Rio
Diretora do Cefet vivia ambiente hostil e considerou sair antes de ser assassinada
Família afirma que Allane Pedrotti sofria ameaças e trabalhava sob clima hostil no Cefet.
A diretora Allane de Souza Pedrotti, assassinada na última sexta-feira (28) dentro do Cefet do Maracanã, havia cogitado pedir exoneração devido às constantes ameaças que sofria do funcionário João Antônio. A família afirmou que ela trabalhava em ambiente hostil e que já demonstrava medo do agressor.
O crime ocorreu quando João Antônio entrou armado na instituição, matou Allane e a psicóloga Layse Costa Pinheiro e, em seguida, tirou a própria vida. A irmã da diretora, Alline Pedrotti, contou ao DIA que viajou ao Rio após passar mal ao receber a notícia.
O que a família relatou sobre o clima no trabalho?
Alline afirmou que a irmã se sentia ameaçada desde o ano anterior e que outras funcionárias também tinham medo do colega. Segundo ela, algumas mulheres chegaram a ir embora ao saber que ele estava no local. A diretora havia trabalhado por longos períodos em home office para se afastar do agressor, que chegou a mover um processo contra ela e perdeu dias antes do ataque.
A irmã relatou que Allane se queixava da falta de suporte do Cefet e do clima hostil em relação às mulheres na instituição. Ela afirmou que a diretora pensou em pedir exoneração diante das ameaças e da ausência de medidas administrativas eficazes.

O que a família pretende cobrar?
Alline disse querer respostas sobre como o agressor entrou armado no Cefet e quais processos médicos e administrativos permitiram seu retorno ao trabalho. Ela busca reunião com a direção e apoio jurídico para acompanhar as investigações.
A Delegacia de Homicídios investiga o caso. O Cefet foi procurado, mas não respondeu até a publicação da reportagem.
Como o medo afetou a rotina pessoal de Allane?
A irmã relatou que a diretora havia pedido, no ano passado, que ela cuidasse da filha caso algo acontecesse. Allane era mãe de uma menina de 13 anos, que, segundo Alline, está profundamente abalada com a perda.
A família tenta oferecer apoio emocional à adolescente, que mantinha relação muito próxima com a mãe. Alline disse estar se mantendo firme para acolher a sobrinha e relatou que as duas tinham forte vínculo.
Qual era a trajetória de Allane no Cefet?
Allane era chefe da Divisão de Acompanhamento e Desenvolvimento de Ensino (Diace), com atuação na coordenação pedagógica ligada à Direção de Ensino. Doutora em Letras, tinha passagens acadêmicas pela PUC-Rio, UFRJ, UFF e pela Universidade de Copenhague.
Segundo Alline, ex-alunos e alunos enviaram diversas mensagens relatando que a diretora havia ajudado e acolhido estudantes ao longo dos anos.

Qual era a ligação de Allane com o samba?
Além do trabalho na educação, Allane era cantora e frequentadora de rodas de samba no Renascença Clube. A irmã disse que a música ajudou a tirá-la de uma depressão e que ela estava focada na carreira artística, dividindo a rotina entre o Cefet e apresentações.