Brasil
Previsão de rombo recorde expõe crise financeira nos Correios
Apenas no primeiro semestre deste ano, o saldo já ficou negativo em quase 4,4 bilhões
Os Correios acumulam prejuízos crescentes desde 2022. Segundo estimativas, o rombo neste ano deve alcançar 10 bilhões de reais. Apenas no primeiro semestre deste ano, o saldo já ficou negativo em quase 4,4 bilhões, enquanto no mesmo período do ano passado, o déficit foi de 1,3 bilhão.
Em outubro, os Correios aderiram medidas que integram a primeira fase do plano de reestruturação financeira e operacional. A empresa negocia com bancos o empréstimo de 20 bilhões de reais, com garantia do Tesouro Nacional, para custear as operações e equilibrar financeiramente a instituição no biênio 2025-2026, e gerar lucro a partir de 2027.
Conversamos com Gilberto Braga, economista e professor do Ibmec, que explicou o que justifica o aumento na projeção do déficit de estatais federais.
“Os Correios já vêm trabalhando com déficit no vermelho, portanto, o aspecto é na perda generalizada de eficiência que a gente observa na companhia. Então, a falta de resultados limita a capacidade de reinvestimentos e de recuperação da empresa, então, ela precisa se reestruturar”.
Agora Gilberto, como os Correios, que eram detentores de mais de 50% do mercado, tem agora só um quarto? O que pode explicar esse aumento na projeção do déficit de estatais federais, sobretudo dos Correios?
“Com a pandemia, houve um crescimento do comércio eletrônico e o grande produto dos Correios, apesar dele ser forte na entrega de mercadorias, mas o carro-chefe era correspondência. A digitalização, de uma certa maneira, que é um fenômeno dos últimos anos, diminuiu a quantidade de impressos, ou seja, de cartas convencionais”.
O ministro interino da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que o resultado primário da estatal é “muito ruim” e causa “impacto negativo” nas contas do governo. O que deve ser feito para reduzir os impactos do déficit?
“A gente precisa reestruturar duas questões. Uma de curto prazo, que é um empréstimo que já está sendo negociado e que é um empréstimo relativamente importante e perigoso, porque é uma vó ao público. Então, se o Correio não pagar, se os Correios não pagarem o empréstimo, quem vai pagar é o contribuinte”.
E existe uma chance de recuperação da companhia? Ou a privatização seria a solução?
“O que a gente observa é que o Correio vem encolhendo e a iniciativa privada, a cada momento, vem aumentando a sua fatia nesse mercado. Então, ou os Correios precisam de uma injeção de recursos e uma reestruturação de eficiência e eficácia para brigar, ou eles vão continuar perdendo o mercado. Dentro desse cenário, não é descartada a possibilidade de privatização com controle por agência reguladora”.
Os Correios estão presentes em todos os 5.568 municípios do Brasil, além do Distrito Federal e de Fernando de Noronha.
Entre as medidas de reestruturação anunciadas neste ano, estão o corte de despesas operacionais e administrativas, a busca pela diversificação de receitas e a recuperação da liquidez da empresa.