Brasil
Mercosul: acordo comercial sai até 12 de janeiro
Documento enviado por Ursula von der Leyen e António Costa reconhece papel do Brasil e reforça intenção de concluir negociação nos próximos 20 dias
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não escondeu a frustração por não comandar a cerimônia de assinatura do acordo de livre-comércio com a União Europeia, ontem, na Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Foz do Iguaçu (PR). Por outro lado, o petista se mostrou mais otimista com a possibilidade de superação do impasse criado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Na semana passada, em Bruxelas, ela pediu à Comissão Europeia (braço-executivo da União Europeia) mais tempo para negociar com o agronegócio da Itália novas salvaguardas de proteção à produção interna, para enfrentar a competição com produtos sul-americanos.
Ao comentar a conversa que teve, por telefone, com Meloni, Lula disse que a primeira-ministra estará pronta para assinar o acordo em janeiro. “Se ela estiver pronta para assinar (o acordo) e faltar só a França, segundo (a presidente da Comissão Europeia) Ursula van der Leyen e (o presidente do Conselho Europeu) Antônio Costa, não haverá possibilidade de a França, sozinha, não permitir o acordo. Será firmado, espero, no primeiro mês da presidência do Paraguai”, declarou o presidente brasileiro.
No comunicado conjunto que marcou o fim da cúpula de Foz do Iguaçu, os presidentes usaram o verbo “desapontar” para qualificar a frustração com o adiamento do acordo, mas demonstraram confiança de que os europeus vão superar suas divergências internas e confirmar a formalização da zona de livre-comércio em janeiro.
“Os presidentes expressaram desapontamento com a não assinatura do Acordo de Parceria Mercosul-União Europeia, como previsto para a ocasião, por falta de consenso político nas instâncias comunitárias europeias. Salientaram que o texto do acordo é resultado de um equilíbrio cuidadosamente alcançado após 26 anos de negociações e que sua assinatura daria uma sinalização positiva ao mundo na atual conjuntura internacional, fortalecendo a integração entre os dois blocos”, diz a nota oficial do encontro.
O bloco, porém, manifestou “confiança de que a União Europeia finalizará os trâmites internos que lhe permitam assinar o acordo, para que a presidência pro tempore de turno e os Estados Partes possam eventualmente fixar uma possível data para a assinatura”. Fontes diplomáticas em Genebra informaram que a Comissão Europeia pretende assinar o tratado de livre-comércio com o bloco sul-americano em 12 de janeiro.
Diante do impasse, o presidente Lula disse que o Mercosul vai continuar prospectando novos mercados e acordos de comércio. “Diversificar parcerias é chave para a resiliência de economia”, disse, em seu discurso. O Mercosul conduz mais de 10 negociações com outros países e blocos, que podem ser fechados ao longo do período da presidência paraguaia.
“Eu espero que tenhamos seis meses de uma boa colheita, de bons frutos e de bons acordos internacionais. O mundo está ávido a fazer acordo com o Mercosul. E nós, certamente, vamos conseguir, neste período, fazer os acordos que não foram possíveis realizar na minha presidência”, declarou Lula.
“Noivo no altar”
O presidente do Paraguai, Santiago Peña, que assume o leme do Mercosul pelos próximos seis meses, também lamentou o recuo dos europeus. “Estávamos como o noivo esperando a noiva no altar”, disse Peña ao falar para os demais presidentes. “Perdemos uma oportunidade”, complementou.
Em carta ao presidente do Brasil, os presidentes do Conselho Europeu, António Costa, e da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, reafirmaram o compromisso do bloco com a assinatura do acordo, em janeiro. “Gostaríamos de transmitir o nosso firme compromisso de proceder à assinatura do Acordo de Parceria UE-Mercosul e do Acordo Comercial Provisório no início de janeiro”, diz um trecho da mensagem.
