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Ciência

Como identificar se estou vivendo um relacionamento abusivo?

“A base de um relacionamento tóxico é o desrespeito”, afirma a médica, Priscila Furtado

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Como identificar se estou vivendo um relacionamento abusivo? (Foto: Divulgação)
Como identificar se estou vivendo um relacionamento abusivo?

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking de países com o maior número de feminicídios. Os índices são preocupantes, e a discussão sobre relacionamento abusivo é urgente. “A base de um relacionamento tóxico é o desrespeito. Existe muita manipulação, criando-se um ambiente em que um cônjuge domina o outro”, afirma Priscilla Furtado, médica radio-oncologista e Pós-graduada em Psicologia Positiva e Terapia Sexual.

O processo de surgimento de um relacionamento abusivo é progressivo, pode demorar anos para de fato acontecer uma agressão física ou psicológica. Porém, esse tipo de relação nunca tem como resultado um final feliz. “Esse tipo de relação caracteriza-se por várias atitudes que vão reduzindo progressivamente a autoestima da vítima. Por exemplo: agressões verbais (como xingamentos), ciúme e controle em excesso (o que a vítima usa, onde vai, com quem fala), muitas críticas e falta de apoio”, explica.

Como começa o ciclo de abusos?

O ciclo de abuso é composto por quatro fases: tensão, violência, lua de mel e calmaria. “Na fase de tensão, o agressor fica irritado ou se sente ameaçado/injustiçado. A vítima reage com submissão para evitar conflito. Na segunda fase, o agressor “explode”, podendo ocorrer abusos verbais, psicológicos ou físicos, caracterizando a violência. Isso se segue de remorso, e o agressor tende a jogar a culpa sobre a vítima, fazendo com que ela se sinta responsável pelo ocorrido”, enfatiza Priscilla Furtado.

A vítima que sofre nesse tipo de relação, muitas das vezes, não percebe o que está acontecendo. Pode levar anos para que ela se liberte do relacionamento, e os efeitos em sua autoestima e saúde mental são devastadores. “Controla-se a roupa que a vítima veste, com quem ela conversa, onde vai, como se comporta, como fala, e até mesmo o que ela fala. Como isso ocorre aos poucos, a vítima não percebe com clareza. E então chega um momento em que ela já nem se reconhece mais, por ter se afastado tanto de si mesma”, diz.

O comportamento abusivo é diferente entre homens e mulheres, cada pessoa manifestará atitudes complemente diferentes. “Mulheres têm, em geral, menos força física. Então desenvolvem comportamentos mais chantagistas. Elas tendem a ter ataques de ciúmes, humilhar o cônjuge em público, ameaçar (por exemplo: ameaçar usando os filhos, dizendo que o cônjuge nunca mais irá vê-los, ameaçar fazer denúncias falsas à polícia, entre outras). Homens também tem a característica do ciúme, mas tendem a culminar com muito mais frequência em violência física e sexual e até mesmo ameaças de morte”, afirma Priscilla Furtado.

Em pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva, constatou-se que, entre as entrevistadas, 30% afirmaram já terem sido ameaçadas de morte por companheiros e, uma em cada seis já sofreram tentativa de feminicídio.

Para quem está passando por uma situação de relacionamento abusivo e não sabe como sair, é indicado ligar para o número 180, uma central de atendimento à mulher. “Eles direcionam a mulher para um órgão responsável que possa ajudá-la. O serviço muda muito de um local para outro, algumas cidades possuem até programas próprios, como banco de empregos exclusivos para vítimas de violência. Um dos principais motivos de elas permanecerem em relacionamentos abusivos é a dependência financeira”, diz Priscilla.

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