Eliminatórias para a Copa do Mundo
Foguetes e tensão: relembre Brasil x Chile caótico no Maracanã, em 1989
'Caso Rojas' mudou a história do futebol após incidente pelas Eliminatórias
O confronto entre Brasil e Chile, disputado no Maracanã em 3 de setembro de 1989, ficou marcado como um dos episódios mais polêmicos da história do futebol sul-americano. O jogo definia vaga para a Copa do Mundo de 1990, mas acabou sendo lembrado pelo escândalo que ficou conhecido como o “Caso Rojas”.
A Seleção Brasileira precisava apenas de um empate para garantir a classificação, enquanto os chilenos jogavam a vida no torneio. O que parecia ser uma partida decisiva terminou com acontecimentos que chocaram o mundo do futebol e tiveram consequências históricas para a equipe chilena.
O que aconteceu em Brasil x Chile em 1989?
O contexto do jogo leva à primeira partida, realizada em Santiago, no dia 13 de agosto. Na altura, o clima era de guerra para os brasileiros, que chegaram à capital chilena sob hostilidades. A delegação da Seleção foi alvo de pedradas na chegada ao Estádio Nacional, antes da partida, mas mesmo no desembarque, vindos do Rio de Janeiro, os jogadores ficaram ameaçados de agressão.
“A gente passou dias muito preocupados com o que iria acontecer. Pois realmente foi um negócio muito pesado. Desde o início, lá em Santiago, quando as pessoas jogaram um monte de coisa em cima da gente na hora de entrarmos. Eu lembro que tinha um policial do nosso lado e ele foi atingido na cabeça, caiu na hora, com o capacete e tudo e desmaiou ali. Então, era uma situação de guerra mesmo”, lembra o ex-zagueiro Mauro Galvão, à Super Rádio Tupi.
Em campo, antes mesmo da bola rolar, Romário discutiu com dois jogadores chilenos, dando o tom tenso do jogo, que tinha estádio lotado. O Baixinho acabou expulso, por agredir um deles, ainda nos primeiros minutos. Mas, pouco depois, o chileno Ormeño também viu o cartão vermelho, após entrada criminosa em Branco.
No segundo tempo, o Brasil conseguiu fazer 1 a 0 após linda jogada de Bebeto, que culminou num bizarro gol contra de González. Mas o mais inusitado ocorreu depois. Aos 38 minutos, o árbitro Jesús Díaz Palacios marcou sobrepasso do goleiro Taffarel. Era uma regra que previa que o goleiro não podia dar mais que três passos, dentro da área, enquanto segurava a bola. Esta regra acabaria abolida, anos depois. O lance gerou um tiro indireto, batido rapidamente pelo Chile, sem tempo de reação para a defesa brasileira, e gerando o gol de empate.
A decisão no Maracanã
Três semanas depois, Brasil e Chile se encaravam de novo, mas agora no Maracanã. O clima de tensão era o mesmo, afinal o Brasil não podia perder o jogo. Se assim fosse, ficaria fora da Copa do Mundo pela primeira vez na História. O empate, por outro lado, garantia a classificação, mas as lembranças da derrota na Copa do Mundo de 1950 faziam qualquer ‘salto alto’ ser reprimido.
Naquele domingo, 3 de setembro, 145 mil pessoas foram ao Maracanã. O Brasil jogou melhor do que o Chile, criando mais chances no primeiro tempo, mas o empate se mantinha e o jogo era tenso. Veio o segundo tempo e, enfim, a Seleção saiu na frente, com gol de Careca. A classificação estava perto, mas um lance dramático ocorreria em seguida.
Por volta dos 25 minutos, o goleiro chileno Roberto Rojas caiu no gramado, alegando ter sido atingido por um rojão lançado da arquibancada. A seleção chilena deixou o campo em protesto, alegando falta de segurança e tentando anular a partida. De fato, o jogo acabou suspenso e passou a existir a dúvida sobre uma possível punição ao Brasil e consequente eliminação da Copa do Mundo.
Qual foi a consequência do “Caso Rojas”?
Mas as primeiras inconsistências na versão dos chilenos começaram a aparecer em algumas horas. Primeiramente, o sangue na testa de Rojas sugeria um corte, não uma queimadura, como deveria ser diante do impacto do foguete lançado da arquibancada. De fato, a investigação da Fifa revelou que o goleiro Rojas simulou o ferimento, utilizando uma lâmina escondida em sua luva para se cortar e dar veracidade ao golpe.
Além disso, a foto de Jorge William, fotógrafo do jornal ‘O Globo’, provou que o foguete não caíra sobre Rojas, mas sim a cerca de um metro do chileno. Embora levada sob custódia num primeiro momento, a jovem que disparou o sinalizador, Rosenery Mello, acabou liberada em seguida. Então secretária da Light, ela ganhou popularmente o apelido de ‘Fogueteira’ e chegou a posar para revistas masculinas. Rosenery morreu em 2011, aos 45 anos.
Quanto ao futebol, o episódio resultou em duras punições à seleção chilena:
- Rojas foi banido do futebol profissional, mas perdoado pela Fifa em 2001.
- O Chile foi eliminado e ainda acabou suspenso para as Eliminatórias da Copa de 1994.
- O caso ficou registrado como uma das maiores tentativas de fraude no esporte.
Quem foram os destaques do Brasil no jogo?
Apesar da polêmica, alguns nomes do Brasil tiveram boas atuações naquela noite, no Maracanã:
- Careca, autor do gol da vitória.
- Bebeto, que deu trabalho à defesa chilena.
- A defesa sólida liderada por Ricardo Gomes.
Por que o jogo Brasil x Chile no Maracanã entrou para a história?
O episódio extrapolou o resultado esportivo. O Brasil carimbou sua vaga na Copa do Mundo de 1990 na Itália, mas o jogo ficou marcado mundialmente pelo escândalo da farsa de Rojas. Até hoje, é lembrado como um dos momentos mais polêmicos das Eliminatórias.
“Do jeito que aconteceu, era difícil a gente ter certeza de alguma coisa. Pois, realmente, o que a seleção chilena fez foi um negócio bem estranho, uma coisa armada. Uma má intenção muito grande de tentar envolver a todos. Mas ainda bem que tinha o fotógrafo que estava dentro do campo e conseguiu pegar todos os movimentos do Rojas. Aquilo ali foi super importante, pois houve depois o processo e também a situação no foguete e até hoje eu não sei como é que acabou aquilo, Fiquei sabendo depois que a pessoa que tinha usado aquele foguete acabou falecendo. Você vê que o negócio é bem macabro”, completou Mauro Galvão..