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Como fuzis importados chegam às facções criminosas no Brasil?

Operações policiais revelam aumento nas apreensões e mostram rotas e esquemas usados por grupos criminosos

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Fuzis apreendidos pela Polícia Militar. Foto: Reprodução

Uma megaoperação policial realizada no Rio de Janeiro na terça-feira (28) resultou em 81 prisões e 64 mortes. Outras 54 mortes estão sob investigação, segundo o governo estadual. A ação, que contou com cerca de 2,5 mil agentes, teve como alvo a facção Comando Vermelho, nos complexos do Alemão e da Penha, na capital fluminense.

Durante a operação, as forças de segurança apreenderam dezenas de fuzis, com o número oficial chegando a 93 armas, embora o governo estadual tenha informado um total superior a 100. As imagens divulgadas mostraram o resultado das apreensões, com armamento pesado em exibição.

Aumento nas apreensões de fuzis no país

Embora os fuzis representem uma pequena parcela das armas apreendidas no Brasil, o número vem crescendo nos últimos anos. Dados de artigo publicado no periódico Journal of Illicit Economies and Development, em setembro deste ano, indicam que as apreensões saltaram de 1.139 unidades em 2019 para 1.650 em 2023, o maior número da série histórica. Apenas no Rio de Janeiro, foram registradas 797 apreensões em um único ano. No total, mais de 100 mil armas são apreendidas anualmente no país.

Foto: Reprodução/Redes sociais

Esses armamentos têm papel estratégico nas ações de grupos criminosos, sendo utilizados para controlar territórios, enfrentar rivais e resistir à atuação das forças policiais. O uso desse tipo de arma também aumenta o risco em áreas densamente povoadas, já que o disparo de fuzil tem alto poder de alcance e letalidade.

Rotas e origens dos fuzis

As investigações apontam três principais origens para os fuzis usados por facções: armas desviadas do mercado nacional, importadas legal ou ilegalmente e fabricadas de forma clandestina.

Durante o governo anterior, alterações na legislação flexibilizaram as regras para aquisição de armamentos de alto calibre, o que ampliou o número de registros e também facilitou o desvio de parte desse arsenal para o mercado ilegal. Uma única pessoa registrada como colecionador, atirador ou caçador podia comprar até 30 armas. Essas regras foram revogadas em 2023, e o controle sobre esse grupo passou do Exército para a Polícia Federal.

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União revelou falhas no monitoramento das armas registradas, incluindo ausência de checagem de dados e fiscalização insuficiente em clubes de tiro.

Produção estrangeira e entrada ilegal

Levantamentos apontam que a maioria dos fuzis apreendidos no Rio de Janeiro em 2024 foi fabricada no exterior, principalmente nos Estados Unidos, seguidos por Israel, Alemanha, Áustria e República Tcheca.

Entre as rotas utilizadas, está o trânsito de armas legalmente importadas pelos Estados Unidos ao Paraguai, que depois entram ilegalmente no Brasil. Há também registros de envio direto para o território nacional, como o caso de 2017, quando 60 fuzis foram interceptados no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro. O armamento, avaliado em cerca de R$ 70 mil por unidade, estava disfarçado em contêineres de aquecedores de piscina.

Autoridades também identificaram fluxos vindos da Europa, com armas enviadas de países como Croácia, Eslovênia e República Tcheca, por meio de empresas sediadas no Paraguai e destinadas a grupos criminosos brasileiros.

Fabricação clandestina e comércio de peças

Outro ponto de atenção é o crescimento da fabricação clandestina e do comércio ilegal de peças avulsas. Parte das armas apreendidas no país não possui identificação de fabricante ou origem, o que indica montagem irregular.

Relatórios policiais mostram que peças importadas podem custar cerca de R$ 6 mil, e, após montadas em oficinas ilegais, o fuzil passa a valer cerca de R$ 50 mil. Algumas peças chegam ao país separadamente e são vendidas em kits de montagem sem número de série, com pouca fiscalização na origem.

Além da importação, há fabricação local com uso de equipamentos industriais de alta precisão, o que confere maior sofisticação às armas ilegais. Um caso recente foi registrado em Santa Bárbara d’Oeste (SP), onde uma fábrica clandestina disfarçada de indústria aeronáutica produzia componentes de fuzis em escala.

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