – diz a amiga.

Hoje em toda a rede estadual de ensino há 579 idosos (acima dos 60 anos) matriculados.

Outro exemplo de que não se deve abandonar os seus objetivos, é a Dona Naná, de São Gonçalo. É a aluna mais idosa matriculada no Ensino de Jovens e Adultos. Quando criança estudou somente até a antiga quarta série, hoje quinto ano. Deixou os estudos aos 9 anos para poder trabalhar e ajudar em casa. Decidiu voltar às salas de aula para incentivar um neto que havia desistido de estudar. O plano não deu certo para o neto, mas ela seguiu em frente, e diz que só para quando se formar.

  • Meu neto recomeçou os estudos comigo, mas logo desistiu. Eu não! Não vou desistir, quero me formar. Muitas pessoas me perguntam porque quero me formar com mais de 80 anos, falam que é bobeira. Não é não. Acho bonito ver quem sabe falar bem, tem desenvoltura. E para a cabeça da gente, estudar é muito bom – conta Nair, a Dona Naná.

Sobre estar entre os adolescentes do Colégio Estadual Monsenhor Barenco, dona Nair diz que é para se manter sempre jovem.

  • As meninas gostam muito de mim apesar de eu ter essa idade. E é muito bom estar entre eles, nossa cabeça fica jovem, a gente não envelhece – ressaltou.

Educação de Jovens e Adultos

A proposta de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Governo do Estado do Rio de Janeiro para o Ensino Médio foi elaborada pela Secretaria de Estado de Educação, em parceria com a Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj). Foi implantada em 2013 em todas as escolas que ofertam EJA Ensino Médio.

A EJA Ensino Médio utiliza metodologia e currículos específicos para jovens e adultos, com material didático próprio.

O curso tem duração de dois anos e é dividido em quatro módulos, um por semestre. Dois módulos têm disciplinas com ênfase em Humanas e os outros dois com ênfase em disciplinas das Ciências da Natureza. Cada módulo tem um número reduzido de disciplinas: mínimo de cinco e máximo de sete. Em todos os módulos, os alunos têm Língua Portuguesa e Matemática.

A EJA Ensino Fundamental atende da VI a IX fase e o curso possui duração de dois anos, sendo dividido em quatro semestres, com um professor por disciplina.
Serviço:
As inscrições (pré-matrículas) para a EJA (1º Semestre de 2022) podem ser feitas através do site www.matriculafacil.rj.gov.br, a partir das 8h do dia 17/11/2022.

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