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Rio

Programa ‘Seguir em Frente’ tem 641 pessoas em estágio remunerado

Mais de 100 assistidos estão procurando quitinetes para alugar e ter autonomia

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Foto Destaque: Edu Kapps / SMS

Das 840 pessoas que saíram da situação de rua com apoio do Programa Seguir em Frente, da Prefeitura do Rio, 641 já aderiram a algum dos estágios remunerados ofertados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

E, dessas, 129 já procuram uma quitinete para alugar com os valores que receberão. São pessoas como Silvânia dos Prazeres, 51 anos, que há um mês vivia nas ruas do Centro, nas proximidades da Praça da Cruz Vermelha, e hoje já está fechando um imóvel para alugar e chamar de lar.

As atividades do estágio remunerado são desenvolvidas nas três unidades abertas pela Secretaria Municipal de Saúde dentro do Programa Seguir em Frente, o PAR Carioca (Ponto de Apoio na Rua), no Centro, a Rua Sonho Meu (Residência e Unidade de Acolhimento), em Cascadura, e a Rua Sorriso Aberto, em Jacarepaguá.

(Foto: Edu Kapps/SMS)

No mês que vem, os estágios começam a ser oferecidos também para os acolhidos em outros abrigos da Prefeitura do Rio. Na RUA Sonho Meu, às sextas-feiras, acontecem palestras voltadas à capacitação para o mercado de trabalho, oferecidas pela Secretaria Municipal de Trabalho e Renda (SMTE) e pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS). A SMTE também está fazendo cadastro de pessoas que estão em busca de oportunidades de trabalho.

Na RUA Sonho Meu, são 417 pessoas que já aderiram a alguma atividade. No PAR Carioca há outras 197 e, na RUA Sorriso Aberto, inaugurada há apenas uma semana, mais 27. Elas são ocupadas em serviços gerais, recolhimento de lixo, capina, cuidados com a horta comunitária, corte de cabelo e barba, entre outras. O pagamento é proporcional aos dias de atividades efetivamente executadas por cada pessoa.

Acolhida ganha nova oportunidade e quer reconquistar a filha

Otimista, Silvânia atua como estagiária de limpeza da Rua Sonho Meu e empunha a vassoura com um sorriso largo. Quer voltar a ter um lar depois de seis meses nas ruas; quer tratar de uma vez por todas a lesão no pé que a retirou do mercado de trabalho e a fez perder sua antiga moradia; e também quer reconquistar a filha após recuperar a sobriedade.

“Fiquei na rua e foi subumano. Estou tendo a oportunidade de ser gente de novo. O meu foco aqui é o trabalho. Antes, no Rio de Janeiro, não existia esse tipo de oportunidade”, diz Silvânia arrepiada e com os olhos marejados.

Ela foi uma das primeiras pessoas acolhidas pelo Programa Seguir em Frente no PAR Carioca, montado próximo à Praça da Cruz Vermelha, onde ela costumava dormir. Dali, foi encaminhada para a RUA Sonho Meu, onde está desenvolvendo as atividades diariamente e já se prepara para trocar a unidade pela morada própria, ali mesmo por Cascadura, para ficar próxima à unidade de acolhimento.

“Já estou alugando minha quitinete, aqui perto mesmo. Nem que seja só pra eu dormir, porque os móveis depois eu vou comprando. Pra passar a vaga pra outra pessoa que precise”, explica Silvânia.

Depois do revés, uma nova chance

Ex-usuária de drogas, Silvânia passou uma temporada trabalhando na limpeza de banheiros em São Paulo. Anos após se reabilitar da dependência química, ainda não havia conseguido se reerguer financeiramente. Um dia, durante o expediente, telhas de cimento despencaram sobre o seu pé direito. Um tratamento inadequado e malsucedido aprofundou a lesão, que demandou uma internação e três cirurgias.

O acidente agravou um contexto que já era delicado. Ela não conseguiu se recolocar no mercado, voltou para o Rio de Janeiro, mas, sem ter como se sustentar, acabou nas ruas, onde vivia sem esperança e perspectivas havia cerca de seis meses. A ferida no pé ainda não cicatrizou, fica sempre coberta, se abre de tempos em tempos, bem na dobra entre a canela e o pé.

Silvânia dos Prazeres (Foto: Edu Kapps/SMS)

“Estou reconquistando minha família, minha filha de 24 anos. Perdi casa, perdi tudo. Estou há três anos sem usar droga nem álcool. Mas, nos últimos meses, estava tão desesperada que quase voltei a usar. Aí, surgiu esse programa da prefeitura”, conta.

Ao aderir ao Seguir em Frente, Silvânia recebeu não só uma ocupação e um abrigo digno, mas também o cuidado que sua condição requeria: “Até fui para a clínica da família num carro com ar-condicionado”, brinca, destacando que agora se sente “feliz e digna”. Agora, ela sonha com uma vida honrada, com seu próprio teto, um emprego digno e a companhia da família: “Meu sonho é abrir um lugar pra vender quentinha. Adoro cozinhar.”

Programa Seguir em Frente

O Programa Seguir em Frente é o plano de ação e monitoramento para efetivação das medidas de proteção à população em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro. O planejamento estabelece diversas medidas de acolhimento, assistência social e saúde para o cuidado e diagnóstico desse grupo populacional mais vulnerável. O objetivo é criar condições para a ressocialização, promovendo a reinserção no mercado de trabalho e resgatando a cidadania.

A proposta do projeto é, em cinco fases sequenciais, criar condições para que as pessoas saiam das ruas para unidades de acolhimento; promover o tratamento de saúde que cada um precise; dar ocupação remunerada, no próprio projeto, em atividades de interesse público ou em instituições parceiras; construir um futuro com a preparação para o mercado de trabalho e geração de renda; conquistar autonomia para deixar o programa e seguir em frente, reinserido na sociedade e com a cidadania resgatada.

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