Brasil
Morre Niède Guidon, pioneira da arqueologia no Brasil, aos 92 anos
Pesquisadora transformou a Serra da Capivara em referência mundial e desafiou a teoria do povoamento das Américas
A arqueóloga Niède Guidon, uma das mais importantes pesquisadoras da ciência brasileira, morreu aos 92 anos, na madrugada desta quarta-feira (4). Conhecida mundialmente por seu trabalho no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, Niède dedicou décadas ao estudo da presença humana nas Américas e revolucionou o entendimento sobre o povoamento do continente.
Foi pioneira ao defender que o ser humano chegou às Américas há mais de 50 mil anos, hipótese que contraria a teoria tradicional de que os primeiros povos teriam chegado pela Ásia há cerca de 12 mil anos.
A causa da morte não foi divulgada.
Qual foi o impacto da atuação de Niède Guidon?

Niède fundou a Fundação Museu do Homem Americano e foi responsável por transformar São Raimundo Nonato, no interior do Piauí, em um dos sítios arqueológicos mais relevantes do mundo. Ela liderou a identificação de mais de 700 sítios pré-históricos, entre eles 426 com pinturas rupestres, ossadas humanas de 15 mil anos, restos de fogueiras de 48 mil anos e arte rupestre com até 35 mil anos.
Com base nessas descobertas, Niède levantou a hipótese de que os humanos chegaram ao continente americano a partir da África, o que abriu debates no meio científico internacional. Seus estudos envolveram a análise de mais de 1.300 registros arqueológicos.
O que dizem os colegas e instituições sobre seu legado?
Em nota, o Parque Nacional Serra da Capivara afirmou:
“Sua trajetória deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a memória do nosso país. Seu nome está eternamente gravado na história.”
Em 2023, Niède recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e reforçou que a região ainda guarda um enorme potencial de descobertas. “Quem realmente merece esse reconhecimento é o homem pré-histórico, que deixou esse patrimônio fantástico na Serra da Capivara”, disse na época.
Quem foi Niède Guidon
Nascida em Jaú (SP), em 12 de março de 1933, Niède era filha de mãe brasileira e pai francês. Formou-se em História Natural pela USP, em 1959, e fez especialização e doutorado na Universidade Paris-Sorbonne, com tese sobre as pinturas rupestres do Piauí.
Ao longo da carreira, gravou mais de 35 mil imagens, publicou mais de 100 artigos científicos e formou gerações de pesquisadores. Seu nome está eternamente vinculado à luta pela valorização do patrimônio arqueológico brasileiro.