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Ex-promessa que foi chamada de “novo Kaká” deixou o futebol aos 27; entenda
Campeão mundial sub-15 pelo Tricolor e dono de uma multa milionária, ex-meia troca os gramados por escolinha, corrida e várzea em Guariba
O peso de ser considerado uma grande promessa foi sentido na pele por Mirrai Leme Vieira. O meia-atacante era um dos jogadores mais badalados da “geração 94” do São Paulo, que tinha nomes como Rodrigo Caio, João Schmidt, Lucas Evangelista e Lucas Piazon.
Em 2009, o jovem Mirray — com “y”, grafia adotada logo nos primeiros passos da carreira — brilhou no título mundial sub-15 do Tricolor, disputado em Old Trafford, estádio do Manchester United. O São Paulo venceu o Werder Bremen por 3 a 1, com dois gols dele na final. As atuações renderam um contrato milionário, direito a luvas que permitiram comprar a casa própria para os pais e uma expectativa enorme: a de ser o “novo Kaká” no Morumbi. À época, a multa para tirá-lo do clube era de 30 milhões de euros (cerca de R$ 84 milhões).
“Ser comparado ao Kaká não é para qualquer um, tem um valor. Mas você carrega uma pressão muito alta, a pressão de um Kaká, que era o nosso melhor jogador do mundo. Até hoje a semelhança ainda é comentada, mas na época não atrapalhou, era até gostoso de ouvir. Eu tinha uma família que me ajudou bastante, a gente soube lidar”, contou Mirray ao ge.
Sem conseguir espaço no time profissional, o meia foi emprestado a Nacional-SP e São Bento até o fim do contrato com o São Paulo, em 2016. A partir daí, viveu o outro lado do futebol: clubes menores, estrutura precária, atrasos salariais e instabilidade. Passou por Vila Nova, Comercial-SP, Luverdense, URT, Goytacaz e Gama antes de decidir pendurar as chuteiras aos 27 anos.
“É um choque de realidade muito grande sair de um clube tão grande e depois descer para outro sem a mesma estrutura. Isso pesa em tudo: alimentação, cuidado com o atleta. Precisa ter muita fé e vontade para continuar”, recorda.
Hoje, aos 31 anos, Mirray vive em Guariba, cidade do interior de São Paulo, a cerca de 450 km da capital. Longe dos gramados profissionais há quatro anos, ele é dono de uma escolinha de futsal, criou um grupo voluntário de corrida — o Pace que Salva — e disputa torneios amadores de várzea na região de Ribeirão Preto e no Paraná.
“Voltei para minha cidade, e hoje estou muito feliz nessa nova fase. Tenho minha família por perto e sigo fazendo o que amo, de outra forma”, conclui o ex-meia, que trocou o sonho europeu pela tranquilidade do interior, mas não perdeu o amor pelo futebol.