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Capital Fluminense

Traficantes lucravam R$ 3 milhões por mês extorquindo moradores de conjuntos habitacionais em Senador Camará

Para desarticular este esquema, a Polícia Civil realizou uma operação nas comunidades da região. Essa ação terminou com a prisão de nove criminosos e a apreensão de sete fuzis

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Condomínio Taroni, em Senador Camará, eram um dos conjuntos habitacionais explorados pelos traficantes
Condomínio Taroni, em Senador Camará, eram um dos conjuntos habitacionais explorados pelos traficantes (Foto: Reprodução)

A Polícia Civil realizou, nesta terça-feira (13), uma operação em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio, com o intuito de reprimir a cobrança de serviços ilegais e restrições impostas pelo tráfico de drogas na região. Os agentes atuaram nas comunidades da Coreia, do Rebu e da Vila Aliança, cumprindo mandados de busca e apreensão em endereços ligados à facção criminosa que domina essa região e um de prisão preventiva contra o chefe dessa organização.

A ação resultou nas prisões de nove criminosos, incluindo lideranças como Gleison Luis Barros Ferreira, conhecido como “Tamborzão”, segundo nome forte da facção. Também foram apreendidos sete fuzis, assim outros tipos de armamento, munições, carregadores e drogas. Em entrevista coletiva realizada na Cidade da Polícia, em Benfica, no fim da tarde desta terça-feira, o delegado Felipe Curi, diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), fez um balanço destes resultados 

“A cúpula da facção que atua em Senador Camará foi presa nesta operação. Dos nove, um foi uma recaptura de foragido e os outros foram detidos em flagrante. Eles estavam no interior de uma residência com todo um arsenal, uma farta quantidade de drogas, além de  milhares de munições e carregadores. Ali estava o 02 na hierarquia da facção criminosa. Tinha até o chefe da segurança dessa organização atuante na localidade. Todos agora estão presos”, afirmou Felipe Curi.

Sete fuzis foram apreendidos na operação
Sete fuzis foram apreendidos na operação (Foto: Diogo Sampaio/Super Rádio Tupi)

De acordo com a corporação, a operação em Senador Camará foi fruto de uma investigação iniciada em março deste ano, a partir de denúncias feitas por moradores, de que traficantes tinham destituído síndicos dos condomínios habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, situados na região. Com isso, as pessoas que eram formalmente eleitas em assembleias eram substituídas por criminosos, que atuavam arrecadando taxas extorsivas para liberar o acesso aos serviços públicos mais básicos. 

Segundo o delegado Marcelo Braga, titular da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), o grupo cobrava R$ 1.800 por mês para que os moradores conseguissem ter energia elétrica, água encanada, gás natural residencial e sinal de internet. A estimativa é que o faturamento mensal dos criminosos com este tipo de exploração irregular se aproximasse de R$ 3 milhões.

“O tráfico assumiu de tal forma esse local que os síndicos que eram eleitos pelos moradores foram totalmente destituídos. Os líderes dessa facção indicaram novos síndicos, que faziam o recolhimento de todos esses valores extorquidos. A gente fez uma conta aproximada, baseada nos dados de que eram algo em torno de seis mil pessoas vivendo nesses condomínios, e esses bandidos lucravam cerca de R$ 3 milhões por mês, cobrando dos moradores essa taxa no valor de R$ 1.800”, relatou Marcelo Braga.

Quem não tinha como pagar a taxa, ou se recusava, sofria sanções impostas por parte dos criminosos. As retaliações iam desde ameaças até expulsões da própria casa.

“Muita das vezes os moradores eram proibidos de entrar com carro, de estacionar dentro do condomínio. Outras vezes, eles não poderiam receber amigos, familiares no apartamento. Também tinha episódios em que os próprios moradores eram proibidos de entrar no imóvel e até expulsos. Então, existia sim sanções, diferentes entre si e aplicadas caso a caso. Além disso, esse valor de R$ 1 800 também era conversado. É lógico que um ou outro, dependendo da situação, pagava uma taxa um pouco menor”, pontuou o delegado titular da DDSD.

O diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada Felipe Curi também explicou que esses serviços básicos eram prestados por empresas vinculadas à organização criminosa, que impedia, com extrema violência, o acesso dos funcionários das concessionárias legalizadas. E para manter o esquema funcionando, até mesmo a figura de um gerente dos serviços essenciais foi criada.

“Eles criaram o gerente de serviço, que nada mais era que o criminoso responsável justamente por desfazer essas ligações, que são feitas originariamente pelas concessionárias de serviço público. Eram eles que cortavam a água, o gás, a energia elétrica, a TV a cabo, a internet, e só restabeleciam isso, de forma clandestina, mediante um pagamento de uma taxa condominial do crime organizado”, contou Curi.

“Então, nós temos dois tipos de vítimas deste esquema: os moradores, que são os principais atingidos, pois são extorquidos por esses marginais; e as concessionárias que oferecem e fornecem os serviços. Elas não podem ingressar nessas comunidades sem a presença da polícia. Os serviços são interrompidos pelos criminosos locais, que desfazem as ligações e só refazem mediante um pagamento de uma taxa extorsiva por parte do morador”, completou.

Após a realização da operação, técnicos das concessionárias responsáveis por esses serviços básicos regularizaram a situação na região. O policiamento em Senador Camará foi reforçado e seguirá assim para evitar qualquer episódio de violência nessas localidades.

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