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Patrulhando a Cidade

Uma família destruída em nome da fé, do poder e do dinheiro

Polícia conclui que Flordelis foi a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo: seis filhos e uma neta presos.

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(Foto: Reprodução / Internet)

Adoções, brigas, intrigas, dinheiro e poder. A trama, que parece sinopse de série estrangeira, representa a realidade de uma família que há pouco mais de um ano passou a tomar as páginas e espaços nos noticiários policiais: a família de Flordelis – deputada federal e pastora da igreja evangélica.

Nesta segunda-feira (24) a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro finalizaram as investigações do assassinato do pastor Anderson do Carmo, marido de Flordelis. Para a polícia e o MP, a parlamentar mandou matar o próprio companheiro com auxílio de filhos e netos.

“A investigação demostrou que toda aquela imagem altruísta e de decência era apenas um enredo para alcançar a posição financeira e política. Depois que ela alcançou esse objetivo principal de chegar à Câmara dos Deputados, ela colocou em prática esse plano criminoso intrafamiliar”, disse o delegado Allan Duarte, da Delegacia de Homicídios de Niterói e responsável pelo caso.

(Foto: Diana Rogers / Super Rádio Tupi)

Ao todo, nove pessoas foram presas, na manhã desta segunda-feira (24) acusadas de envolvimento na morte do pastor. Entre os detidos estão cinco filhos do casal, uma neta da deputada e a esposa de um ex-policial militar. No total, 11 pessoas foram denunciadas pelo crime. Flordelis, apesar de acusada de ser a mandante do crime, não pôde ser presa por causa da imunidade parlamentar.

O inquérito conclui que Anderson do Carmo foi morto por questões financeiras. Além dos mandados de prisão, foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão em vários endereços. Entre eles a casa da deputada em Pendotiba, Niterói, na Região Metropolitana, onde o pastor foi executado, e o apartamento funcional dela em Brasília, onde a neta acabou presa.

A parlamentar estava em casa e chorou com a chegada dos policiais. Também recebeu apoio de uma psicóloga. Flordelis vai responder por cinco crimes: homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima); tentativa de homicídio duplamente qualificado; associação criminosa; falsidade ideológica; e uso de documento falso. Segundo a polícia, antes do assassinato a tiros, a pastora tentou matar o marido pelo menos quatro vezes. Uma delas com veneno na comida.

O inquérito concluiu que Anderson foi morto por questões financeiras e poder na família. Era o pastor quem controlava todo o dinheiro do Ministério Flordelis, igreja que ganhou um outro nome: Comunidade Evangélica Cidade do Fogo. Além disso, a família era rachada. Um grupo apoiava Flor e, o outro, Anderson, que até soube da tentativa de envenamento, mas persistia em acreditar e confiar na mulher.

Flordelis já planejava o crime desde 2018, mas sempre declarou, inclusive à imprensa, que acreditava em latrocínio (roubo seguido por morte).

“Temos aí 11 pessoas respondendo criminalmente, levando em conta que a família são 55, nós temos 20% da família envolvida nesse crime”, apontou o delegado Antônio Ricardo Nunes, diretor do Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa.

OPERAÇÃO BATIZADA DE….. LUCAS 12

A Polícia Civil batizou a operação desta segunda como “Lucas 12”. A Bíblia, utilizada pela família para levar a palavra de Deus aos servos, diz no livro Lucas, capítulo 12, versículo 2:

“Nada há encoberto, que se não venha a descobrir; nem oculto, que se não venha a saber”. O texto traz ainda: “‘Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens.’”

Presos na Operação Lucas 12:

– Marzy Teixeira da Silva (filha adotiva): cooptou Lucas para matar o Pastor Anderson e participou dos envenenamentos;

– Simone dos Santos Rodrigues (filha biológica): responsável pelos envenenamentos. Buscou informações sobre uso de veneno na internet;

– André Luiz de Oliveira (filho adotivo): ex-marido de Simone, foi flagrado em conversas com Flordelis combinando o envenenamento;

– Carlos Ubiraci Francisco Silva (filho adotivo): pastor citado por participação no planejamento da morte;

– Adriano dos Santos (filho biológico): auxiliou no episódio da carta falsa;

– Andreia Santos Maia (mulher do ex-policial Marcos): auxiliou no episódio da carta falsa.

– Rayane dos Santos Oliveira (neta): buscou por assassinos para as tentativas anteriores, como Lucas. Estava no apartamento funcional da mãe.

Já estavam presos:

– Flavio dos Santos Rodrigues (filho biológico): apontado como autor dos disparos, já estava preso e teve um mandado de prisão expedido nesta segunda;

– Marcos Siqueira (ex-policial): auxiliou no episódio da carta falsa e já estava preso com mais um mandado de prisão expedido nesta segunda;

O CRIME

Pastor Anderson do Carmo e a esposa, a deputada federal Flordelis (Foto: Reprodução)

O pastor Anderson do Carmo foi executado na noite de 16 de junho de 2019. Foram mais de 30 tiros disparados na garagem da casa onde morava com a família, em Pendotiba, Niterói.

Flávio dos Santos, filho biológico de Flordelis, é apontado como autor dos disparos. Ele foi preso no velório. Lucas dos Santos de Souza acabou detido horas depois do irmão, e é acusado de ter conseguido a arma do crime. A pistola foi encontrada na casa da família. O telefone celular do pastor até hoje não foi encontrado. Flávio e Lucas foram denunciados por homicídio triplamente qualificado, com pena prevista de 12 a 30 anos.

Uma casa cheia de mistérios….

Ao todo são 55 filhos. Alguns do casal, outros apenas de Flordelis, mas a grande maioria eram de adoções. Muitas delas contestadas na Justiça. Seja pela forma como aconteceu e até documentações e registros. Amigos próximos, parentes e colegas de trabalho relatam uma família confusa, não apenas pelo relacionamento entre si, mas também em algumas condutas.

Alguns dos filhos mais próximos à deputada teriam acesso a uma geladeira especial, que ficava no quarto da parlamentar, para uma alimentação diferenciada. Os outros, no entanto, precisavam se alimentar daquilo que era ofertado em comum a todos.

Recentemente foi exposta uma outra realidade do casal: rituais secretos com uso de sangue, nudez e sexo. Tudo foi revelado em depoimento à Polícia Civil por um homem que morou na casa da deputada federal Flordelis dos Santos de Souza (PSD) durante cinco anos, no fim dos anos 90. A testemunha foi ouvida no inquérito que apurou a morte do pastor Anderson.

O homem, que não teve a identidade revelada, afirmou que chegou a manter relações sexuais com a parlamentar. O depoimento foi colhido, no dia 2 de setembro do ano passado, na Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, a mesma que concluiu as investigações nesta segunda-feira (24).

Na história relatada pela testemunha, foi dito que ele conheceu Flordelis em 1995, quando participava de um grupo de orações no Lote Quinze, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Naquela época, o pastor Anderson também já integrava a família. A deputada teria feito um convite para que ele participasse do grupo de orações em sua casa, à época no Rio Comprido, Zona Norte do Rio.

Aos investigadores, o homem contou que precisou fazer um “ritual de purificação” para permanecer na residência da família. Na prática, teria sido obrigado a ficar isolado em um quarto durante sete dias. Tinha também que vestir roupas brancas e comer apenas arroz e legumes. Também era obrigatório rezar e realizar os rituais que eram determinados.

A testemunha relembrou que, em um desses rituais, Flordelis ordenou que alguns filhos cortassem a mão com uma faca e escrevessem os salmos da Bíblia com o próprio sangue.

O depoimento traz ainda que, Alexander Felipe Matos Mendes, conhecido na família como Luan, teria, a mando da mãe, colocado a foto do empresário Pedro Werneck em cima de uma maçã com fitas coloridas e mel. O objetivo era receber uma contribuição financeira de Pedro, que aconteceu.

Em um outro ritual, o homem afirma que o pastor Anderson ficou pelado no centro de um círculo feito a giz. Flordelis teria então iniciado uma espécie de reza oferecendo o marido como oferenda.

Ainda segundo ele, no ano de 2000, quando já namorava a atual esposa, resolveu sair da casa de Flordelis após uma denúncia do que era ocorrido na casa da deputada ser encaminhada à Convenção de Ministros das Assembleias de Deus do estado do Rio. Ele também disse que foi diagnosticado com transtorno de personalidade esquizotípica.

Flordelis nega as acusações.

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