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Ciência

Solitude ou solidão? Neurocientista explica a enorme diferença entre os dois estados de espírito

Segundo o Dr. José Fernandes Vilas, a solitude é uma experiência, a solidão é um estado de espírito

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(Divulgação: Governo do Estado da Bahia)

Há uma diferença enorme entre solitude e solidão. Segundo o neurocientista Dr José Fernandes Vilas, a solitude é uma experiência, a solidão é um estado de espírito. A solitude promove saúde emocional – você escolhe dedicar um tempo a si mesmo, refletir, limpar os pensamentos, meditar. Pode fazer isso enquanto cultiva uma horta, caminha, cozinha ou organiza algo.

“Na solitude, você fica a sós com seus pensamentos e sentimentos. Estar a sós consigo mesmo é uma escolha, e uma ótima escolha quando feita com critério. Já a solidão é outra coisa totalmente diferente. A solidão é um estado emocional. Você não quer estar sozinho, mas forçosamente está. É uma situação que independe de sua vontade, e isso gera uma dor, uma angústia, um sofrimento em graus variados, mas em todos os aspectos gera dano emocional”, reforça.

neurocirurgião Dr José Fernandes Vilas

(Divulgação)

Ainda segundo o doutor, quando a solidão predomina mental e emocionalmente, ocorrem desníveis bioquímicos cujo efeito colateral é o adoecimento físico. “Surgem patologias que requerem atenção profissional. O sofrimento provocado pela solidão resulta em doenças psíquicas e acentua quadros clínicos já existentes. Por exemplo, você sabia que a solidão faz tão mal quanto fumar 15 cigarros por dia, ser sedentário ou ter obesidade mórbida? É o que apontam estudos avançados feitos nos Estados Unidos antes da pandemia do Covid-19. Confinadas, as pessoas vivem um sofrimento potencial, porque é um contexto em que memórias, reflexões, pensamentos, tudo é marinado numa desesperança que deixa o gosto amargo do indefinido. Os raciocínios se distorcem, as interpretações ficam nubladas, e a pessoa cai numa nostalgia que resvala para a depressão. É quando tudo evolui para o surgimento de doenças psicossomáticas”, adianta.

Para o médico, o corpo humano não foi feito para lidar com esse tipo de dor contínua e disforme, que corrói a alegria e o bem estar. “Quando a tristeza é suportada por muito tempo, há um dano psíquico decorrente, estabelecendo-se uma depressão, a qual, por sua vez, se manifesta em comportamentos alterados. A pessoa vai da euforia, exagero, alteração de voz, explosões de raiva, agressões por palavras ou físicas, até o silêncio, a ausência, o isolamento dentro de casa. Um estudo feito por uma universidade paulista descreve que esse contexto social agora cerceado fomenta atitudes nocivas”, continua.

Dados divulgados na mídia apontam que houve um aumento de consumo diário de cigarro em 34%, seguindo-se a ingestão de bebidas alcoólicas em 17,6%. São números alarmantes que denotam uma atitude debilitada das pessoas em isolamento. “Estando em lockdown, era de supor que houvesse mais dedicação à atividade física ou convívio familiar, mas o mesmo estudo descreve que a prática de exercícios caiu de 30,4% para 12,6% no mês de novembro deste ano, enquanto que o consumo de tempo diante de eletrônicos aumentou em mais de 1,5 hora. Longe de acabar, o contexto social da pandemia faz despontar a urgência aumentada de busca especializada inclusive para adolescentes e até crianças, grupo que agora é exposto ao conflito cotidiano e violência nas famílias, insegurança sobre itens básicos como alimentação e moradia (65,1% das pessoas pesquisadas no estudo tiveram sua renda reduzida, entrando em níveis elevados de ansiedade), e também alterações nos horários e ciclos do sono e alimentação, afastamento social saudável, lazer”, adianta.

O mesmo estudo lembra que a mulher tem duas vezes mais propensão à depressão, inclusive por desníveis hormonais resultantes de esgotamento por ansiedade.

Vale destacar o aumento da violência contra a mulher durante a pandemia. Segundo a Agência Brasil, o aumento foi de 22% em junho deste ano, sendo que o feminicídio chegou ao aumento absurdo de 300% no Acre.

Como frear essa onda de efeitos colaterais do confinamento? Transformando solidão em solitude.

“Mesmo para quem mora sozinho, é possível aumentar a criatividade, descobrir caminhos que vão além da tecnologia, embora ela seja usada como ponte. O alvo é a convivência sadia, ainda que à distância. Alongar-se, respirar fundo, revisar pensamentos. Ler, escrever, visualizar o amanhã. Gerar fontes de renda ainda que provisórias e desconvencionais, enquanto se busca recolocação profissional. A solidão cimenta o estado de tristeza, frustração e desesperança, reduzido à imunidade e contribuindo para que o quadro clínico entre em risco”, finaliza.

Doutor José diz ainda que uma postura mental depressiva abre portas para ocorrências psicossomáticas e até fatais, como hipertensão, AVC (acidente vascular cerebral), diabetes, Alzheimer, distúrbios do sono, fobias (inclusive por ter que lavar as mãos o tempo todo), crises de ansiedade, por causa do receio do futuro ou da condição financeira, dentre outros fatores.

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