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Ciência

Os vazios e os excessos da ditadura da beleza

Especialistas falam sobre alta procura por cirurgias plásticas

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Os vazios e os excessos da ditadura da beleza (Foto: Divulgação)
Os vazios e os excessos da ditadura da beleza (Foto: Divulgação)

O Brasil é o segundo do ranking mundial na realização de cirurgias plásticas, de acordo com pesquisa feita pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica. Em 2020, o número de procedimentos chegou a 1.306.962. A tendência se mantém, principalmente, pela distorção de imagem gerada pelas redes sociais. O aumento do uso das redes sociais, a necessidade de participar de reuniões online e a frequente exposição da própria imagem influenciam no crescimento da busca por procedimentos estéticos.

Essa alta procura gera alguns questionamentos entre especialistas da saúde: quando a cirurgia é eficaz em aumentar a autoestima? Quando ela se torna um exagero? E quando os excessos de procedimentos são frutos de uma distorção de imagem? Como fica a saúde mental da pessoa que realiza muitas cirurgias e procedimentos estéticos? Qual o papel do especialista nesses casos?

O cirurgião plástico, Matthews Herdy, explica quando a cirurgia plástica pode ser positiva para as pessoas: “Existem muitos casos que a intervenção melhora a qualidade de vida do paciente. Por exemplo, mulheres que buscam por uma redução de seios, pois, além de se sentirem incomodadas com o tamanho, sentem que o peso prejudica a postura, deixando-as com dor nas costas e curvadas”, destaca o médico, acrescentando, “Ouço situações no meu consultório de pacientes que se sentiam mal e inseguras, antes da prótese de mama, mas que hoje, com a mudança, se sentem bem mais confiantes”.

Matthews Herdy, cirurgião plástico (Foto: Divulgação)

A psicóloga e psicanalista, Acilen Rian, explica que a busca excessiva por cuidados estéticos pode estar ligada a necessidade de querer se sentir preenchido: “Claro que as cirurgias estéticas e procedimentos podem aumentar a autoestima das pessoas e fazer com que elas se sintam melhores, mas é preciso observar quando isso se torna um exagero e buscar entender por que a pessoa nunca está satisfeita”. A pós-graduada em Saúde Mental, destaca que o medo de perder o aspecto jovem também é um fator que faz as pessoas buscarem por esses procedimentos. “Envelhecer é visto, socialmente, de forma negativa. Isso faz com que as pessoas busquem por uma juventude eterna. Pois envelhecer não é algo fácil, já que perdemos muitas coisas. Assim, a fantasia desaparecer jovem também entra no lugar do desamparo. Isso faz com que essas pessoas procurem por cirurgias que as faça parecer mais novas”, ressalta a especialista.
Acilen também aponta a necessidade natural do ser humano em se sentir completo: “As pessoas sentem que precisam compensar um vazio existencial e, muitas vezes, tentam preencher da forma que conseguem, seja com comida, roupas, e até cirurgias plásticas. Então, o desejo constante em modificar, repetidamente, o físico é um sinal de alerta para buscar ajuda psicológica. Pois, talvez, essa mudança que indivíduo tanto queira não é vista a olho nu, e sim em seu inconsciente, que só com análise ele poderá sair desse ciclo vicioso de exageros”, conclui a psicóloga.

Com o aumento da procura por cirurgias, mais profissionais desqualificados surgem oferecendo serviços por um custo menor. Sem prezar pela segurança dos pacientes e sem conhecer as técnicas corretas, as intervenções não só trazem um resultado completamente insatisfatório , como em alguns casos resultam até na morte do paciente. O especialista alerta “Antes de realizar qualquer cirurgia é preciso ver a qualificação e especialidade daquele profissional, ele precisa ser aprovado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Também procure por referências desse cirurgião e se ele é qualificado o bastante”, completa especialista. O cirurgião também fala qual o papel do médico quando o procuram para realizar uma cirurgia estética “Cabe ao especialista que realizará a cirurgia, orientar qual a melhor opção para o paciente e de que forma aquilo será feito. Às vezes a pessoa pode pedir algo que não trará o real resultado do que ela espera, ou está fazendo alguma decisão impulsiva. Nesses casos o especialista precisa alertar e explicar como o procedimento pode ajudar” conclui Matthews Herdy.

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