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Estudantes relatam cansaço pós Enem

Especialistas explicam consequências do estresse com a prova e dão dicas para minimizar efeitos

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Estudantes relatam cansaço pós Enem
Estudantes relatam cansaço pós Enem

O Enem passou, mas a expectativa com o resultado da prova não acabou, algo que só deve acontecer entre janeiro e fevereiro de 2023. O estudante de 17 anos, Matheus da Fonseca Marques, que realizou a prova neste domingo (20), diz não gostar muito do longo período de espera. “É muito tempo para ficar ansioso até ter notícia sobre a segunda fase”, destaca. Para driblar esse sentimento, o candidato pretende curtir as férias e esquecer um pouco dessa temporada de estudos que antecedeu as provas.

A ansiedade com o resultado, o estresse acumulado ao longo dos estudos, e o cansaço dos dias de prova são algumas unanimidades entre os estudantes que participaram do Exame. “A parte do estresse é bem chata, acho que ela vem, principalmente, da cobrança, seja da família, da escola, ou até de nós mesmos, que é o meu caso. Eu quero seguir carreira na parte de tecnologia, os cursos no geral não são muito concorridos, mas ultimamente as notas de corte vem crescendo”, comenta Matheus.

Estudantes relatam cansaço pós Enem (Foto: Reprodução/ Agência Brasil)

Candidata de Medicina, um dos cursos mais concorridos do Brasil, Ana Beatriz Fontes Amaral, de 17 anos, afirma que no final da primeira prova sentiu uma mistura de ansiedade e alívio: “queria saber quantas acertei e ao mesmo tempo estava aliviada por ter finalizado uma etapa. Com a distração das férias, é possível esquecer um pouco o resultado, mas quando vai chegando perto da data, assim como quando foi aproximando do dia de prova, a ansiedade bate novamente”, acrescenta.

Giovanna Letieri tem apenas 16 anos e participou do Enem para testar suas habilidades na prova. De acordo com a estudante que ainda não decidiu o curso que quer seguir, o cansaço pós prova é uma unanimidade entre seus colegas inscritos. “Com certeza, é uma das piores partes, a prova é muito longa e quando os minutos finais vão chegando fica difícil até de ler o que está escrito. Você sai de lá derrotado”, enfatiza.

De acordo com a psicóloga e professora da Universidade Unigranrio, Leila Navarro, uma vez que o organismo foi colocado sob pressão diante da necessidade de apresentar alta performance, frente a uma condição muito competitiva, e chegou a exaustão; o desgaste pós prova é algo totalmente natural. “Desse modo, é necessário estimular o organismo com informações de que a missão foi cumprida, é importante estar grato e satisfeito com o que pode ser feito, pensar que os desafios continuam e que os aprendizados também”, destaca.

Após um acidente vascular cerebral desencadeado por estresse e uma rotina desequilibrada, o professor e empreendedor, Fernando Gabas, mudou radicalmente o seu estilo de vida e passou a compartilhar o que aprendeu em sua jornada. Foi assim que surgiu a Academia Soul, empresa especializada em soluções para Educação Socioemocional nas escolas.

“Essa ansiedade, quando descontrolada, acaba prejudicando toda a experiência de vida do aluno, muitas vezes levando a sérios estados de negatividade, impotência e desânimo pela vida. A melhor saída é sempre o cultivo da presença. Quanto mais o aluno educar sua mente a viver no presente e constatar que o sofrimento por algo que não aconteceu e que ele nem sabe se vai acontecer não traz nenhum benefício, melhor será sua experiência de vida”, recomenda.

Após o período de isolamento, provocado pela pandemia de Covid19, o retorno do presencial tem sido um novo desafio para a Educação no Brasil como um todo. “A dificuldade de socialização causada pelo isolamento e o consequente prejuízo no ensino que decorreu desse período a distância são ingredientes que aumentam muito a pressão na vida dos alunos”, comenta Gabas.

Segundo Navarro, com a pandemia, todos os estudantes tiveram que se adaptar a um ensino diverso ao que estavam acostumados, e muitos conteúdos foram trabalhados de diferentes maneiras. “Isso inevitavelmente gerou uma sensação de insegurança. Psicologicamente falando, os alunos se questionam se estão preparados devido à nova modalidade de ensino que tiveram de se submeter. A sensação de despreparo é um estímulo que o organismo interpreta e assim intensifica a noção de ameaça, dando uma informação ao corpo de que ele precisa ficar ainda mais preparado, ainda mais atento”, explicou.

A psicóloga reforça que essa sensação não é meramente ilusória. De acordo com Leila, sempre que tomamos consciência de um desafio, o organismo começa a se preparar para o enfrentamento. “Os sistemas nervoso e endócrino atuam em parceria para oferecer alterações corporais necessárias para lidar com alguma condição não habitual, ou seja, todo o organismo se adapta para um novo ou complexo enfrentamento. Ocorre que antes de enfrentar uma condição adversa, estímulos são capturados pelos órgãos dos sentidos, impulsos elétricos são gerados para o sistema nervoso central e várias reações são desencadeadas como taquicardia, sudorese, e respiração desregulada”, pontua.

As avaliações, como o ENEM, são exemplos de condições desafiadoras, uma vez que demandam investimentos e expectativas sobre o futuro. Ter um bom desempenho significa avançar em etapas da construção da carreira, levar a cabo projetos elaborados há anos e em parceria com familiares. “Como consequência, esse organismo que permaneceu de forma contínua nesse estado de atenção e tensão, chega à exaustão”, completa.

Existem inúmeras técnicas comprovadas cientificamente de autorregulação emocional. As principais delas envolvem respiração e exercícios de ativação de estados emocionais agradáveis. A fim de minimizar alguns efeitos do estresse, Gabas, que se debruça sobre a Educação Socioemocional, oferece cinco dicas valiosas: “ouvir músicas tranquilas e inspiradoras, para meditar, contemplar e acalmar; realizar respirações lentas e profundas procurando fazer com a expiração seja mais longa que a inspiração; cultivar conexões verdadeiras com pessoas queridas; fazer esportes e atividades físicas e aprender a meditar e praticar com frequência”.

Essas são algumas recomendações que já foram incorporadas pelos estudantes. Beatriz gosta de fazer exercício, e sempre que se sente ansiosa para alguma coisa, procura a atividade física como uma válvula de escape. Matheus prefere estar com amigos e viajar, de forma que possa usar o ambiente externo como distração.
“Exercitar o pensamento de que cada um é uma pessoa singular e que possui ritmo diferente dos outros, competências diferentes e qualidades importantes a serem desenvolvidas. E que o desenvolvimento dessas qualidades garantirão o sucesso de qualquer projeto que venha a ser elaborado. Ou seja, não se comparar a ninguém é fundamental. O processo de cada um é único e desse modo deve ser respeitado e valorizado”, completa a psicóloga Navarro.

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