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‘Mandetta cruzou a linha da bola e fez falta grave’, avalia Mourão

Apesar de fazer críticas ao ministro da Saúde, vice-presidente opinou que ele não deve sair do cargo neste momento

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Apesar de fazer críticas ao ministro da Saúde, vice-presidente opinou que ele não deve sair do cargo neste momento
(Foto: Reprodução)

(Por: Simone Kafruni/Correio Braziliense) O vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), disse, nesta terça-feira, que o novo coronavírus está sendo politizado no Brasil, mas que isso também ocorre em outros países. Em videoconferência, afirmou que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, “cruzou a linha da bola”, cometendo uma falta grave (no pólo, jogo praticado pelo vice-presidente) durante a entrevista que concedeu no domingo, quando disse que “o povo não sabe se escuta o presidente Jair Bolsonaro ou o ministro da Saúde”. “Ele não precisava ter dito algumas coisas”, destacou. No entanto, Mourão opinou que ele não deve sair. “Existe muita especulação e o presidente não deve trocar o ministro agora”, disse.

O general rechaçou que a ala militar tenha tido influência na manutenção de Mandetta no cargo. “Tem sido nossa grande preocupação separar as Forças Armadas dos elementos militares que fazem parte do governo. Nenhum comandante fica dando apoio expresso ao governo, porém cumpre sua missão, como irá cumprir com relação a qualquer governo”, destacou. “Ala militar foi um figura militar criada por parte da imprensa. O que existe são ministros militares. O general Heleno, do GSI, ocupa um cargo tradicional do Exército. Então, no Planalto, tem mais dois ali onde não havia militares e eu, que fui eleito junto com o presidente. No caso do ministro Mandetta, está sendo considerado muito bom, agora, então, capitaneado pelo ministro Braga Netto (Casa Civil), porque precisa de um coordenador. A questão envolve vários ministérios, Cidadania, Relações Exteriores”, disse.

“Não será favorável nessa hora (a troca). Avaliando a situação e o trabalho do Mandetta cabe muito mais uma conversa, chamar e acertar a passada, e discutir intramuros e não via imprensa. Eu não estava na conversa que tiveram (Bolsonaro e Mandetta) na semana passada. Todo mundo diz que existe um anão embaixo da mesa do presidente. Então, a não ser o anão tenha ouvido alguma coisa…”, brincou. Mourão, entretanto, negou que tenha havido entrevero na reunião ministerial da semana passada. “Ele abriu a reunião em relação a todo o ministério, sobre a necessidade para uma maior coordenação. Quando chegou a hora do Mandetta falar, ele apresentou suas ponderações sobre a situação, a coisa transcorreu num nível de serenidade e lealdade. Não houve essa briga.”

Isolamento

Ao ser questionado sobre qual forma de isolamento acha melhor, se a horizontal, proposta por Mandetta, ou a vertical, defendida pelo presidente, Mourão respondeu que prefere o isolamento inteligente. “A realidade é que temos que buscar os dados concretos para conhecer a real situação que está sendo enfrentada. Na minha opinião, o que está ocorrendo, apesar de não termos exata dimensão por falta de testes, é que a curva vem sendo controlada e colocada de forma amena para realidade do nosso país”, destacou.

“Para buscar um isolamento inteligente, precisamos ter uma testagem maior a fim de definir grupos onde há risco ou onde é menor. O presidente tem chamado a atenção para isso, temos que olhar mais para as ações do que as palavras”, sustentou. Segundo Mourão, apenas 500 municípios, de 5,5 mil, têm grande incidência de contaminados. “Poderíamos isolar áreas não contaminadas e elas poderiam operar normalmente. Com medidas mais restritivas nas áreas onde há mais infectados. Essa avaliação ainda não ocorre”, disse.

Defesa

Por mais de 40 minutos, Mourão falou sobre coronavírus, Amazônia, polarização, fake news e as divergências entre o ministro da Saúde, alguns governadores e o presidente Jair Bolsonaro. Em nenhum momento, contudo, foi contundente contra o chefe do Executivo. Pelo contrário. Citou o 36º presidente norte-americano, Lyndon Johnson, para justificar algumas atitudes de Bolsonaro. “O vírus está sendo politizado, em outros países e aqui no Brasil, fruto da polarização. Eu não critico governador A ou governador B. Mas Lyndon Johnson, que lutou de todas as formas em passar a legislação específica para cidadania aos negros americanos, disse uma coisa certa: se o homem não pode implementar o que acha correto na presidência para que ser presidente?”.

Mourão defendeu Bolsonaro ao dizer que o presidente mostra, desde o início, uma preocupação com a população desassistida, àquela em que o Estado tem mais dificuldade de chegar. E criticou as carreatas de domingo. “As pessoas que vão às ruas – estamos há um mês com a turma confinada – eu chamo de isolamento zona sul. Pessoal cujo salário não foi afetado e recebe comida por delivery dos melhores restaurantes. Essa turma está incomodada e executou seu direito de se expressar. Mas não foram (carreatas) expressivas. A favela não foi protestar”.

Três curvas

O general Mourão ressaltou que o país precisa buscar equilíbrio para enfrentar três curvas. “Temos a curva da doença, que precisamos manter num nível em que nossos sistema de saúde possam tratar os casos graves, a curva do PIB (Produto Interno Bruto), que temos de buscar manter no nível mais aceitável possível, e a curva do emprego”, enumerou. “Grande parte dos brasileiros está na informalidade e precisamos visualizar uma retomada mais forte a partir do momento em que ultrapassarmos o pico da pandemia. Eu julgo que o governo terá que ter papel preponderante — vamos nos endividar mais –, porque a construção civil será ponto importante para empregar a massa fora do mercado e dar o empurrão necessário à economia”, disse.

Cloroquina

“Essa questão da cloroquina, eu passei um ano em Angola e tomava semanalmente para evitar malária. Existe parte do grupo médico que considera que ela tem resultado (no grupo dos extremamente graves se salvar a vida de 15% dos que iriam falecer, tem validade). Existe um debate, eu prefiro esperar. Temos a turma que defende que depois do segundo ou terceiro dia já poderia ser usado, mas tem reações no sistema cardíaco. Como não tem um estudo consistente, e estamos no calor da disputa, acontece esse antagonismo em relação ao remédio”.

Atraso de salários dos servidores

Indagado se concorda que funcionários públicos devem dar sua cota de sacrifício, com redução salarial, o general disse que essa discussão está dentro da proposta de reforma administrativa. “Estava no forno, previa uma série de medidas para conter o avanço das despesas, o funcionalismo é um dos responsáveis pelo desequilíbrio fiscal”, destacou. Além disso, essa cota estava prevista no Plano Mansueto, que o vice-presidente chamou de Mãesueto. “Mas a Câmara optou por não incluir (o corte nos salários). Poderá ocorrer o que já acontece no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, ou seja, o pagamento será atrasado. Às vezes, é melhor ter um recuo agora para voltar à normalidade daqui a quatro, cinco meses”, afirmou.

Fundo eleitoral

Usar o fundo eleitoral para o enfrentamento do coronavírus, poderia resolver uma parcela, mas não o problema todo, no entender do vice-presidente Hamilton Mourão. “É mais uma meia xícara de água na situação que estamos vivendo. Então, vamos deixar de lado. Financia a eleição, que  tem de ocorrer este ano, não sei se em outubro, novembro ou dezembro”, disse. Mourão sugeriu que fique a critério de cada partido usar, espontaneamente, os recursos para doações.

Fake News

Para o vice-presidente, as fake news sempre existiram. “Eram o boato, que a tecnologia colocou no maior alto nível. Circula de tudo. O grupo dos meus companheiros de turma da academia militar, esclarecidos, na reserva, se eu ler diariamente o que circula, é uma loucura total. É uma fenômeno da atualidade”, comentou.

Sobre a influência das fake news sobre o presidente Bolsonaro, Mourão afirmou: “Ele aderiu há mais tempo a essa coisa de rede social. Tem uma rede que o acompanha enorme. Compreendeu que esse é o processo mais eficaz de comunicação com a população. Óbvio que chega mensagem que ele deveria ignorar”, disse. “Eu já fui ofendido. É um fenômeno moderno. Todo mundo fala o que quer, atira para todos os lados. Cabe a cada um entender o que vale ou não vale, para ir formando opinião sobre a realidade. Mas circula muito lixo. Temos que saber enfrentar isso”.

Tutela

Mourão negou tutela sobre o presidente. “O que existe é um processo decisório. A situação é estudada por diferentes grupos que definem linhas de ação e tudo é levado ao presidente. Cada grupo vai defender sua linha de ação, mas ele é o decisor de acordo com as observações que foram feitas. Não há tutela e nem insubordinação, que é previsto no código militar, mas não no civil. As nuances, ainda mais na política, são totalmente distintas da caserna”.

Amazônia

Mourão comanda o conselho da Amazônia. “Assumi quase concomitantemente com a chegada do vírus. Sabíamos que todos os esforços estariam para combater a pandemia e que a turma que quer cometer delitos corre para o outro lado. Fizemos uma reunião, gestão de crise, com planejamento para ações repressivas contra o desmatamento, que está ocorrendo. Esse planejamento será apresentado ao presidente nesta sexta-feira. Vamos entrar em campo aumentando a capacidade de repressão, mesmo com dificuldades de recursos econômicos porque estão direcionados para o coronavírus, para nos anteciparmos ao passo seguinte que é a queimada. Estamos integrados com os governos principais e vamos atuar em áreas que representam 70% do desmatamento”.

Popularidade

Questionado se a perda de popularidade do presidente poderá influenciar as próximas eleições, Mourão destacou que “muita água ainda vai rolar debaixo da ponte” reeleição. “Vamos esperar pelo avanço da pandemia e o avanço do combate às consequências na economia. A partir daí vamos ver como será a posição do presidente, porque teremos dois anos para arrumar o país. A vida não vai parar. Tudo o que gastarmos no presente momento terá de ser pago no futuro, é preciso deixar claro que é um gasto transitório que não pode ser permanente”.

Vice-presidência

Mourão afirmou que poderá acompanhar Bolsonaro na reeleição se isso for da vontade do presidente. “Minha relação com o mundo político é de respeito, mesmo discordando das ações de vários, mas isso faz parte da política. Quando terminar esse período, se Bolsonaro me quiser para acompanhá-lo, vou. Mas estarei com quase 70 anos e, se não for, terei tempo para os meus netos”.

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