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Campeonato Brasileiro

Sem clube, zagueiro Gum projeta aposentadoria dos gramados: ‘Amadurecendo a decisão’

Em entrevista exclusiva ao tupi.fm, defensor admitiu propostas recentes e afirma que momento é aproveitar a família

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Gum assistindo jogo na Europa - Foto: arquivo pessoal/Instagran

Atualmente sem clube após deixar o CRB-AL na última temporada, o zagueiro Gum de 38 anos está próximo de anunciar a aposentadoria dos gramados. A carreira do jogador teve início nas categorias de base do Marília, no interior de São Paulo, porém foi no Fluminense que o defensor viveu os principais momentos no futebol conquistando respeito e carinho da torcida Tricolor. Em entrevista exclusiva ao tupi.fm, Gum revelou ter recebido propostas e sondagens, porém pretende no momento dedicar mais tempo aos familiares, algo difícil durante o dia a dia de treinos, concentrações, viagens e jogos.

– Hoje me encontro sem clube e a história começa no dia 25 de novembro de 2023, onde acabou meu contrato e a temporada para o CRB. Tive alguns convites e quase permaneci no clube. Uns queriam que eu jogasse, outros que viesse a exercer uma função de diretor para que pudesse ajudar com toda experiência que obtive ao longo da carreira. Eu queria jogar um pouco mais, porém as coisas não aconteceram e não aceitei a renovação. Viajei para Marília para curtir às férias e mesmo antes de acabar o ano tive algumas propostas, mas acabei optando em não aceitar. Fui procurado por equipes que jogam a Copa do Nordeste como ABC-RN e Ferroviário-CE, no entanto já tinha viagem marcada e preferi curtir o momento de férias com a família. Alguns clubes já jogariam nos dias 7 e 8 de janeiro partidas da Pré-Copa do Nordeste. Surgiram propostas esse ano e recusei porque comecei a gostar dessa realidade de ter qualidade de vida com meus filhos, coisa que é difícil no futebol por causa dos treinos, viagens e concentrações.

– No meio disso tudo surgiu uma sondagem do Marília, clube onde eu joguei toda base desde o infantil até o profissional. O coração balançou um pouco, mas optei novamente em ficar em casa. A decisão em nada teve relação com parte salarial, mas o fato de ficar perto dos familiares e amigos. Apareceu também uma oferta do Linense-SP, onde passei minha infância já que sou nascido em São Paulo. Fui até a cidade de Lins, voltei ao estádio lembrando o caminho que fazia para treinar e sonhar com o futebol. Na época pegava carona com os amigos porque eu não tinha nem bicicleta. Quase houve o acerto que acabou não acontecendo. Hoje estou em casa mais disposto a me aposentar do que aceitar um novo projeto profissional – disse Gum.

Gum chegou ao Fluminense em 2009, onde jogou até 2018 tendo disputado 407 partidas e marcado 28 gols. No Flu, ele foi bicampeão brasileiro em 2010 e 2012, além de ter levantado o troféu de campeão Estadual também em 2012. Ele não esconde o amor pelo ex-clube, afirma que sempre acompanha as partidas com a família e comemorou a conquista da Libertadores de 2023.

– Tenho acompanhado e torço muito pelo Fluminense. Aqui em casa nós nunca deixamos de ver o Fluminense em campo. É uma alegria muito grande ver o time ganhando e sendo campeão da Libertadores. O Fluminense tem feito ótimos Cariocas, Brasileiros, foi campeão da América e disputou Mundial. Amamos o clube e somos torcedores de coração. Ficamos felizes de ver bons jogadores e a torcida lotando o Maracanã. Ano passado acho que deu uns 40 mil torcedores em média. Tive a oportunidade de assistir o Fla-Flu pelo Brasileiro para levar a família e estar perto de um ambiente onde fui muito feliz.

Gum e familiares torcendo pelo Fluminense – Foto: arquivo pessoal

Quando pendurar oficialmente as chuteiras, Gum quer retribuir ao futebol tudo o que conquistou com o esporte. Boa praça, de fácil relacionamento, ele revelou que já recebeu propostas para exercer papel em diretoria, algo provável que aconteça no futuro.

– Quero dar os parabéns aos clubes que absorvem essa visão de trazer ex-atletas que entendem de futebol. De uns cinco anos pra cá se tornou mais frequente ex-jogadores que viveram muito tempo nos clubes e hoje trabalham para agregar experiência. Esse fato acontecia mais na Europa e hoje também no Brasil. Eu me considero com perfil pra isso e já tive convites anos atrás para exercer tal função. Vários clubes fazem um pacote para jogar determinados campeonatos e depois continuar fora das quatro linhas exercendo um cargo quando chegar a hora da aposentadoria. Me pedem para ajudar com experiência, caráter, homem e conduta de atleta profissional. Hoje eu prefiro recuperar o tempo que perdi com a família e que não volta atrás. Meus filhos perguntam se vou viajar pelo fato de sentirem a falta do pai. Tenho vontade de retribuir ao futebol tudo que ele me entregou, porém preciso de pelo menos uns seis meses para depois pensar em um cargo e ajudar de alguma maneira – respondeu Gum, que trabalha como comentarista em jogos do Fluminense em um canal no Youtube transmitindo partidas do Campeonato Carioca.

– O convite surgiu justamente por eu sempre ter tido um bom relacionamento com a imprensa e jornalistas. Sempre tive também posicionamentos quando era perguntando sobre tal tema e separei muito bem o fato de falaram mal ou bem de mim. Bons e maus profissionais existem no futebol e em todos os outros segmentos da sociedade. Sempre soube lidar com críticas que fugiam a análise simples de ter jogado bem ou não. Estou vendo o outro lado de uma profissão que exige muito conhecimento, preparação e estudo para entregar o melhor. O jornalista quando comenta futebol tem uma visão bem diferente em relação a que o atleta tem. Ainda tenho esse lado do atleta profissional já que não me aposentei, mas estou amadurecendo a decisão para anunciar na hora certa – explicou ele.

Confira na íntegra outros trechos da entrevista do zagueiro concedida ao tupi.fm.

Rotina no futebol

– Quando você é jovem se torna um sonho jogar futebol e mudar de vida na parte financeira. Sou grato a Deus por ser um homem realizado na carreira. Dentro do que é vendido para o público só 3% tem uma remuneração que muda de patamar. A grande maioria passa dificuldade. É um preço muito forte se dedicar a um clube de grande porte. O jogador tem que se dedicar muito na parte física, ficar longe da família e perder muitas datas como aniversário de filho e esposa, casamentos de pessoas próximas e tantas outras situações que existem no dia a dia. Jogadores quando encontram essa condição financeira logo querem se aposentar para não pagar mais o preço de uma vida estressante e cansativa do futebol. Quando o resultado não aparece vem logo o xingamento, arremessam coisas em você, tem que sair escoltado de aeroporto e tudo isso é muito complicado.

Crescimento do Brasil em gestão esportiva

– Existe evolução em questão de conhecimento e produto. A CBF lançou essa parte do conhecimento com pessoas ligadas ao futebol fazendo cursos, pegando diplomas e adquirindo experiência. Estamos colhendo os frutos, que ainda são pequenos em relação a que os próximos anos vão oferecer. Toda essa gestão de carreira está sendo aprimorada de um executivo, supervisor, treinador e membros de comissão.

SAF’S

– A ideia foi muito boa mediante clubes que estavam quebrados, porém cada situação precisa ser avaliada individualmente. Cada clube tem sua história, necessidades, contas e compromissos que precisam ser honrados. Quem tava quebrado precisava rápido da entrada de uma SAF. Os clubes que estão sendo bem geridos e possuem uma condição financeira melhor têm a tranquilidade de não necessitar de uma venda até por um valor mais baixo do que de fato possam valer, casos do Palmeiras e Flamengo. Eu fico muito feliz como tricolor de coração que o Mário Bittencourt (Presidente do Fluminense) nos últimos anos tá fazendo uma bela gestão recuperando o clube. O Fluminense não tem o desespero de Vasco, Botafogo e outros mais que precisavam da mudança imediata. O Fluminense tem credibilidade no mercado e o resultado esportivo aparecendo. A única coisa como atleta que eu fico chateado é ter caducado muito valores. Clubes que entraram na justiça pedindo Recuperação Judicial ou decretaram falência podem ter algumas vantagens. Por exemplo, atletas que tinham R$ 100 mil a receber ou recebem um valor muito menor ou estão aí sem nada. Acaba ficando desigual na parte que envolve o futebol. Em qualquer outra profissão quando a empresa deve um valor não é feito dessa forma. Quando você pega um dinheiro no banco ele não aceita um desconto. Não falo nem por mim, digo pela classe como atleta.

Maior lição tirada do esporte

– O maior aprendizado é ter realizado um sonho que não tem como descrever. A humildade de chegar em lugares grandiosos, conhecer e tratar bem pessoas, viver a vida com alegria e ser campeão. É muito bom deixar um legado de caráter, honestidade e amor ao próximo.

Gum comemora gol contra o Cerro Porteño-PAR que classificou o Flu para final da Sul-Americana de 2009 – Foto: divulgação.

Recordação em campo

– Posso contar de muitos gols abençoados na carreira em momentos importantes sendo lembrado pela torcida. Aquele gol da Sul-Americana de 2009, aos 47 do segundo tempo que deu o empate e a classificação, aonde mudou a chave dentro do Fluminense. Aquilo virou Gum “guerreiro”, como eu passei a ser chamado pela torcida. Até hoje por onde eu passo me chamam de guerreiro. Ficou essa marca entre os amigos e os próprios jogadores. Por mais que o tempo passe isso tá na minha memória e do torcedor do Fluminense também.

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