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Fraudes no INSS foram denunciadas por servidores ainda no governo Temer
Denúncias sobre repasses suspeitos e descontos ilegais datam de 2016, mas não avançaram nas investigaçõesAntes da deflagração da operação que revelou fraudes bilionárias no INSS em abril deste ano, servidores do próprio órgão já haviam alertado sobre irregularidades em diferentes gestões. Desde 2016, denúncias apontavam desvios e condutas suspeitas envolvendo repasses indevidos e descontos não autorizados em contracheques de aposentados.
Em uma das primeiras denúncias, feita ainda durante o governo de Michel Temer, um servidor relatou à Polícia Federal a transferência irregular de recursos para uma associação de peritos médicos. Segundo informações da CNN, ele alegou que a verba destinada a capacitações foi redirecionada para uma entidade presidida pelo marido da então diretora de Saúde do Trabalhador, que também fazia parte da associação. Após a denúncia, o servidor foi transferido para uma área considerada marginalizada dentro do INSS, num suposto ato de retaliação.
Além disso, ele afirmou ao veículo que os processos abertos contra a diretora foram arquivados por ordem dela mesma, quando assumiu interinamente a presidência do INSS. Em seguida, foi promovida ao Ministério da Previdência. O servidor relatou ainda que suas comunicações internas foram apagadas e que não houve retorno da PF sobre o caso.

Já em 2020, uma nova denúncia sobre descontos ilegais atingiu a Confederação Nacional de Agricultores Familiares (Conafer). A entidade teria multiplicado seus ganhos de R$ 350 mil para R$ 57 milhões em apenas um ano, período que coincidiu com a pandemia de Covid-19. O caso foi investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal e pelo Ministério Público local.
Na ocasião, servidores e aposentados relataram ameaças e pressão enquanto apuravam os repasses suspeitos. Um pedido de operação contra o então presidente do INSS, Leonardo Rolim, e contra a Conafer foi negado pela Justiça do DF, que encaminhou o caso à instância federal. Desde então, não houve divulgação de avanços nas investigações.
Foi apenas em 23 de abril deste ano que a Polícia Federal, em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou a Operação Sem Desconto. Seis pessoas foram presas, e 211 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. O escândalo levou à exoneração do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e à saída do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Enquanto o governo federal agora trabalha para mapear o número de vítimas e definir os reembolsos, antigas denúncias mostram que os indícios de fraudes no INSS já vinham sendo ignorados há quase uma década.
Em resposta a CNN, o INSS e a Conafer não se pronunciaram sobre as denúncias de 2016 e 2020. A associação de peritos médicos afirmou que realizou um congresso em 2017 voltado à capacitação, sem repasses de verbas públicas. Segundo a entidade, não houve recursos do INSS para esse ou qualquer outro evento. A Polícia Federal também não respondeu sobre o andamento da investigação.