Rio
Dossiê da Mulher revela que mais de 150 mil vítimas sofreram violência no estado do Rio
Especialistas apontam aumento expressivo de ataques virtuais e a importância de denunciar para garantir proteção
O Dossiê da Mulher, em sua edição de 20 anos, revelou um cenário alarmante no estado do Rio de Janeiro. Em 2024, mais de 154 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência. O dado mais preocupante é o avanço da violência psicológica, que já representa 36% de todos os casos, totalizando 56 mil mulheres vítimas desse tipo de trauma.
Crescimento e Perfil da Violência
A violência psicológica se destaca como uma das formas mais frequentes e menos visíveis de agressão contra a mulher no Brasil.
- Diferente das marcas físicas, ela atua silenciosamente, corroendo a autoestima, isolando a vítima e criando um ambiente de controle e medo.
- São 18 mulheres agredidas por hora no estado do Rio de Janeiro.
- A violência psicológica é a preponderante entre os tipos de violência.
- A diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública, Márcia Ortiz, destacou que esse padrão tem sido observado principalmente após a pandemia, que acelerou o uso da internet. A violência psicológica é “principalmente realizada pela internet“.
- Em 10 anos, houve um aumento de 5.000% nos registros de mulheres que vêm sendo assediadas, ameaçadas e utilizadas pelas redes sociais e internet.
O Impacto Psicológico e o Ciclo da Agressão
A psicanalista Cláudia Lopes explicou que essas agressões silenciosas e persistentes produzem efeitos muito profundos na vida emocional das mulheres.
“Na psicanálise, nós compreendemos que ataques repetidos corroem a autoestima, destroem a autoimagem, invadem espaços internos onde cada uma constrói o seu valor e a sua identidade. Quando a violência se torna constante, a mulher passa a se vigiar, a duvidar de si, a acreditar que talvez ela mereça tudo aquilo mesmo”.
Raramente, a violência psicológica começa com agressão física. Muitas vezes, se mistura com momentos de afeto, cuidados e promessas de mudança. A mulher entra em um ciclo emocional de tensão, agressão e uma fase de aparente reconciliação, ficando presa na crença de que os bons momentos podem voltar.
A Violência no Ambiente Familiar e Feminicídio
A violência dentro de casa também é um dado alarmante:
- Metade dos casos de agressão acontece no ambiente familiar.
- 67% dos agressores são conhecidos, sendo companheiros ou ex-companheiros.
Em relação ao feminicídio, o estado contabilizou 107 mulheres mortas em razão de gênero no último ano.
- Quase dois terços dos crimes aconteceram dentro de casa.
- A maioria das vítimas era negra, tinha entre 30 e 59 anos e metade já havia sofrido algum tipo de violência antes, mas não chegou a registrar queixa na delegacia.
A secretária estadual da Mulher, Heloísa Aguiar, alerta que não existe um perfil de vítima.
“A gente tem essa ilusão, num primeiro momento, de que existe o perfil mais vulnerável. Todas nós estamos aptas a passar por isso“.
O que Fazer em Caso de Violência
Se você sofre qualquer forma de violência – seja abuso, ameaça, agressão, perseguição, inclusive a digital – você não está sozinha.
- Não ignore sinais de ameaça: “O primeiro passo é não ignorar sinais de ameaça, mesmo agressões verbais e chantagens são crimes e devem ser registrados”.
- Medidas Protetivas: As medidas protetivas são uma forte aliada, contando com a fiscalização da Patrulha Maria da Penha e das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs).
- A Major Bianca Ferreira, coordenadora do programa Patrulha Maria da Penha – Guardiões da Vida, afirmou que o programa visa fiscalizar, acompanhar, monitorar e, acima de tudo, dar segurança para essa mulher.
- Canais de Denúncia e Ajuda:
- A mulher pode procurar qualquer delegacia.
- Em risco imediato, deve ligar para o 190, pedir ajuda e orientar que há ameaça de feminicídio.
- É possível registrar denúncias e pedir orientação no Ligue 180, canal nacional de atendimento à mulher.
Se você sofre violência, não está sozinha.