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Camarões convoca seleções diferentes à Copa da África; entenda
A seleção de Camarões vive uma de suas maiores crises institucionais às vésperas da Copa Africana de Nações (CAN). Uma polêmica sem precedentes ganhou repercussão continental após a divulgação de duas listas de convocados diferentes para a competição. Uma, anunciada pelo presidente da Federação Camaronesa de Futebol (FECAFOOT), Samuel Eto’o, e outra divulgada pelo técnico da seleção, Marc Brys. O episódio escancara o entendimento rompido entre as partes e levanta dúvidas sobre o comando real dos Leões Indomáveis.
O conflito entre Samuel Eto’o, ídolo histórico do futebol africano e atual dirigente máximo da federação, e Marc Brys, treinador contratado recentemente, vem se arrastando há meses. Divergências sobre autonomia técnica, influência política e controle do projeto esportivo culminaram em um cenário caótico: duas convocações oficiais para o mesmo torneio.
Enquanto Eto’o apresentou uma lista respaldada pela federação, Brys divulgou outra, alegando ser o responsável técnico legítimo pela seleção nacional. A situação gerou confusão entre jogadores, clubes e torcedores, além de provocar reação imediata da imprensa local. Eto’o anunciou a demissão do treinador belga recentemente. Mas Brys afirma que foi contratado pelo Ministério dos Esportes e não recebeu nenhum comunicado oficial da demissão.
Vale lembrar que a seleção de Camarões está fora da próxima Copa do Mundo. O país quatro vezes campeão africano acabou eliminado precocemente, ainda repescagem, para a seleção da República Democrática do Congo.
Eto’o x Marc Brys: quem manda na seleção?
A disputa de poder entre Eto’o e Brys vai além de uma simples discordância esportiva. O presidente da FECAFOOT defende que a federação tem a palavra final sobre decisões estratégicas, incluindo a convocação. Já Marc Brys sustenta que a interferência direta compromete o trabalho técnico e viola princípios básicos de gestão esportiva.
Essa queda de braço coloca a seleção camaronesa em posição delicada justamente antes de um dos torneios mais importantes do continente. A Copa Africana de Nações é prioridade nacional, e qualquer instabilidade pode impactar diretamente o desempenho em campo.
Jogadores no meio do fogo cruzado
Com duas listas circulando, jogadores ficaram em situação desconfortável. Alguns atletas apareceram em apenas uma das convocações, enquanto outros acabaram chamados por ambos, mas sem saber a quem responder oficialmente. Clubes europeus, por sua vez, aguardam uma definição clara para liberar seus atletas.
A lista considerada oficial pela federação é assinada pelo novo técnico da seleção camaronesa, David Pagou. Nela, existem algumas ausências importantes, como o goleiro André Onana e o atacante Vincent Aboubakar. Ambos são os dois principais jogadores da equipe, sendo que Aboubakar fez o gol da vitória de Camarões sobre o Brasil, na Copa do Mundo de 2022.
Marc Brys acusa Eto’o de deixar Aboubakar de fora para proteger seu recorde como maior artilheiro da história da seleção. De fato, Aboubakar está a apenas 11 gols de alcançar Eto’o. Em sua lista de convocação, o belga incluiu as duas estrelas, mas também chamou um jogador surpreendente: o volante Kandem, que joga no futebol brasileiro. Ele atuou pelo Penarol, do Amazonas, na última temporada e já está acertado com o Sport Sinop (MT). Ainda assim, a falta de experiência no nível internacional chama a atenção.
A indefinição, aliás, também ameaça a preparação logística, treinos e amistosos prévios à CAN, elementos essenciais para uma campanha sólida.
Repercussão internacional e risco para Camarões
A polêmica em Camarões rapidamente ultrapassou fronteiras, sendo tratada como um caso grave de ingerência administrativa no futebol africano. Especialistas apontam que a crise pode resultar em sanções esportivas ou intervenção de órgãos superiores caso não haja uma resolução rápida.
Em campo, o reflexo tende a ser negativo. A falta de unidade e comando claro compromete o ambiente interno e, dessa forma, pode custar caro em um torneio tradicionalmente equilibrado como a Copa Africana de Nações.
A expectativa agora gira em torno de uma mediação que defina qual convocação será reconhecida oficialmente e quem terá a autoridade final sobre a seleção. Sem isso, Camarões corre o risco de chegar à CAN envolto em instabilidade, desperdiçando assim o potencial de uma das seleções mais tradicionais do continente.
Camarões estreia na Copa Africana de Nações no próximo dia 24, contra o Gabão.