Carnaval

‘Sorrir é resistir’! Salgueiro aposta em enredo ‘leve’ para buscar o título

Ensaio de rua do Salgueiro. Foto: Alex Nunes/ Salgueiro

Quem assistir ao desfile do Acadêmicos do Salgueiro em 2020 pode esperar uma escola diferente. Pela menos nos quesitos plásticos: alegorias e fantasias. Isso porque neste ano, a vermelho e branco do bairro da Tijuca levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “O Rei negro do picadeiro”, do carnavalesco Alex de Souza com uma proposta visual leve e colorida. O rei é Benjamim de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil. Em entrevista à SUPER RÁDIO TUPI na Cidade do Samba, Zona Portuária do Rio, Alex falou sobre a proposta da agremiação:

“Nosso intuito é manter a tradição do Salgueiro, que é ter um personagem negro como seu protagonista. Essa tradição vem desde os anos de 1960, com Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues e eu estou mantendo ao trazer a vida deste extraordinário artista que foi Bejamim de Oliveira. Ele foi muito mais que um palhaço. Foi ator, autor, diretor, dançarino, cantor, músico, compositor e, também, artista circense: acrobata, trapezista, etc. Um dos artistas mais completos da história do Brasil. É uma figura que tem uma trajetória de vida sensacional. Além de ser um pioneiro do circo-teatro no Brasil. Com isso, o circo passou a levar uma outra cultura ao subúrbio e cidades do interior através do circo itinerante”, explicou o carnavalesco.

Carnavalesco Alex de Souza. Foto: TUPI

Alex de Souza também fez ponderações a uma outra ramificação da temática por ele elaborada. O profissional da “Academia do Samba” disse que o enredo em homenagem a Benjamim vai além da visão estereotipada do negro no Brasil colonial, pois o desfile retratará um personagem das artes cênicas, que esteve no centro do palco ou do picadeiro, e brilhou através de sua arte e com seus personagens. Para Alex, o artista Benjamim de Oliveira “é uma figura de influência aos artistas negros”. E que, por essa razão, “haverá uma homenagem para a classe negra da arte”. Alex também classificou o enredo salgueirense como representativo.

“O desfile, como um todo, é como se fosse a grande entrada de um circo na cidade. Vamos relembrar exatamente como o circo era antigamente, com artistas, vagões, carroças e chamando o público para assistir ao espetáculo. É como se a Sapucaí fosse uma rua e as pessoas nas arquibancadas o público. Ao longo disso, poderemos observar todas as atrações ‘lincando’ a história de vida dele e o que fez a partir do início da vida dele na arte”, explicou.

Alex de Souza contou não saber que Benjamim completa 150 anos em 2020. E que o fato fora descoberto após a ideia de homenageá-lo. Foi sincero ao contar: “Eu não sabia. Na verdade, fiz as contas durante o início da pesquisa”.

Perguntado sobre o que diferencia o enredo do Salgueiro em comparação a outros desfiles com abordagens circenses, Alex fez questão de frisar a vida e obra de Benjamim:

“A maneira como cada um faz o enredo é um ingrediente diferente. No Salgueiro em 2020, além dos 150 anos dele, é mostrar que ele foi muito mais que um palhaço”. E completou ao dizer que associou inovação – pelo fato de se tratar de um enredo leve e irreverente em uma escola que costuma optar por assuntos mais densos e complexos – com as tradições do “Torrão Amado” (apelido da escola), pois tem um negro como personagem central:

“Eu não fugi das tradições da escola. Peguei um personagem negro. A diferença será a forma de desfile. A escola nunca desfilou como vai desfilar. Eu achei perfeito. Será o diferente, mas ao mesmo tempo tem tudo a ver com a história da escola, numa data que não se pode deixar passar em branco. Esse somatório todo será o Salgueiro neste Carnaval”, defendeu. E completou: “Nossa ideia é emocionar e fazer com que as pessoas que estejam assistindo possam remeter à infância. Esse é um dos nossos objetivos”, disse.

Aos 54 anos de idade, e com passagens por Mocidade, União da Ilha, Vila Isabel, entre outras, o carnavalesco Alex de Souza aproveitou o espaço para fazer um desabafo sobre o momento em que vive o Carnaval do Rio de Janeiro. Para ele, não há “apoio nenhum e de parte alguma”, e também fez um comparativo do mau momento do Rio com o bom momento da festa em São Paulo. Segundo o artista, o “alerta” precisa ser ligado:

“É uma coisa muito estranha e triste a falta de apoio oficial. É inacreditável que o turismo esse ano no Carnaval seja maior em São Paulo que no Rio de Janeiro. A gente entende o crescimento do Carnaval paulista, mas o nosso parou. Daqui a pouco perderemos esse espaço também. A gente caminha para isso. Existe um apoio muito maior lá e isso independente de ideologia do partido que comanda. Lá o patrocínio de empresas privadas também é maior. É preciso acender um alerta vermelho de como será o nosso futuro. A tendência é que seja esvaziado, perdido”, lamentou. “Aqui a violência só cresce. É tudo muito difícil. É difícil aqui a concentração e a dispersão. Ninguém olha pra gente”, queixou-se. “Eu só não consigo entender a razão para tamanho desgosto das escolas de samba”, questionou ao finalizar a entrevista.

O Salgueiro será a terceira escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval. E quem representará Benjamim de Oliveira será o ator Nando Cunha.

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