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Espetáculo ‘Para meu amigo branco’ estreia no Arena do Sesc Copacabana

Assinada por Rodrigo França e Mery Delmond, dramaturgia inédita é inspirada no livro homônimo do jornalista e apresentador Manoel Soares e trata de um episódio de racismo entre crianças da escola

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Espetáculo 'Para meu amigo branco' estreia no Arena do Sesc Copacabana (Foto: Divulgação)
Espetáculo 'Para meu amigo branco' estreia no Arena do Sesc Copacabana (Foto: Divulgação)

Como se constrói um racista? Onde aprendemos a ser racistas? Dirigida por Rodrigo França, a peça “Para Meu Amigo Branco”, vencedora do Edital Sesc RJ Pulsar 2022, leva à cena reflexões sobre o racismo estrutural brasileiro, a partir do dia 27 de julho, na Arena do Sesc Copacabana.

Assinada por Rodrigo e Mery Delmond, a dramaturgia inédita é inspirada no livro homônimo do jornalista e apresentador Manoel Soares e trata de um episódio de racismo entre crianças da escola. A menina Zuri, de 8 anos, é chamada pelo coleguinha de “negra fedorenta da cor de cocô”. Ao solicitar explicação à escola, o pai da menina, Monsueto (Reinaldo Júnior, indicado ao Prêmio Shell de melhor ator em 2023), descobre que o racismo sofrido por sua filha estava sendo tratado como “coisa de criança”, bullying. No elenco estão ainda Alex Nader, Stella Rodrigues e Mery Delmond. A peça tem sessões de quinta a domingo, às 20h, até 20 de agosto.

Na trama, as contradições e a falta de posicionamento da escola dão o tom do conflito de um pai negro e um pai branco, que minimiza a dor e sofrimento dessa família (preta). A trama traz à tona as primeiras construções sociais racistas, quando pais e filhos, ainda na tenra infância, se dão conta de que a sociedade não destina o mesmo tratamento para pretos e brancos.

“É um dos poucos espetáculos no país que coloca a branquitude nua. Normalmente, nós, pessoas pretas, somos colocadas como objeto, elemento de pesquisa, ou estamos falando para nós mesmos”, analisa o diretor. “Estamos falando para a branquitude de uma forma muito direta”, afirma.

No livro de Manoel Soares, o apresentador afirma ter escolhido a arma do afeto não para queimar os racistas, mas “para queimar o racista dentro de você”, amigo branco. A obra de Rodrigo e Mery adiciona novas camadas: “Embora o Manoel tenha uma prática muito válida que é discutir o racismo a partir do afeto, a gente aponta também outras formas, inclusive a do grito”, explica Rodrigo “O grito também é legítimo e cada ação varia de acordo com as circunstâncias e pessoas envolvidas”.

A direção artística de Rodrigo França localiza essa discussão numa sala de aula branca. Na disposição da Arena do Sesc Copacabana, a intenção é criar essa atmosfera na qual o público é situado dentro da própria discussão. “A encenação e o cenário não dividem palco e plateia: é tudo uma coisa só”, diz. “É uma história para ser contada de uma maneira muito direta”.

Autora da peça ao lado de Rodrigo e atriz do espetáculo, Mery Delmond conta que os dois visitaram diversos colégios para produzir a dramaturgia. “A partir do olhar sobre a branquitude, a peça desnuda as problemáticas do racismo e localiza o ‘sujeito branco’ como um indivíduo racializado dentro da estrutura de uma sociedade ainda tão racista como a nossa”, diz.

Para Manoel Soares, o histórico de racismo no Brasil coloca as vitórias da comunidade negra sempre em segundo plano. “Tudo que os pretos têm de positivo acaba sendo ofuscado pela agenda da dor. Essa agenda só vai deixar de existir se for dividida com as pessoas de pele clara”, analisa o comunicador e ativista.

A idealização e produção do espetáculo é do diretor, produtor teatral e jornalista João Bernardo Caldeira, para quem Manoel contou, numa entrevista, o caso de racismo que viveu com um de seus filhos na escola. “Quando o João me procurou para transformar em uma peça de teatro, eu fiquei surpreso, até receoso, porque achei que não teríamos um grupo de pessoas com a coragem de levar esse questionamento para os palcos”, conta Manoel. “A sua insistência e a chegada do Rodrigo me mostraram que essa história não era mais minha, mas das pessoas, uma construção que vem de longe, como diz Conceição Evaristo”.

Com doutorado em andamento na ECA-USP sobre a chegada das pautas antirracistas, feministas, LGBTQIA+ e decoloniais à cena teatral contemporânea, João Bernardo conta o que o motivou a levar a obra aos palcos: “Quando li ‘Para Meu Amigo Branco’ fiquei absolutamente fascinado com a força e objetividade da proposta do Manoel Soares de discutir racismo com as pessoas que precisam ser transformadas para que o racismo acabe: os brancos”, conta. “Em nossas conversas, Manoel me explicou que, ao longo de sua vida, depois de buscar diferentes estratégias e passar por situações difíceis e aviltantes como aquela contada na peça, passou a apostar na via do afeto para queimar o racista que existe dentro de nós, brancos”, diz.

O texto escrito por Rodrigo e Mery acrescenta novos olhares sobre o livro e propõe uma dramaturgia que rompe com os conflitos e subjetividades habitualmente destinados a personagens negras e brancas. “A peça coloca personagens e subjetividades negras em posição de protagonismo, como também oferece ao público branco personagens brancos que possam inspirá-lo a se racializar e dar os seus próprios passos rumo à transformação”, completa João Bernardo.

Serviço:

“Para meu amigo branco”

Gênero: drama

Temporada: De 27 de julho a 20 de agosto de 2023

Dias e horários: de quinta a domingo, às 20h

Local: Arena do Sesc Copacabana

Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ

Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira)

Informações: (21) 2547-0156

Lotação: 242 lugares

Classificação indicativa: 14 anos

Duração: 70 min

Bilheteria – Horário de funcionamento: terça a domingo, das 14h às 20h

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