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Coronavírus

Alto número de óbitos em domicílios levanta alerta sobre desassistência da saúde no Rio

Somente nos meses de abril a setembro ocorreram cerca de 27 mil óbitos acima do esperado, sendo 13 mil deles causados diretamente pela Covid-19

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(Foto: Reprodução)

(Foto: Reprodução)

O município do Rio de Janeiro voltou a apresentar alto número de óbitos ocorridos nos domicílios, bem como um grande excesso de mortes em relação aos anos anteriores. Esses são dois fortes indicadores de que a cidade pode estar enfrentando um quadro sério de desassistência geral do sistema de saúde municipal — que não se restringe aos hospitais, mas se concentra principalmente na rede de atenção básica e no sistema de vigilância em saúde.

De acordo com dados da própria Secretaria de Saúde do Rio, somente nos meses de abril a setembro ocorreram cerca de 27 mil óbitos acima do esperado — com base em anos anteriores —, sendo 13 mil deles causados diretamente pela Covid-19. Outras  mil pessoas morreram dentro de domicílios – ou seja, fora de qualquer hospital ou outra unidade de saúde e, provavelmente, sem assistência médica. Além disso, os dados apontam que, de março a setembro, houve 1,8 mil mortes além do esperado classificadas com “causas mal definidas”, sem diagnóstico, outro possível indicador de desassistência médica.

“Os dados mostram que, mesmo entre os casos de Covid-19 que foram internados em hospitais, a maior parte dos óbitos ocorreu fora das UTIs. O conjunto desses indicadores aponta fortemente para a incapacidade do sistema municipal de Saúde de atender a casos graves da doença. Indicam ainda que podemos estar perto de um novo colapso do sistema, pois os novos casos, que irão gerar maior demanda de atendimento, estão aumentando rapidamente, de forma muito preocupante”, comenta Christovam Barcellos, pesquisador de saúde pública e vice-diretor do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz).

De acordo com Nota Técnica do Monitora Covid-19, do Icict, intitulada Óbitos em excesso, dentro e fora de hospitais, mostram quadro de desassistência à saúde no Município do Rio de Janeiro, a capital fluminense ultrapassou a cidade de São Paulo nas duas últimas semanas: 500 contra 400 óbitos médios diários. O Rio vinha registrando uma “ligeira tendência de queda” no número de óbitos, porém de forma irregular, com altas ocasionais a partir de agosto, o que seria sinal da “vulnerabilidade da cidade a novos surtos ou mesmo a retomada dos padrões de transmissão do início do ano”.

Além disso, várias doenças aparecem entre os óbitos em excesso que não foram classificados como Covid-19. São diversas formas de câncer (2,5 mil óbitos), doenças endócrinas nutricionais e metabólicas, entre as quais se incluem as diabetes (1 mil óbitos) e as doenças do aparelho circulatório, infartos e AVCs, principalmente (3,8 mil óbitos). Todas essas mortes em excesso podem ter sido causadas por falta de atendimento adequado e oportuno, em todos os níveis da rede de saúde, devido ao grande volume de casos de Covid-19 que encheram as unidades de saúde, “disputando” o atendimento com as doenças crônicas.

Outro dado importante levantado pelo estudo, conforme ressaltado por Diego Xavier, pesquisador do Monitora Covid-19, é o total de óbitos em hospitais fora das UTIs. De acordo com os registros do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), apenas 40,5% (5.107 óbitos) das mortes por Covid-19 registrados em hospitais ocorreram dentro de uma UTI. Outros 27% (3.434 óbitos) morreram fora da UTI e um número surpreendentemente grande, 32,5% (4.065 óbitos), não têm informação se o óbito ocorreu dentro ou fora de uma UTI.

“É muito provável que a maior parte dos casos sem registro de informação de UTI tenha ocorrido fora de uma UTI. Considerando isso, conclui-se que provavelmente mais da metade da população que veio a óbito por Covid-19 no município sequer teve a chance de receber atendimento intensivo”, diz o estudo.

“Agora imagine com o grande aumento de novos casos de doentes por Covid-19 precisando de atendimento nos hospitais, que já vêm apresentando superlotação de leitos. Podemos estar perto de um novo colapso do sistema de saúde pública do Rio”, reforça o pesquisador Christovam Barcellos.

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