Economia
ONG ligada à pecuária desvia fundos de aposentadoria
Organização é acusada de usar recursos destinados à aposentadoria de trabalhadores rurais para fins irregulares.
Uma recente investigação da Polícia Federal revelou um esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), envolvendo uma organização não governamental (ONG) ligada a indígenas. A entidade, presidida pelo empresário Carlos Roberto Ferreira Lopes, teria atuado como intermediária para facilitar o acesso de agricultores a benefícios previdenciários, aplicando descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
Carlos Lopes, que também lidera a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares do Brasil (Conafer), é proprietário de empresas no setor agropecuário e de mineração. A Conafer, fundada em 2011, foi criada para dar voz aos agricultores familiares do Brasil nas decisões do setor agrícola. A organização está sob investigação por sua participação no esquema de fraudes, que teria causado um prejuízo estimado em R$ 6,5 bilhões entre 2019 e 2024.
Como a Conafer está envolvida no esquema?
A Conafer firmou um convênio com o INSS que permitia o desconto direto de mensalidades associativas nos benefícios de aposentados e pensionistas. Este acordo, iniciado no governo de Michel Temer e consolidado na gestão de Jair Bolsonaro, possibilitou que a entidade arrecadasse R$ 202,3 milhões em 2023, provenientes de valores deduzidos das aposentadorias pagas pelo INSS.
Segundo a investigação, a Conafer teria usado sua influência para atuar em comunidades indígenas, oferecendo serviços como assistência jurídica e odontológica em troca de descontos nos benefícios previdenciários. A atuação da entidade nessas comunidades se intensificou a partir de 2018, com a organização de eventos e mutirões previdenciários.
Quais as implicações para os envolvidos?
A operação da Polícia Federal, em conjunto com a Controladoria Geral da União, resultou no afastamento de seis servidores do INSS, incluindo o presidente do órgão, Alessandro Stefanutto. A investigação abrange 11 entidades, entre elas a Conafer, que está no centro das apurações devido ao seu papel como facilitadora no esquema de fraudes.
Carlos Lopes, que se apresenta como filho de indígenas, mas não possui vínculos com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), tem relações próximas com figuras políticas, como o senador Chico Rodrigues. O empresário participou de eventos políticos e tem se mostrado ativo na defesa do empreendedorismo rural.
Resposta da Conafer e desdobramentos futuros
Em resposta às acusações, Carlos Lopes afirmou que a receita proveniente do INSS representa apenas 11% do total da entidade e que confia no sistema judiciário para esclarecer os fatos. A Conafer, por sua vez, destacou seu compromisso com a defesa da causa indígena e o desenvolvimento do agronegócio, enfatizando que suas atividades são realizadas com transparência e sem interferência de interesses pessoais.
O caso continua em investigação, e as autoridades esperam esclarecer o papel de cada envolvido no esquema de fraudes. A situação levanta questões sobre a fiscalização e a transparência nas parcerias entre entidades privadas e o governo, especialmente em áreas sensíveis como a previdência social.
