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Pesquisadora da UniRio pretende revolucionar mercado com fragrâncias e aromas de baunilhas brasileiras

Andrea identificou a oportunidade de criar novas composições aromáticas a partir de extratos de uma orquídea encontrada na Mata Atlântica

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Pesquisadora da UniRio pretende revolucionar mercado com fragrâncias e aromas de baunilhas brasileiras (Foto: Divulgação)
Pesquisadora da UniRio pretende revolucionar mercado com fragrâncias e aromas de baunilhas brasileiras (Foto: Divulgação)

Já ouviu falar em Inteligência Sensorial? É a capacidade do ser humano de lidar com seus sentidos e usá-los a seu favor. Ter consciência sensorial, explorar os sentidos e ficar atento a como esses sentidos se conectam são passos extremamente importantes para um futuro promissor. A busca por novidades no campo sensorial fez com que a pesquisadora Andrea Furtado Macedo, professora associada do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), uma apaixonada pelo mundo das plantas, participasse de uma expedição à Mata Atlântica para catalogar e estudar espécies nativas e se deparasse com uma orquídea muito peculiar. Ela descobriu tratar-se de baunilhas e decidiu estudar a descoberta em laboratório, produzindo, a partir de então, fragrâncias e aromas inéditos no mercado nacional.

Assim que topou com a planta que nunca tinha visto antes, Andrea decidiu levar uma amostra para identificação no Herbário do Jardim Botânico, quando descobriu estar diante de baunilhas brasileiras. “Fiquei maravilhada com a descoberta. Comecei a pesquisar e constatei que havia pouquíssimos estudos sobre baunilhas nativas no Brasil. Nenhuma empresa ou grupo de pesquisa havia se debruçado ainda sobre esse tema tão promissor. Foi, então, que encontrei minha verdadeira paixão: desvendar os mistérios das baunilhas brasileiras”, conta a professora da UNIRIO.

Quando Andrea entrou para a universidade, em 2009, já chegou com esse propósito de estudo. Sabia que teria muito trabalho pela frente para equipar um laboratório, treinar sua equipe e, principalmente, obter financiamento. Por isso, iniciou seu projeto abrangendo diversas plantas aromáticas, sempre com as baunilhas em foco. Nos primeiros anos, ela e seus alunos percorreram inúmeras trilhas da Mata Atlântica em busca de novas espécies em muitas expedições em meio à exuberante biodiversidade brasileira. Andrea também contatou parceiros da UNIRIO e de outras instituições que cederam equipamentos e espaço em laboratório para a pesquisa.

Em 2015, Joana Paula da Silva Oliveira, doutoranda em Biodiversidade Neotropical na UNIRIO, com foco em metabolômica e bioinformática de orquídeas da Mata Atlântica, cruzou o caminho de Andrea e elas se tornaram uma dupla inseparável. Joana foi fazer iniciação científica e logo demonstrou habilidades de bioinformática imprescindíveis para o projeto de Andrea. Juntas, professora e aluna desenvolveram um robusto protocolo de análise das moléculas de baunilhas e publicaram diversos estudos que, aos poucos, revelavam os segredos daquelas orquídeas.

O passo seguinte foi registrar uma patente das tecnologias criadas com as baunilhas e tornar a descoberta um produto que pudesse ser usado pelas indústrias de cosméticos e alimentícia. Nessa fase, elas conheceram o biólogo Rodrigo Guerra, especialista em propriedade intelectual e inovação tecnológica. “Foi uma honra receber o convite da Andrea e da Joana para ser o CEO da OmicBlend, temos muito trabalho pela frente, mas vejo como promissora a junção de tecnologia de ponta com o conhecimento que elas desenvolveram ao longo desses anos”, afirma. Rodrigo destaca a visão empreendedora da professora Andrea e da diretora científica Joana.

“Sabíamos que aquelas baunilhas tinham um enorme potencial para gerar novos produtos e tecnologias”, pontua Joana. A sorte parecia estar ao lado das pesquisadoras e elas souberam de uma oportunidade única: um edital da Emerge, empresa especializada em transformar ciência em negócios de impacto, buscava projetos envolvendo biodiversidade e bioeconomia na Mata Atlântica para serem patrocinados. Andrea inscreveu duas propostas, incluindo a da composição aromática das baunilhas.

Com a seleção do projeto, o time da OmicBlend viu uma chance de ouro de fazer o sonho de uma Spin Off (nome dado a uma companhia que foi fundada como uma derivação de outra organização empresarial ou acadêmica) virar realidade. Além dos recursos financeiros fundamentais, a Emerge proporcionou todo o treinamento empresarial que Andrea e Joana precisavam para criar uma empresa. E nascia, assim, a Spin Off da UNIRIO OmicBlend- Inteligência Sensorial LTDA. “Submeti as propostas envolvendo duas linhas de pesquisa com orquídeas que desenvolvi na UNIRIO. Passaram-se várias fases de avaliação bem rigorosas. Para minha alegria, o projeto das baunilhas foi um dos poucos selecionados para receber o investimento, superando centenas de outros concorrentes”, destaca Andrea.

Agora, os sócios esperam entrar no mercado através dos produtos aromatizantes com a fragrância das baunilhas brasileiras encontradas em áreas de Mata Atlântica bem próximas da cidade do Rio de Janeiro. Também aguardam o início do funcionamento da incubadora de startups da UNIRIO para participarem do primeiro edital de seleção de empresas a ser lançado e serem uma das primeiras iniciativas da universidade em trabalhar com esse tipo de empreendimento. Com isso, Andrea e Joana entrarão para o seleto rol de 23% de mulheres que estão à frente do quadro societário das empresas de inovação no Brasil, segundo dados de 2022 divulgados pelo Sebrae no estudo “Startups Reports”.

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