Brasil
“Suprema humilhação”, diz Bolsonaro após colocar tornozeleira
Além das restrições impostas pelo STF — entre elas utilizar o equipamento de rastreamento e não manter contato com o filho 03 —, PF recolhe na casa do ex-presidente um pen drive e cerca de US$ 14 mil e de R$ 8 mil em dinheiroDepois de a Polícia Federal (PF) cumprir mandados de busca e apreensão na casa de Jair Bolsonaro e na sede do PL, o ex-presidente afirmou estar sendo alvo de uma “suprema humilhação”. Assim que deixou o Centro Integrado de Monitoração Eletrônica, em Brasília, onde ficou por cerca de uma hora e recebeu uma tornozeleira eletrônica — conforme determinação do Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal —, ele criticou duramente a decisão e insistiu que está sendo alvo de perseguição política.
“Estou sendo humilhado por algo que não fiz. É um constrangimento público. Não tem nada de concreto”, afirmou.
Além do monitoramento eletrônico, Bolsonaro tem de cumprir outras restrições: não pode deixar Brasília; está impedido de manter contato com autoridades de outros países lotadas no Brasil e com o filho Eduardo Bolsonaro — deputado federal licenciado, que se autoexilou nos Estados Unidos; de aproximar-se de representações diplomáticas; e deve respeitar um toque de recolher das 19h às 7h.
Segundo o ex-presidente, essas medidas derivam de ações relacionadas à atuação de Eduardo nos Estados Unidos. “O que gerou essas cautelares é aquilo que meu filho está respondendo. Estou restrito a Brasília, com tornozeleira. Fizeram busca e apreensão em casa, levaram R$ 7 mil e aproximadamente US$ 14 mil. Tudo com origem comprovada”, disse. Assegurou, ainda, que sempre guardou “dólar em casa”. “Todo o dinheiro tem recibo do Banco do Brasil. Declarei a retirada este ano e vou incluir no Imposto de Renda, no ano que vem”, justificou.
Causou polêmica, porém, um pen drive encontrado no banheiro da casa de Bolsonaro, levado ao laboratório da PF para perícia. Questionado, o ex-presidente disse não ter conhecimento do dispositivo de armazenamento portátil e, tampouco, do conteúdo: “Alguém pediu para ir ao banheiro e voltou de lá com o pen drive. Não uso nem laptop”, disse, negando, porém, que insinuara que o aparelho fora plantado.
Ao comentar o processo, Bolsonaro disse que a própria PF não o vinculou diretamente aos atos do 8 de janeiro, mas que a Procuradoria-Geral da República (PGR) o incluiu no inquérito como parte de uma “motivação política”. “Não tem prova de nada. Um golpe no domingo, sem as Forças Armadas, sem armas? Um golpe de festim”, ironizou.
Ele reforçou que jamais cogitou sair do país e negou qualquer movimentação para buscar asilo em embaixadas. “Nunca pensei em sair do Brasil, nunca pensei em ir para uma embaixada. Mas, agora, não posso nem me aproximar de uma. Tenho horário para estar na rua. No meu entender, o objetivo é me humilhar”, afirmou, apesar de admitir que teria reuniões marcadas com embaixadores, na próxima semana.
Tarifaço
Indagado sobre a conexão que a determinação de Moraes faz sobre a atuação que ele e o filho tem junto ao governo do presidente Donald Trump, que levou ao tarifaço sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, Bolsonaro ironizou: “Me dá meu passaporte, que eu busco audiência com os Estados Unidos. Eu resolvi essa questão em 2019, quando Trump ameaçou impor tarifas e, depois da nossa conversa, a taxação não veio. O mundo todo está com tarifas, mas só o Brasil não está negociando”, disse.
Bolsonaro mostrou-se apreensivo com o futuro de Eduardo nos Estados Unidos, onde “está em busca da democracia e liberdade”. “Se ele vier para cá, vai ter problemas. O que estão fazendo é sufocar a gente”, analisou.
Ele também comentou os rumores sobre a articulação, junto à Casa Branca, para forçar a paralisação da ação sobre o golpe de Estado que corre no STF. “Não posso vincular uma coisa à outra”, esquivou-se, negando envolvimento com a trama para impedir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de assumir a Presidência. “Você viu a minuta (golpista)? Não tem. O que foi discutido era o estado de sítio, que só pode ser decretado com aprovação do Congresso”, disse.
Assim que souberam da prisão do pai, os três filhos foram às redes sociais protestar. Por meio de nota publicada no X (antigo Twitter), Eduardo disse que “há muito tempo, vínhamos alertando sobre as ações de Alexandre de Moraes, um homem que há muito abandonou qualquer aparência de imparcialidade e agora opera como um gângster político de toga, usando o Supremo Tribunal Federal como arma pessoal. Hoje, mais uma vez, ele nos provou que estávamos certos”. Acrescentou que “em essência, Alexandre está tentando criminalizar o presidente Trump e o governo dos EUA. Impotente contra eles, ele escolheu fazer meu pai refém. E, ao fazer isso, ele não está apenas atacando a democracia brasileira. (…) Mas não vai funcionar. Não vamos recuar”.
O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) afirmou, também em post no X, que “não escrevo aqui como vereador ou como figura pública, mas como filho revoltado com toda a perseguição que meu pai vem sofrendo de forma criminosa. (…) Como filho, não é fácil ver o homem que mais admiro sendo tratado dessa forma. Dói ver meu pai sendo censurado, calado, proibido de sair do país, sofrendo buscas arbitrárias, enquanto assassinos e corruptos vivem de forma livre no nosso país”.
Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também foi ao X fazer um desagravo ao pai: “Fica firme, pai, não vão nos calar! A proposital humilhação deixará cicatrizes nas nossas almas, mas servirão de motivação para continuarmos lutando pelo nosso Brasil livre de déspotas. Proibir o pai de falar com o próprio filho é o maior símbolo do ódio que tomou conta de Alexandre de Moraes para tomar medidas totalmente desnecessárias e covardes”.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo — apontado como um dos possível representantes do bolsonarismo para a disputa presidencial de 2026 —, foi mais um que prestou solidariedade a Bolsonaro. No X, postou que “coragem é um atributo que quem conhece Jair Bolsonaro sabe que nunca lhe faltou. Não faltou quando atentaram contra a sua vida. Não faltou para lidar com as crises sem precedentes que este país passou quando ele era presidente. Não faltou para defender a liberdade, valores, ideais e combater injustiças. E não vai faltar agora, pois ele sabe que estamos e seguiremos ao seu lado. (…) Se as humilhações trazem tristeza, o tempo trará a justiça”.
Na operação da PF determinada por Moraes, os agentes apreenderam na casa de Bolsonaro um pen drive, aproximadamente US$ 14 mil e cerca de R$ 8 mil em espécie, e uma cópia impressa de uma ação judicial que a plataforma Rumble move contra o ministro do STF. (Colaborou Fabio Grecchi)