Instituto do Patrimônio manda igreja restaurar imagem de santa após ‘harmonização facial’

Uma imagem de Nossa Senhora das Dores, abrigada na paróquia de Pirenópolis, em Goiás, deu o que falar depois que os fiéis perceberam uma alteração na fisionomia da escultura. Eles reclamaram que teria havido uma "harmonização" - equivalente ao que as pessoas fazem para melhorar o semblante.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) enviou técnicos para averiguar o caso, já que a imagem (bem como a igreja) é tombada e não houve autorização para qualquer alteração na peça.

A santa fica exposta na igreja matriz Nossa Senhora do Rosário, no centro histórico de Pirenópolis, cidade com pouco mais de 25 mil habitantes, segundo dados do IBGE.

A Diocese de Anápolis, que administra as igrejas de Pirenópolis, deu acesso para perícia na imagem da santa e as devidas avaliações técnicas.

“Enviamos um ofício ao padre da paróquia e ao bispo para eles explicarem os fatos. A gente já viu pelas fotografias que realmente houve um dano”, declarou a chefe substituta do escritório do Iphan, em entrevista à TV Anhanguera, afiliada da Globo na região.

O Iphan concluiu que as intervenções que deram o aspecto de “harmonização facial” à imagem de Nossa Senhora das Dores são reversíveis.

O instituto recomendou uma nova restauração, com mais critério, para recuperar as características originais da imagem.

“A diocese reafirma seu fiel compromisso com a preservação do patrimônio histórico, artístico e religiosa, consciente de sua importância cultural e espiritual para as comunidades locais e para toda a sociedade”, declarou em comunicado a Diocese de Anápolis

A imagem de Nossa Senhora das Dores data do século 18 e tem como principal marca a expressão desolada, de imensa tristeza.

Entre as descaracterizações notadas pelos fiéis após a restauração está um tom avermelhado nas bochechas, que não estava presente anteriormente.

Além disso, as lágrimas no rosto da santa eram mais fortes, escuras, e as sobrancelhas tinham uma curvatura maior, representando o sofrimento de Nossa Senhora ao testemunhar o corpo de Jesus Cristo, seu filho, após a sua crucificação.

As mãos da santa também mudaram de tom após a intervenção, ficando mais claras após a intervenção.

Os fiéis ficaram incomodados ao notar tons de maquiagem na santa, com as lágrimas e expressões atenuadas, e denunciaram as alterações ao Iphan.

Nas redes sociais, pessoas também expressaram sua perplexidade com as diferenças entre a imagem antes e depois da reforma.

“Ela foi trocada, não? Levaram a original e deixaram uma falsa”, declarou um internauta. “De quem foi a responsabilidade de entregar a Nossa Senhora para restaurar? Quem foi o responsável por isso?”, perguntou outra.