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Tecnologia

Como o ChatGPT pode impactar o mundo do trabalho

Especialista em carreiras da Universidade Veiga de Almeida lista quatro efeitos adversos da nova ferramenta de inteligência artificial no perfil profissional

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Criado pelo Instituto de Pesquisa OpenAI, o ChatGPT vem se tornando uma febre na internet. Trata-se de uma inteligência algorítmica capaz de produzir textos a partir de determinadas entradas indicadas pelo usuário. Para além de uma pesquisa comum em sites de busca, essa ferramenta de inteligência artificial não apenas disponibiliza um compilado de informações disponíveis na rede, mas também apresenta o conteúdo em uma linguagem que se aproxima da comunicação natural humana.

“Além da produção de artigos científicos, o ChatGPT pode gerar produtos como textos jornalísticos, documentos jurídicos, composições musicais, peças de marketing, (co)autoria de livros, relatórios e outros. Com uma vasta possibilidade de aplicação no mercado de trabalho, esta ferramenta tende a gerar alguns efeitos adversos no perfil dos profissionais”, explica Wagner Salles, professor de Gestão de Recursos Humanos e Administração da Universidade Veiga de Almeida (UVA).

Segundo especialista em carreiras, a nova tecnologia traz vantagens, mas também impactos significativos no perfil profissional que nem sempre serão favoráveis. “A questão que se levanta é saber qual o limite entre o autodesenvolvimento e o autossabotamento a partir do uso de uma inteligência artificial, e que caminhos as empresas trilharão para lidar com esse novo cenário”, diz o professor da UVA.

Confira quatro efeitos adversos que poderão surgir nos próximos anos com a intensificação do uso do ChatGPT:

1 – Inabilidade de comunicação

“Da mesma forma que o ábaco e a calculadora acabaram gerando uma certa dormência na habilidade de cálculo ao longo do tempo, o ChatGPT pode gerar o mesmo efeito na habilidade da escrita. É evidente o ganho em termos de otimização de tempo, mas, em uma época em que a linguagem já é usada de forma muito reducionista na internet, o uso da IA para gerar conteúdos textuais pode promover um efeito muito negativo na capacidade dos profissionais de se comunicarem de forma escrita. E esse efeito desencadeia, ainda, problemas na comunicação verbal, uma vez que a prática da escrita ajuda a concatenar ideias, formular argumentos e explorar diferentes estilos de linguagem. Desenvolvendo menos a escrita, os problemas de comunicação no ambiente de trabalho podem se intensificar e as empresas podem enfrentar um cenário bem desafiador na necessidade de qualificação complementar neste quesito”.

2 – Falta de análise crítica

“A produção de respostas a perguntas ou a reescrita de textos originais são baseadas na comparação de informações que já estão disponíveis em diversas fontes, servindo, assim, como base para que a IA produza um novo texto. Com isso, surge o desafio de avaliar a fidedignidade das informações que a IA usa para gerar o seu resultado. Um produto textual natural é fruto de pesquisas que o profissional executa em fontes nas quais ele confia a fim de alcançar o objetivo em sua atividade de trabalho. Já o produto da IA, por mais consistente que pareça, carece de confirmação do que é fato ou não nas fontes usadas pelo algoritmo. A confiança imoderada naquilo que o ChatGPT apresenta como resultado pode inibir a capacidade analítica crítica de diversas atuações no mercado profissional, gerando impactos significativos na tomada de decisão”.

3 – Inibição da criatividade

“Na mesma linha do quesito anterior, o ChatGPT gera um produto textual inédito, mas não gera conhecimento novo. Isso significa que o uso recorrente da ferramenta no mercado profissional pode gerar um efeito de looping de informações que são reproduzidas entre os agentes profissionais, nos mais variados setores, sem qualquer avanço que leve as práticas profissionais a novos patamares de melhoria. Com isso, a capacidade de criar soluções e adaptar métodos tende a ficar em segundo plano. A criatividade é inibida, já que, em nome da otimização de tempo e automatização das rotinas, a síntese passa a ter mais valor do que a inovação, no sentido lato do termo. Se considerarmos o ambiente de formação profissional neste raciocínio, como o caso das universidades, esse problema se agrava, já que o uso do ChatGPT pode substituir justamente a principal capacidade de um aluno, que é a promoção do conhecimento e geração de soluções. Já há, inclusive, discussões sobre a produção de textos científicos escritos pela IA”.

4 – Condutas antiéticas

“De quem é o direito sobre um texto escrito por uma IA? Se este texto é usado para angariar vantagens por um profissional em seu trabalho, ainda que o respectivo produto não tenha sido fruto de seu próprio conhecimento, isso seria um mérito? Se eu usar informações de outro profissional e gerar um novo produto textual por meio da IA – sem qualquer intervenção minha e obtendo vantagens como um reconhecimento, uma promoção ou ganho financeiro – ainda seria ético? Estas e outras questões vão emergir cada vez mais rápido no cotidiano das empresas. Até que se tenha uma regulação legal sobre os direitos de produção profissional gerados com o uso de uma IA, e como avaliar os benefícios lícitos a partir de seu uso, só poderemos contar com a ética. E já é sabido que a conduta ética nas organizações é um tema bastante desafiador”.

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