Brasil
PF encontra anotações de propina ligadas à cúpula do INSS
Cadernos apreendidos mencionam supostos repasses a ex-presidente e ex-procurador do INSS; prejuízo pode chegar a R$ 6,3 bilhões
A Polícia Federal apreendeu cadernos com anotações suspeitas de indicar pagamentos de propina a integrantes da cúpula do INSS. O material foi recolhido durante a Operação Sem Desconto, que investiga um esquema de descontos fraudulentos em contracheques de aposentados e pensionistas, com prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
As anotações, localizadas no escritório de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, trazem inscrições como “Virgilio 5%” e “Stefa 5%”, supostamente em referência ao ex-procurador-geral do INSS Virgílio Oliveira Filho e ao ex-presidente do órgão, Alessandro Stefanutto. Ambos foram afastados por decisão da Justiça Federal em abril.
A informação foi confirmada pelo G1 e divulgada pela colunista Malu Gaspar, do jornal “O Globo”.
Quem é o ‘Careca do INSS’ e qual seu papel no esquema?
Segundo a PF, Antunes atuava como lobista e facilitador, articulando acordos entre entidades e o INSS para realizar os descontos, muitas vezes sem consentimento dos beneficiários. Investigadores apontam que ele movimentou R$ 9,3 milhões para pessoas ligadas a servidores entre 2023 e 2024.
O dinheiro teria circulado por meio de empresas de fachada, parte delas ligadas ao próprio Antunes, que aparece como sócio de 21 empresas, sendo que 19 foram abertas a partir de 2022. Pelo menos quatro delas são citadas como peças-chave na chamada “farra do INSS”.
Quantos aposentados foram lesados e como funcionava o golpe?
A PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) afirmam que entidades como sindicatos “associavam” aposentados sem autorização, aplicando descontos mensais direto na folha de pagamento com base em assinaturas falsificadas. A estimativa é de que cerca de 4 milhões de pessoas tenham sido atingidas.
Esses descontos são legais desde 1991, mas exigem autorização expressa, o que nem sempre acontecia. As entidades ofereciam serviços como assessoria jurídica e convênios com farmácias e academias, muitos deles inexistentes ou mal prestados.
O INSS vai realizar a devolução automática dos descontos indevidos aplicados sobre aposentadorias e pensões nos últimos anos. A informação foi confirmada nesta terça-feira (6) pelo presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, em entrevista ao Jornal da CBN. Segundo ele, os beneficiários não precisarão enfrentar filas, apresentar documentos ou realizar qualquer procedimento adicional.
Quem mais recebeu valores suspeitos do lobista?
Entre os citados na investigação está Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do ex-procurador Virgílio Oliveira Filho, cuja empresa teria recebido R$ 7,5 milhões do lobista. O escritório de advocacia de Eric Douglas Fidelis, filho do ex-diretor do INSS André Fidelis, recebeu R$ 1,5 milhão. Já Alexandre Guimarães, ex-diretor de Governança do INSS, teria recebido R$ 313 mil diretamente de Antunes.
O que dizem os citados na investigação?
A defesa de Stefanutto nega qualquer envolvimento e afirma que não há ligação entre ele e o “Careca do INSS”, com quem teria tido contato apenas em eventos públicos. Ele também declarou que jamais recebeu qualquer valor ilícito e que sua gestão reforçou os controles sobre os descontos associativos.
A defesa de Virgílio Oliveira Filho ainda não se pronunciou. Já os documentos da PF apontam que não houve movimentações financeiras atípicas diretamente atribuídas a Stefanutto, embora existam registros de repasses a pessoas próximas.
