Brasil
Quem será a próxima vítima? Brasil registra recorde de feminicídios
Casos seguem crescendo, com média de quatro vítimas por dia, e são majoritariamente praticados por companheiros ou ex-companheiros
O Brasil registrou em 2024 o maior número de feminicídios da série histórica, com 1.492 mulheres assassinadas, segundo dados divulgados recentemente. A média foi de quatro vítimas por dia, em ocorrências majoritariamente praticadas por companheiros e ex-companheiros. O cenário ocorre mesmo após o endurecimento das penas, que desde o ano passado podem chegar a 40 anos de prisão.
Manifestações em ao menos 20 estados e no Distrito Federal reuniram grupos de mulheres na manhã deste domingo (7) para denunciar o avanço da violência. Os atos foram convocados pelo Levante Mulheres Vivas, que afirma buscar visibilidade para o crescimento dos feminicídios em diferentes regiões do país. Segundo a organização, o Brasil ultrapassou a marca de mil casos apenas em 2025.
Entre os episódios recentes que motivaram os protestos está a morte da cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, de 25 anos, na sexta-feira (5). Ela foi esfaqueada por um soldado que, segundo as autoridades, ateou fogo ao quartel em seguida. O suspeito foi preso e confessou o crime.
Todo dia um novo caso ganha repercussão

A professora de 26 anos incendiada pelo ex-namorado em Sobradinho, distrito de São Tomé das Letras, é um dos exemplos citados por organizações que atuam na defesa de mulheres. A vítima sofreu queimaduras em 60% do corpo e foi socorrida por vizinhos após o suspeito fugir e telefonar para a mãe para confessar o ataque.
No Rio de Janeiro, uma mulher foi esfaqueada nesta quarta-feira (3) pelo ex-companheiro dentro da comunidade do Amarelinho, em Irajá. Ela foi encaminhada ao Hospital Municipal Ronaldo Gazolla com ferimentos na barriga, enquanto o suspeito fugiu após a agressão.
Casos semelhantes também têm repercussão internacional. A morte da influenciadora chinesa Lhamo, incendiada pelo ex-marido durante uma transmissão ao vivo em 2020, voltou a circular recentemente nas redes e reacendeu debates sobre medidas de proteção.
Por que os casos continuam aumentando?
A escalada da violência tem preocupado especialistas e autoridades. Para a ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, o país precisa fortalecer ações de prevenção e criar redes que ofereçam acolhimento efetivo. Ela afirmou, em entrevista ao Fantástico, ser necessário que instituições públicas atuem de forma integrada para proteger mulheres em situação de vulnerabilidade.
Segundo a ministra, a educação é um dos pilares para enfrentar o problema.”É preciso que nós, a sociedade, atuemos junto, por exemplo com o Ministério da Educação, para que nós tenhamos uma educação que vai mudar de forma muito mais vertical uma cultura brasileira de violências, especialmente de violências contra as mulheres que acaba explodindo neste quadro que nós estamos vivendo agora que é de barbárie”, disse.
Qual é o panorama da violência contra a mulher no Rio de Janeiro?

No estado do Rio de Janeiro, o Dossiê da Mulher, que completou 20 anos, apontou que mais de 154 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência em 2024. A violência psicológica representa 36% dos registros, com 56 mil vítimas.
A diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública, Márcia Ortiz, afirmou que esse tipo de agressão cresceu especialmente após a pandemia e tem sido ‘principalmente realizada pela internet’. O estado registrou média de 18 mulheres agredidas por hora e aumento de 5.000% em casos envolvendo assédio, ameaças e exposição nas redes sociais ao longo de dez anos.
Quais são os números nacionais e como as vítimas são mortas?
Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2020, mostrou que quase 90% das vítimas de feminicídio no país foram mortas por ex-maridos ou ex-companheiros. Segundo o estudo, 53,6% dos crimes registrados em 2019 ocorreram com armas brancas, como facas. Outros 26,9% envolveram armas de fogo e 19,5% utilizaram meios como agressão física e asfixia.
Onde denunciar casos de violência contra a mulher?
Mulheres em situação de risco podem buscar ajuda nos seguintes canais:
- Polícia Militar, pelo número 190;
- Polícia Civil, pelo número 197 ou pela delegacia eletrônica;
- Central de Atendimento à Mulher, pelo número 180;
- Delegacias comuns ou Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deam);
- Central de Atendimento da Defensoria Pública, pelo número 129, com ramal específico para vítimas.
As medidas protetivas podem ser solicitadas mesmo sem que haja crime formal. Situações como ciúmes excessivos, perseguição e controle financeiro já permitem o pedido. De acordo com o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, o processo pode ser iniciado presencialmente nas delegacias, na Delegacia da Mulher, pela internet ou pelo telefone 197. Após o registro, o pedido segue para um juiz, que deve decidir em até 48 horas.
A vítima pode requerer novas medidas caso a proteção inicial não seja suficiente. O descumprimento da medida protetiva é considerado crime.