As gorilas-da-montanha, espécie que tem o nome científico Gorilla beringei beringei, acabam de se juntar a um grupo raro de espécies que apresentam menopausa, uma condição até pouco tempo considerada exclusiva dos seres humanos.
A descoberta foi feita por pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionista, na Alemanha, e publicada recentemente na revista científica PNAS.
Crédito: Alexa por PixabayO estudo foi conduzido pelos cientistas Nikolaos Smit e Martha Robbins, que analisaram décadas de observações sobre a população desses primatas no Parque Nacional Impenetrável de Bwindi, em Uganda, no centro-leste da África.
Crédito: Josefito123/Wikimedia CommonsNesse ambiente isolado, os pesquisadores acompanharam 25 fêmeas adultas de gorilas e constataram que sete delas viveram ao menos uma década após o fim do período reprodutivo.
Crédito: Reprodução do Flickr Alan H BowkerDuas chegaram perto dos 50 anos, idade que raramente é alcançada por gorilas em ambiente natural.
Crédito: Reprodução do Flickr Geoffrey DegensDe acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo, para definir o chamado “tempo de vida pós-reprodutivo” os cientistas levaram em conta o intervalo médio entre os nascimentos dos filhotes, que varia de quatro a seis anos.
Crédito: Reprodução do Flickr pd63's picsQuando uma fêmea passava o dobro desse tempo sem ter novas crias, e também sem registrar atividade com parceiros, ela era considerada em fase pós-reprodutiva.
Crédito: Charles J. Sharp/Wikimédia CommonsA maioria dessas fêmeas tinha mais de 35 anos, limite máximo já observado para partos na natureza, e não havia tido relações por mais de sete anos e meio. Segundo as estimativas, elas passam cerca de 10% da vida adulta - iniciada aos dez anos - nesse estágio, um percentual semelhante ao da menopausa humana.
Crédito: Azurfrog/Wikimédia CommonsOs cientistas ainda não afirmam com certeza que o fenômeno seja idêntico ao que ocorre em mulheres, já que a ausência de novas crias poderia ser explicada por abortos espontâneos ou complicações gestacionais em idades avançadas.
Crédito: Thomas Fuhrmann/Wikimédia CommonsMesmo assim, análises hormonais de fêmeas mais velhas revelaram alterações semelhantes às registradas em humanos durante a menopausa, sugerindo que o fenômeno pode realmente estar presente entre as gorilas-da-montanha.
Crédito: Charles J. Sharp /Wikimédia CommonsCaso os resultados se confirmem, as gorilas de Bwindi se juntarão a um grupo bastante restrito de mamíferos com essa característica.
Crédito: Charles J. Sharp /Wikimédia CommonsAté hoje, o fenômeno só foi documentado em algumas espécies de cetáceos com dentes — como orcas, belugas e narvais — e em chimpanzés de uma população de Ngogo, também em Uganda.
Crédito: Divulgação Luis Aguillar CetalabA presença da menopausa em animais levanta uma questão fascinante: por que a evolução conservaria um traço que, à primeira vista, parece reduzir as chances de reprodução?
Crédito: Kurt Ackermann /Wikimédia CommonsSob a ótica da seleção natural, formulada por Charles Darwin no século 19, deixar de se reproduzir durante parte da vida adulta pareceria desvantajoso.
Crédito: Wikilmages PixabayMenos descendentes significam menos oportunidades de transmitir genes adiante. No entanto, há outra forma de garantir o sucesso evolutivo: em vez de ter muitos filhotes, uma fêmea pode investir mais energia e tempo nos cuidados com poucos deles, aumentando a probabilidade de que sobrevivam e também se reproduzam.
Crédito: Imagem de Arek Socha por PixabayÉ dessa lógica que surge a chamada “hipótese da avó”. Segundo ela, após deixar de gerar novos descendentes, uma fêmea passa a direcionar seus esforços ao cuidado com os netos - o que, indiretamente, mantém viva sua herança genética. Essa teoria ajuda a explicar a menopausa em espécies com estruturas familiares complexas, como humanos e orcas.
Crédito: Reprodução do Flickr smthpalNo caso das gorilas-da-montanha, porém, a explicação pode ser outra. Como as fêmeas frequentemente mudam de grupo ao longo da vida, muitas vezes não permanecem próximas dos próprios descendentes para cuidar dos netos — o que enfraquece a hipótese da avó.
Crédito: Reprodução do Flickr pd63's picsPor isso, os pesquisadores sugerem uma alternativa: a “hipótese da mãe”. Segundo essa ideia, o período pós-reprodutivo serviria para permitir que as fêmeas terminem de criar seus filhotes mais velhos, oferecendo suporte e proteção enquanto eles amadurecem, além de contribuir para a estabilidade social dos grupos.
Crédito: Reprodução do Flickr Alan H BowkerAinda serão necessários mais estudos de longo prazo para confirmar essa hipótese, mas o trabalho de Smit e Robbins abre uma nova janela para compreender como a evolução moldou os ciclos de vida dos grandes símios — e, por extensão, da própria espécie humana.
Crédito: Reprodução do Flickr Takashi MuramatsuEm meio às florestas densas de Uganda, as gorilas-da-montanha podem estar revelando um elo surpreendente entre nós e nossos parentes mais próximos.
Crédito: Imagem de 서 은성 por Pixabay