Rio
Traficante Sardinha ganhou “saidinha” do Dia dos Pais e é alvo de operação
Desembargador, hoje afastado pelo CNJ, autorizou saída temporária de Luciano “Sardinha”, que fugiu após ser liberado
O traficante Luciano da Silva Teixeira, conhecido como Sardinha, apontado como chefe do tráfico de drogas na Cidade de Deus, foi liberado para uma “saidinha” de Dia dos Pais por decisão do desembargador Cairo Ítalo, da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A decisão foi tomada em 10 de agosto, e o criminoso nunca retornou à prisão.
A medida é um dos motivos que levaram o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a afastar o magistrado de suas funções. Cairo Ítalo também é investigado por decisões favoráveis a outros dois condenados ligados a facções criminosas.
Operação do Bope

Na noite de quinta-feira (16), o Bope realizou uma operação na comunidade da Tirol, na Freguesia, Zona Sudoeste do Rio, para tentar capturar Sardinha, que comemorava o aniversário em uma casa com cerca de 20 homens armados.
Durante a ação, houve tiroteio, e o traficante conseguiu fugir para uma área de mata. Segundo a Polícia Militar, os criminosos chegaram a tomar nove ônibus — sete na Cidade de Deus e dois na Tirol — para usar como barricadas, provocando caos e pânico entre moradores.
Uma nova operação foi deflagrada na manhã desta sexta-feira (17) para tentar localizar o criminoso, mas ele continuava foragido até a última atualização desta reportagem.
Decisão judicial e justificativa
No despacho em que concedeu a saída temporária, Cairo Ítalo justificou que o preso apresentava “comportamento excepcional” desde 2021 e preenchia os requisitos legais para visita periódica ao lar (VPL).
“Segundo os documentos dos autos, verifico que o paciente cumpriu os requisitos objetivos e subjetivos para a concessão da VPL (Visita Periódica ao Lar) e, uma vez preenchidos os requisitos legais, não se pode negar a sua pretensão. A vida numa democracia exige que os direitos estabelecidos sejam respeitados. Vale destacar que, consta na transcrição da ficha disciplinar o índice de comportamento do paciente foi classificado como “EXCEPCIONAL”, desde 28/11/2021”, escreveu o magistrado.
Apesar da liberação, o juiz negou pedido para que Sardinha trabalhasse fora da prisão, após constatar que o endereço informado pela defesa não existia.
Sardinha, condenado a 24 anos de prisão por homicídio qualificado, associação para o tráfico, porte ilegal de arma de fogo, receptação e resistência, estava detido desde 2014. Em 2019, foi transferido para Bangu 1, após operação da Secretaria de Administração Penitenciária flagrar regalias dentro da cela, incluindo R$ 26,8 mil em dinheiro, 31 celulares, roteadores e drogas.
Afastamento do desembargador
O CNJ afastou Cairo Ítalo por suspeita de conduta irregular em decisões concedidas durante o plantão judiciário. Além da liberação de Sardinha, o magistrado também teria beneficiado Aleksandro Rocha da Silva, o “Sam da Caicó”, chefe do Comando Vermelho, condenado a 147 anos de prisão, e Avelino Gonçalves, apontado como líder do grupo Povo de Israel.
Em nota, Cairo Ítalo afirmou que suas decisões seguiram critérios técnicos e legais, e que apresentará documentação ao CNJ para esclarecer os fatos.