Brasil
Uniões estáveis ultrapassam casamentos no Brasil
União estável está mais presente em casais com rendimento domiciliar menor
Pela primeira vez na história, as uniões estáveis sem casamento ultrapassaram o matrimônio civil e religioso no Brasil, segundo dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra que o percentual de pessoas que vivem com um companheiro ou companheira, sem se casar no cartório ou na igreja, passou de 36,4% em 2010 para 38,9% em 2022.
A chamada união consensual, inclui casais que moram juntos e se declaram em união estável — mesmo sem registro formal. O grupo com casamento civil e religioso teve queda: passou de 42,9% em 2010 para 37,9% em 2022. Segundo o IBGE, é a primeira vez desde 1960 que o casamento tradicional deixa de ser o tipo de união mais comum no país.
A reportagem da Super Rádio Tupi conversou com Henrique Bragioni, professor de sociologia e cientista social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Questionado sobre a razão do número de casais que vivem juntos sem o casamento ofical tem aumentado no Brasil, o professor afirmou que:
“Dá para a gente falar que esse aumento do número de casais que vivem juntos sem casar oficialmente aqui no Brasil tem duas grandes influências. Uma delas, sem dúvida, parte do campo de vista moral e cultural. Afinal, a gente tem uma grande mudança até mesmo na percepção coletiva sobre os relacionamentos hoje com as redes sociais, os laços coletivos e afetivos se tornam mais superficiais. A gente tem uma rotatividade muito maior de relacionamento.
Se a gente para para pensar, jovem médio hoje, ele consegue interagir e estabelecer relacionamentos com muito mais pessoas do que você tem também, somado a isso, uma questão que envolve a materialidade. A gente está falando aqui de um país que tem uma classe média que está perdendo cada vez mais seu poder de compra. As desigualdades sociais têm se tornado cada vez mais gritantes.
Então, esses dois fatores, o fator cultural e o fator material percebido ali pela economia, acabam sendo fatores, sem dúvida, que influenciam nesses números”, explicou Henrique.
Segundo a pesquisa do IBGE a união estável está mais presente em casais com rendimento domiciliar menor. “Como dito anteriormente, o fator econômico tem uma influência bastante importante nisso tudo. Se a gente para para analisar questões que envolvem custo de vida, você tem ali também uma queda do poder de compra populacional que, enfim, também perpassa, sem dúvida alguma, tem influência direta”, acrescentou o professor.
O estudo também mostra que a união consensual é mais frequente entre pessoas de menor renda. Entre os brasileiros com rendimento domiciliar de até meio salário mínimo, 52,1% vivem nesse tipo de relação. Já entre os que ganham mais de cinco salários, o percentual cai para 24,1%.
