“Moldada na dor”: padrasto é preso após criança ser internada em estado grave
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“Moldada na dor”: padrasto é preso após criança ser internada em estado grave

A menina está internada com perfuração intestinal, fratura no braço, sepse abdominal e hematomas; polícia revela rotina de violência

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“Moldada na dor”: padrasto é preso após criança ser internada em estado grave. Foto: Divulgação/PCERJ

A Polícia Civil prendeu, na sexta-feira (16), Israel Lima Gomes, conhecido como “Rael”, suspeito de torturar a enteada de 4 anos na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. A menina está internada em estado grave no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), da UFRJ, com perfuração intestinal, fratura no braço, sepse abdominal e múltiplos hematomas.

De acordo com os médicos, a criança chegou à unidade em situação crítica, após sofrer quatro paradas cardíacas e apresentar vômito esverdeado.

A Polícia foi acionada por acompanhantes de outros pacientes, que se mobilizaram ao ver o estado da criança. A mãe precisou ser escoltada por seguranças dentro do hospital após manifestações de revolta.

Mensagens indicam tortura e omissão

Durante as investigações, agentes da 37ª DP (Ilha do Governador) encontraram mensagens trocadas entre Israel e a mãe da criança. Em um dos trechos, ele afirma:

“Ela é forte porque estou moldando ela na dor. Fica fraco quando é só amor.”

A mãe, mesmo diante de sinais claros de agravamento no estado de saúde da filha, hesitou em procurar atendimento médico. Em outra mensagem, ela diz:

“Não posso levar ela na UPA pra não dar merda.”

Segundo a Polícia Civil, há indícios de que a mulher foi conivente com as agressões.

Criança era mantida trancada e sofria maus-tratos

O inquérito aponta que a menina era trancada em banheiros escuros, forçada a comer fezes e submetida a agressões físicas frequentes. Israel já tinha antecedentes por violência doméstica e importunação sexual — em um dos casos, é acusado de ficar nu diante de uma criança de 12 anos.

As agressões eram justificadas com alegações de acidentes domésticos. Em uma conversa, a mãe relata ter visto o companheiro dar uma joelhada na criança por ela recusar comida. Israel nega a agressão e responde com xingamentos.

Prisão e desdobramentos da investigação

A prisão temporária foi decretada para garantir a integridade das testemunhas e evitar a continuidade dos abusos. Outras crianças da residência também podem ter sido vítimas e estão sendo ouvidas.

O delegado responsável pelo caso, Felipe Santoro, classificou a conduta do investigado como um caso de tortura com indícios de premeditação.

“Estamos diante de um caso de tortura sistemática. As mensagens e a omissão de socorro revelam um cenário de violência contínua.”

O caso é tratado como crime de tortura, que é hediondo. No entanto, diante do estado de saúde da vítima, pode ser reclassificado como tentativa de homicídio qualificado.

Israel foi localizado e preso em Paciência, na Zona Oeste. Segundo os policiais, ele não resistiu à abordagem e, ao ser questionado, se referiu à vítima como “amorzinho”.

A Polícia Civil segue com as investigações e a análise de dados extraídos de dispositivos eletrônicos apreendidos com o suspeito.