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Rio

Suicídio entre jovens é tema de debate promovido na Rocinha por clínica psiquiátrica da Zona Oeste

Série de dois encontros em setembro usará a arte para estimular os alunos de grupo de teatro e dança se expressarem sobre o assunto

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Foto Destaque: Divulgação/Psiquiatria Jorge Jaber

Para estimular o debate sobre o suicídio como forma de promoção da saúde mental dos jovens moradores da Rocinha, a Clínica Jorge Jaber se uniu à Associação Sociocultural Semearte na criação de um projeto multiplicador.

Nos próximos dias 9 e 23 de setembro, cerca de 60 alunos com idades entre 13 e 22 anos participarão de encontros com profissionais da área de psiquiatria envolvendo palestras, rodas de conversa e arte.

O foco da parceria entre a clínica que tem quase quatro décadas de atuação e a organização que oferece oficinas culturais na comunidade é estimular a discussão, esclarecer dúvidas e medos que envolvem o tema e, com isso, promover o cuidado com a vida no mês dedicado à prevenção do suicídio, o Setembro Amarelo.

O resultado destas atividades será apresentado posteriormente em uma exposição e todo o processo será documentado pelo cineasta Cavi Borges.

“A expectativa é que estes 60 jovens que participarão dos debates se tornem multiplicadores das informações e possam ajudar no trabalho de prevenção. Nosso propósito é resgatar vidas através da arte e a saúde mental é um elemento fundamental”, explica a presidente da Semearte, Talita Santos.

A primeira reunião, no dia 9, servirá para medir o grau de conhecimento dos jovens sobre o suicídio. Eles assistirão a uma palestra do psiquiatra Jorge Jaber, diretor da clínica localizada na Zona Oeste, e avaliarão juntos as respostas para as dez perguntas que receberão na chegada ao evento.

No dia 23, será a vez de participarem de uma dinâmica que envolverá música, pintura e poesia, quando poderão expressar seus sentimentos por meio da manifestação artística. O suicídio tornou-se um tema presente na vida dos jovens que estudam teatro e dança da Semearte.

Há poucas semanas, eles perderam desta maneira uma amiga da comunidade, futura integrante do grupo de teatro, o que gerou, além de tristeza, apreensão e dúvidas.

“Entre as pessoas jovens, o índice de suicídios subiu 54% de 2009 a 2019, se tornando a segunda causa de mortes, atrás apenas dos acidentes de trânsito. E a OMS afirma que 90% dos episódios poderiam ser prevenidos, o que torna o problema ainda mais desolador”, afirma o psiquiatra, que já vem trabalhando na comunidade desde o ano passado em parceria com o Instituto Desportivo Cultural Haroldo Britto, que oferece gratuitamente cursos de judô para 80 crianças e jovens entre 7 e 14 anos de idade na Rocinha e na Chácara do Céu.

O objetivo destas parcerias é promover a saúde mental por meio do esporte e da arte. Jaber lembra que muitos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais como depressão e transtorno bipolar, problemas que podem ser prevenidos e tratados.

“Os encontros com os alunos da associação são uma resposta a esta necessidade”, completa.

A Associação Sociocultural Semearte atende cerca de 140 crianças e adolescentes e funciona provisoriamente na Biblioteca Parque da comunidade, promovendo atividades de teatro e dança. Em outubro, o grupo estreia, no Teatro Vanucci, o espetáculo “Rio”, inspirado na animação de 2011 do mesmo nome, dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha e grande sucesso nos cinemas.

E em seguida, uma encenação autoral, “Sonho Nordestino”, que conta a vida dos jovens oriundos daquela região do país que vêm para a cidade grande e fazem da Rocinha uma verdadeira cidade do Nordeste.

Os alunos de dança se apresentam em saraus nas escolas da região. E as metas para os próximos meses são aprofundar o trabalho com a música e o canto e criar um projeto para qualificação na área do audiovisual para dar encaminhamento profissional aos formados.

“Fizemos uma pesquisa recente na comunidade e a maioria dos jovens respondeu que prefere parar de estudar para trabalhar, então nós mostramos a eles que existe perspectiva para suas vidas, mas é importante se preparar”, explica Talita Santos.

A ideia é que os dois encontros sobre suicídio sejam apenas a primeira parte de uma parceria com a Clínica Jorge Jaber, dentro do projeto mantido pela associação chamado “Rodas de Conversa”, quando os alunos debatem com profissionais de forma lúdica sobre questões importantes para esta faixa etária, como gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis.

O suicídio há tempos deixou de ser um tabu e hoje é o foco da campanha batizada de Setembro Amarelo, mês dedicado à sua prevenção. Autoridades em saúde consideram o suicídio uma ocorrência complexa, influenciada por fatores psicológicos, biológicos, sociais e culturais, que faz, no mundo, mais vítimas que a Aids, o câncer de mama e até os homicídios.

No Brasil, entre os 12 mil casos registrados por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), parte considerável ocorre com pessoas entre os 15 e os 24 anos de idade.

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