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“Minha música vem da minha ancestralidade”: Fabíola Machado lança single no Dia Nacional do Samba
Cantora fala sobre legado e ancestralidade em 'Canto do Povo', seu primeiro trabalho soloLançar ‘Canto do Povo’ no Dia Nacional do Samba não é coincidência, é um gesto político, ancestral e consciente. Em entrevista exclusiva ao site da Super Rádio Tupi, a cantora Fabíola Machado explica por que o single chega agora como uma afirmação de existência das mulheres negras dentro do gênero.
“A importância das mulheres negras do samba terem seus álbuns registrados é enorme. Se a gente não grava, a gente desaparece da história”, afirma. Para ela, documentar a própria arte é uma forma de romper com o apagamento que atravessou gerações.
Essa reflexão ganhou força quando Fabíola descobriu a cantora Aparecida, mineira radicada no Rio, autora de dois discos que quase ninguém conhece. A artista conta que encontrou os vinis por acaso e nunca mais foi a mesma.
“A Aparecida tem dois discos lindos e ninguém conhece. Ela me ensinou que gravar é uma forma de se fazer viva”, diz. “A ancestralidade não é só o que vem dos nossos filhos. Ancestralidade também é deixar um disco, deixar um livro, deixar memória.”

Força, coragem e ancestralidade em ‘Canto do Povo’
Mais do que um single, Canto do Povo é um manifesto.
“Mesmo caída no chão, eu ainda tenho força no braço — essa música fala da força do povo”, resume Fabíola.
A capa do single remete ao sol e a símbolos egípcios, reforçando a ideia de realeza, origem e potência. “Eu sou uma mulher macumbeira, uma mulher de axé. Minha música vem desse lugar, dos tambores que dialogam com a minha ancestralidade”, afirma.
No estúdio, a faixa abriu caminhos para o álbum ‘Caminho’, que chega em março. Segundo ela, o projeto reúne sonoridades como capoeira, jongo, samba de roda, ciranda e tambores afro-brasileiros.
“Eu sempre fui amante do tambor. O disco traz a minha voz com tambores que falam da minha ancestralidade, dos povos negros do Brasil.”
E ainda há surpresas:
“Estou cantando um blues com toque de Exu. É o meu candomblues”, revela, arrancando um sorriso na entrevista.
Mulheres no samba: criar espaços, romper tradições
Ao falar sobre o papel das mulheres no samba, Fabíola volta ao início da carreira, em 2012. Naquele período, eram raras as rodas de rua com mulheres à frente.
“Nós aprendemos a fazer o samba do nosso jeito: um samba que não agride a mulher e que abraça as minorias”, diz. “Hoje as mulheres criam seus próprios espaços — espaços onde possam ser felizes fazendo o que amam.”
O desejo de deixar um legado também passa por inspirar outras mulheres a gravarem seus próprios trabalhos.
“Quero que as mulheres do samba deixem seus registros, seus legados”, afirma. “Se minha música tocar uma pessoa, já valeu. Foi assim com Aparecida.”
O passo para o solo: medo, exposição e coragem
Embora tenha trajetória marcada por grupos e coletivos, Fabíola entendeu que também precisava apresentar ao mundo o que é Fabiola Machado, individualmente.
“Eu amo o coletivo, mas agora quero que as pessoas me conheçam: o que eu acredito, o que eu gosto, o que eu canto”, conta.
Ela admite que lançar algo sozinha é um desafio emocional:
“Fazer meu primeiro trabalho solo é me despir. Dá medo, mas eu tô com coragem.”
A coragem, aliás, é uma palavra que volta o tempo todo na entrevista e que, somada ao samba, guia esse novo ciclo. “Eu penso na coragem de mulheres como Ciata, que vieram antes de mim. Não tem como não seguir esse caminho.”
O que vem aí
Com ‘Canto do Povo’ abrindo os trabalhos, Fabíola garante que o álbum Caminho vai dialogar com outras mulheres sambistas e talvez despertar nelas o desejo de também registrar suas histórias.
“Quero que meu disco seja um portal para que outras mulheres gravem os seus, deixem sua marca, seu legado.”
O lançamento de Caminho está previsto para março de 2026.
Vídeo exclusivo
Confira agora um vídeo exclusivo com o trecho que Fabíola Machado cantou de ‘Canto do Povo’ durante a entrevista.