Esportes
Convocado para seleção, jovem pugilista carioca supera pobreza e criminalidade
Criado entre becos e vielas, o jovem pugilista da Tijuca supera as dificuldades da infância e conquista vaga na seleção brasileira juvenil de boxe
Becos e vielas serviram como estímulo para Nélson Júnior, pugilista tijucano nascido no Morro do Borel, ser convocado para a seleção brasileira juvenil de boxe. Desde cedo, a vida de Nélson se mistura com a de milhões de jovens brasileiros que enfrentam a pobreza e a influência do crime.
Atualmente, 32 milhões de jovens vivem nessa realidade, e 26% da população está ligada a 88 organizações criminosas, sendo 12 delas com atuação internacional. Apesar disso, Nélson encontrou um novo caminho por meio do esporte.
Trajetória de Nélson Júnior
A trajetória de Nélson Júnior (80 quilos), convocado para a seleção brasileira juvenil, começou a mudar. A equipe fará aclimatação em Santo Amaro, São Paulo, entre os dias 21 e 31 deste mês. Essa conquista marca uma virada importante, dez anos depois de o atleta iniciar no projeto Boxe do Borel, idealizado por Uidson Ferreira, ex-detento e treinador de artes marciais.
Uidson é irmão de Maria Eduarda, estudante assassinada durante uma troca de tiros entre policiais e criminosos em Acari. Desde então, ele transformou a dor em motivação para ajudar jovens do morro a encontrarem novos caminhos.
Tricampeão estadual — duas vezes na categoria Cadete (75 quilos) e uma vez na Juvenil (80 quilos) — Nélson também conquistou duas medalhas de bronze nos Campeonatos Brasileiros Cadete (2024) e Juvenil (2025). Assim, após três anos no boxe de alto rendimento, o atleta começa a enxergar o sol no horizonte.
“Ser convocado para o time nacional juvenil é a certeza que valeu a pena desde a minha chegada ao projeto Boxe do Borel aos sete anos. Ainda temos muitas carências, não temos apoio financeiro, e mesmo assim, outros nomes surgirão da comunidade. Consciência e comportamento serão mais afinados para que eu possa ser um morador do morro visto como referência para a criançada.”
De fato, a Nobre Arte se tornou a solução para a vida dele. Um dos maiores incentivos veio de casa. Seu pai, ex-líder comunitário que já cumpriu pena, é o fã número 1 do filho.
Além disso, Nélson Júnior cursa o Ensino Médio e ajuda nas despesas familiares. Trabalha em casas de festa animando aniversários infantis e atende clientes com serviços de pintura e jardinagem. Dessa forma, ele mantém o foco e a disciplina dentro e fora do ringue.
Essa jornada vem sendo pavimentada com o suporte do técnico Uidson Ferreira e da Delfim Academia, referência nacional do boxe na Tijuca. Por isso, o atleta acredita que o futuro reserva grandes conquistas.
O futuro
Com determinação e esperança, o pugilista, que há dois anos disputa competições oficiais no país, busca o salto internacional. O primeiro passo é se firmar na seleção brasileira juvenil e, em seguida, buscar as competições mundiais. Por fim, o grande sonho é representar o Brasil nas Olimpíadas.