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Projeto com jovens da Rocinha sobre suicídio será apresentado em Congresso Europeu de Psiquiatria, na Hungria

Série de encontros envolve cerca de 140 alunos e é promovida por clínica psiquiátrica do Rio e grupo de teatro e dança da comunidade

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Projeto com jovens da Rocinha sobre suicídio será apresentado em Congresso Europeu de Psiquiatria, na Hungria (Foto: Divulgação)
Projeto com jovens da Rocinha sobre suicídio será apresentado em Congresso Europeu de Psiquiatria, na Hungria (Foto: Divulgação)

Um trabalho desenvolvido na Rocinha, Rio de Janeiro, para estimular o debate sobre o suicídio como forma de promoção da saúde mental será apresentado no 32º Congresso Europeu de Psiquiatria, realizado em Budapeste, Hungria, em abril de 2024. A iniciativa, resultado da parceria entre a Clínica Jorge Jaber e a Associação Sociocultural Semearte, envolve cerca de 140 alunos com idades entre 13 e 22 anos que participam de encontros com profissionais da área de psiquiatria onde interagem por meio de palestras, rodas de conversa e arte. O foco entre a clínica que tem quase quatro décadas de atuação e a organização que oferece oficinas culturais na comunidade é estimular a discussão e esclarecer dúvidas e medos que envolvem o tema.

“Vai ser uma experiência muito rica compartilhar este projeto desenvolvido na Rocinha com a comunidade psiquiátrica internacional. Uma iniciativa transformadora para a vida destes jovens e que pode inspirar muitas outras ações mundo afora”, afirma o psiquiatra Jorge Jaber, responsável pelo trabalho.

O primeiro encontro aconteceu em setembro, mês dedicado à prevenção do suicídio, na Biblioteca Parque da Rocinha. O segundo será realizado no dia 18 de novembro, a partir das 10h30, no Cine Estação Botafogo, onde os alunos assistirão ao vídeo produzido pelo cineasta Cavi Borges, da Cavídeo, que vem documentando todo o processo.

“A expectativa é que estes 140 jovens que participarão dos debates se tornem multiplicadores das informações e possam ajudar no trabalho de prevenção. Nosso propósito é resgatar vidas através da arte e a saúde mental é um elemento fundamental”, explica a presidente da Semearte, Talita Santos.

A primeira reunião, no dia 9 de setembro, serviu para medir o grau de conhecimento dos jovens sobre o suicídio. Eles assistiram a uma palestra da equipe da Clínica Jorge Jaber, e avaliaram juntos as respostas para as dez perguntas que receberam na chegada ao evento. O suicídio tornou-se um tema presente na vida dos jovens que estudam teatro e dança da Semearte. Recentemente, eles perderam desta maneira uma amiga da comunidade, futura integrante do grupo de teatro, o que gerou, além de tristeza, apreensão e dúvidas.

“Entre as pessoas jovens, o índice de suicídios subiu 54% de 2009 a 2019, se tornando a segunda causa de mortes, atrás apenas dos acidentes de trânsito. E a OMS afirma que 90% dos episódios poderiam ser prevenidos, o que torna o problema ainda mais desolador”, afirma o psiquiatra, que já vem trabalhando na comunidade desde o ano passado em parceria com o Instituto Desportivo Cultural Haroldo Britto, que oferece gratuitamente cursos de judô para 80 crianças e jovens entre 7 e 14 anos de idade na Rocinha e na Chácara do Céu.

O objetivo destas parcerias é promover a saúde mental por meio do esporte e da arte. Jaber lembra que muitos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais como depressão e transtorno bipolar, problemas que podem ser prevenidos e tratados.

“Os encontros com os alunos da associação são uma resposta a esta necessidade. E nesta segunda etapa ainda os leva a um tradicional espaço de cultura da cidade, aproximando-os do mundo das artes e do entretenimento, onde certamente muitos poderão trabalhar após o curso na Semearte”, completa.

A Associação Sociocultural Semearte atende cerca de 140 crianças e adolescentes e funciona provisoriamente na Biblioteca Parque da comunidade, promovendo atividades de teatro e dança. Em outubro, o grupo estreou, no Teatro Vanucci, o espetáculo “Rio”, inspirado na animação de 2011 do mesmo nome, dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha e grande sucesso nos cinemas. Os alunos de dança se apresentam em saraus nas escolas da região. E as metas para os próximos meses são aprofundar o trabalho com a música e o canto e criar um projeto para qualificação na área do audiovisual para dar encaminhamento profissional aos formados.

“Fizemos uma pesquisa recente na comunidade e a maioria dos jovens respondeu que prefere parar de estudar para trabalhar, então nós mostramos a eles que existe perspectiva para suas vidas, mas é importante se preparar”, explica Talita Santos.

A ideia é que os dois encontros sobre suicídio sejam apenas a primeira parte de uma parceria com a Clínica Jorge Jaber, dentro do projeto mantido pela associação chamado “Rodas de Conversa”, quando os alunos debatem com profissionais de forma lúdica sobre questões importantes para esta faixa etária, como gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis.

O suicídio há tempos deixou de ser um tabu e hoje é o foco da campanha batizada de Setembro Amarelo, mês dedicado à sua prevenção. Autoridades em saúde consideram o suicídio uma ocorrência complexa, influenciada por fatores psicológicos, biológicos, sociais e culturais, que faz, no mundo, mais vítimas que a Aids, o câncer de mama e até os homicídios. No Brasil, entre os 12 mil casos registrados por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), parte considerável ocorre com pessoas entre os 15 e os 24 anos de idade.

O projeto com os alunos da Rocinha é fruto da parceria entre a Clínica Jorge Jaber e a Semearte. O evento do dia 18 conta com o apoio da Cavídeo e do Estação Botafogo.

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