Apolinho: relembre início de carreira de Washington Rodrigues
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Brasil

Odontologia, acasos e ajuda de Pelé: o início de carreira de Washington Rodrigues

Futebol de salão e cargo como bancário foram as ferramentas do destino que “inventaram” o Apolinho

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Foto: Super Rádio Tupi

Ao pensar sobre a carreira e a importante de Washington Rodrigues no cenário jornalístico brasileiro, é quase que impossível acreditar que muitos dos passos de Apolinho aconteceram por acaso – desde a entrada no radiojornalismo, até a cobertura de 12 Copas do Mundo.

Por mais que tivesse toda a capacidade necessária para assumir qualquer microfone, foi a genialidade do “Velho Apolo” que o levou, desde as primeiras oportunidades do acaso, ao patamar de “comentarista mais ouvido do Brasil”.

O maior dos detalhes é que Washington sequer chegou a cogitar, inicialmente, a possibilidade de se tornar um cronista esportivo. A primeira opção foi a odontologia, onde chegou a iniciar os estudos.

“Jamais pensei trabalhar nisso. Saí de estudante (escola) pensando em ser dentista. Mas quando ia no dentista, o via com aquele ferrinho fazendo barulho, eu tinha vontade de quebrar aquilo tudo (risos). Mas pensei: vou ser dentista pra ir à forra. E comecei os estudos de odontologia. No meio do caminho, não deu certo” – contou.

Apolinho
Apolinho apresentando o “Show do Apolinho” – Foto: Acervo pessoal

Apesar dos estudos, a primeira grande oportunidade foi como bancário, onde era uma espécie de subgerente do banco Operador, trabalhando na unidade de Copacabana. Foi quando o destino cometeu seu primeiro grande ato.

Sem saber o que viria pela frente, Washington Rodrigues iniciou a carreira em 1962, na Rádio Guanabara, atual Rádio Bandeirantes, no programa “Beque Parado”, que tratava sobre futebol de salão.

“Eu jogava futebol, disputava o Campeonato Carioca de futsal, mas era bancário. E o narrador esportivo Vitorino Vieira, consagrado, da Rádio Guanabara, foi abrir conta no banco. Eu era o encarregado, era o subgerente. E ele precisava de uma grana pra ir à Copa do Mundo. E eu fiz a operação do empréstimo. Acabou que ele ficou cliente e fez outros negócios com o banco. Depois, ele trouxe um diretor da rádio, que abriu conta comigo e também ficou amigo. Depois, veio o presidente, que trouxe a rádio para ser cliente do banco. Certo dia, eles resolveram fazer uma programação diária, em 1962, falando de um esporte por dia. E eu comecei a ajudar na confecção do programa, que tinha meia hora só. E o programa decolou. Até que começaram a me pedir “pitacos” no programa”, explicou Apolinho.

A capacidade no meio comunicativo foi rapidamente percebida por aqueles que dirigiam a emissora àquela altura, tanto que rapidamente Washington conquistou seu espaço, já que tinha muito conhecimento sobre futebol de salão.

“Depois, me chamaram para participar efetivamente, como auxiliar. De repente, o apresentador pediu pra sair e a rádio me entregou o programa. Me deixaram lá, no lugar dele. E aí a rádio resolveu começar a transmitir os jogos de futebol de salão. Como eu era muito ligado ao pessoal, passei a ser o repórter de quadra da emissora. O Zé Cunha era o narrador e eu fazia as reportagens”.

Por mais que a participação no rádio já fosse considerável, o destino precisou novamente agir, dando mais um empurrão para que a estrela de Washington pudesse brilhar ainda mais.

Apolinho entrevista o atacante Nunes em 1979 – Foto: Reprodução

“Cada rádio só tinha um repórter. E naquela época, a Rádio Guanabara tinha um timaço: Jorge Cury, Doalcei Camargo, Vitorino Vieira, Paulo César Tênius… Até que, de repente, começou a sair todo mundo. Belo dia, ia ter uma transmissão, e o Mário Viana era o comentarista de Vasco e Bonsucesso, em um sábado. Aí o Vasco “pimba” (faz um gol). Só que houve uma briga no ar entre o Mário e o Bermuda. A rádio “recolheu” os dois, pra apurar o caso, e os afastou. Aí ligam pra minha casa e me chamam pra fazer a reportagem, já que não tinha outro repórter pra fazer o jogo no domingo”.

“Fui lá fazer o jogo e fiz do meu jeito, com expressões, me divertindo, de brincadeira mesmo. E os caras adoraram. Acabou que o Mário e o Bermuda ficaram afastados durante 15 dias e, nesse período, eu fiz três jogos. O presidente da rádio gostou muito e acabei ficando. Como o Bermuda era a estrela da companhia, inventaram que eu faria as reportagens nos jogos de aspirantes, que era normal naquela época. No fim do ano, o Bermuda saiu, foi para outra rádio. Tudo por acaso. No ano seguinte, passei a ser titular. E aí, no fim do ano, fui eleito o melhor repórter do ano. Ganhei meu primeiro prêmio. E eu não estava entendendo nada e continuava bancário. Aí o Jorge Cury me chamou pra ir pra Rádio Nacional, mas seguia trabalhando só em dia de jogo. Eu continuei com o programa sobre futebol de salão, no banco e fazia os jogos pela Nacional, com Cury e João Saldanha” – relembrou “Velho Apolo”.

Até mesmo quando fez sua estreia à beira do gramado, Apolinho deu a sorte de entrevistar Pelé, maior de todos os tempos. Nem ele próprio chegou a acreditar na possibilidade, mas foi o próprio melhor de todos os tempos que se ofereceu para aquele que rapidamente também se tornaria uma outra estrela.

“Minha estreia foi um jogo entre Fluminense e Santos, em São Januário. Chovia pra “dedéu”. Lá fui eu todo “pimpão” pensando ‘vou trabalhar com Jorge Cury, vou fazer meu nome’. Ele era uma baita de uma estrela. Como estava chovendo, e a agente utilizava os microfones sem fio (BTP), que dava choque, eu estreei com microfone de cabo. Mas eu só podia ir até a linha de lado (do campo), já que o cabo não era tão grande. Peguei o microfone e quando fui chamado, travei. Não falei. Me acalmaram e falei. O time do Santos era Mengálvio, Pepe, Doval, Coutinho e Pelé. Só (risos). Por ser uma rádio carioca, teria que entrevistar o Fluminense, mas o time do Santos era que estava perto de mim por conta do cabo. Aí comecei a chamar Doval, Mengálvio, Pepe, Clodoaldo… Ninguém vinha. O Pelé até estava perto de mim, mas pensei: ‘não vou chamar logo o Pelé, né?’. E eu chamando todo mundo e ninguém queria falar. Até que o Pelé me olhou e perguntou: ‘eu sirvo?’ (risos). Quase chorei” – finalizou.

Por mais que fosse torcedor assumido do Flamengo, Apolinho sempre foi soberano em seus comentários, sendo muito respeitado e aceito por todas as outras torcidas, principalmente as de Botafogo, Fluminense e Vasco, clubes que “sobraram” como maiores rivais do Rubro-negro nos últimos anos.

Até mesmo as passagens como técnico e diretor de futebol do Flamengo não diminuíram a importância da opinião e da presença de Washington Rodrigues nos microfones.

Nos últimos 25 anos, Washington Rodrigues apresentou, na Rádio Tupi, o “Show do Apolinho”, além de exercer a função de comentarista principal nas transmissões esportivas e nos programas “Show da Galera”, “Show do Clóvis Monteiro”, além assinar o quadro “A palinha do Apolinho”, no “Giro Esportivo”.