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Cultura

Bela Maria lança álbum de R&B “Tudo Que Eu Sinto Faz Barulho”

Em entrevista à Tupi, cantora pernambucana fala sobre identidade, afeto e vulnerabilidade na música

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Cantora Bela Maria. Crédito: Uhgo

Pernambuco sempre foi um território fértil para a música brasileira. Do frevo ao manguebeat, o estado construiu uma identidade sonora marcada pela pluralidade, pelo lirismo e pelo afeto. É desse contexto que surge Bela Maria, cantora e compositora pernambucana que lança o álbum de R&B Tudo Que Eu Sinto Faz Barulho, trabalho de estreia que transforma emoções em discurso artístico.

Em entrevista ao site da Super Rádio Tupi, a artista fala sobre como a cultura pernambucana atravessa sua música, mesmo quando isso não aparece de forma explícita. Segundo Bela, o lirismo do estado moldou a maneira como aprendeu a se expressar.

“A gente é um povo muito caloroso. Esse afeto, o cafezinho de vó, de mãe, esse aconchego, tudo isso me fez ser quem eu sou, na forma como eu amo e cultivo meus afetos. Esse lirismo da nossa cultura aparece diretamente no que eu escrevo”, afirma.

Essa identidade também se manifesta nos detalhes da produção. Mesmo dentro do R&B, gênero central do álbum, Bela faz questão de manter elementos sonoros que remetem às suas origens. “Às vezes a gente termina uma música e sente que falta alguma coisa. Aí entra um triângulo, um bumbo. O ouvido da gente pede isso”, conta.

Cantora Bela Maria. Crédito: Uhgo

R&B como herança negra brasileira

Ao falar sobre a escolha pelo R&B, Bela destaca que o gênero sempre esteve presente na música brasileira, mesmo antes de ser nomeado dessa forma. “A gente sempre ouviu R&B no Brasil, só não chamava assim. Tim Maia, Fat Family, Cassiano, Pepê e Neném… isso tudo é R&B”, diz.

Para a artista, nomear o gênero é um movimento político e cultural. “Quando a gente fala que R&B é um gênero, a gente abre espaço para curadoria, para premiações, para reconhecimento. Nomear é uma forma de retomar o que sempre foi nosso.”

Ela também vê o atual momento como um período de ascensão, impulsionado por artistas negros que vêm reivindicando esse espaço, inclusive nomes já consolidados no mainstream. “Quando uma artista como a Ludmilla lança um disco assumidamente de R&B, ela cria espaço para toda uma cena.”

Vulnerabilidade como força

No centro do álbum está a ideia de vulnerabilidade como potência, especialmente quando se trata da vivência de mulheres pretas. Bela Maria reflete sobre como, historicamente, o “barulho” nunca foi permitido.

“O barulho não era permitido para pessoas pretas. Não era para falar, não era para chamar atenção. A gente sempre foi ensinada a ser forte, a aguentar calada”, afirma.

Ao assumir a delicadeza, o afeto e a sensibilidade como parte de sua narrativa, Bela enxerga isso como um gesto de ruptura. “Quando eu trago a delicadeza para a imagem da mulher preta, eu faço uma revolução. Eu posso sentir, posso fraquejar, posso amar, posso errar.”

Essa virada acontece de forma clara em Poema Sujo, faixa que marca o fim de um bloqueio criativo e dá origem a todo o disco. Inspirada ao assistir a uma declamação de Ferreira Gullar, Bela se reconectou com o motivo pelo qual começou a fazer arte. “Aquilo me lembrou que eu escrevo para desabafar, sem pensar em estrutura ou mercado. Depois dessa música, veio o álbum inteiro.”

Cantora Bela Maria. Crédito: Uhgo

Alcione, legado e autoestima

Uma das faixas de destaque do projeto é Doce, Dengosa, Polida, que traz um sample de A Loba, de Alcione. A homenagem nasce da relação afetiva e simbólica que Bela construiu com a obra da cantora maranhense.

“Alcione nunca pediu licença para existir. Ela abriu portas e ajudou a construir a minha autoestima”, diz. “Eu cresci vendo minha mãe e minhas tias cantando as músicas dela. Aquilo me ensinou que eu também podia ocupar um lugar alto.”

A escolha do sample dialoga diretamente com o discurso do álbum. “Ser doce, dengosa, polida, mas também saber impor limites. Nada me representa mais do que isso.”

Um álbum como manifesto

Dividido entre lado A e lado B, Tudo Que Eu Sinto Faz Barulho aposta em uma estética que dialoga com o garimpo de vinis e com a ideia de revisitar referências pessoais. Enquanto o lado A se aproxima de uma sonoridade mais acessível, o lado B é dedicado ao desabafo e à experimentação.

Lançado em novembro, Tudo Que Eu Sinto Faz Barulho é o primeiro álbum da carreira de Bela Maria. O disco reúne faixas que transitam pelo R&B contemporâneo e conta com participações de N.I.N.A, em Efeito Mandela, e Chris MC, em Preciso de Respostas.

Para Bela, o projeto vai além da estreia em disco e funciona como uma declaração de princípios. “Cultivar a nossa autenticidade também é uma forma de revolução. O mercado vai tentar moldar tudo, mas é sendo quem a gente é que a gente brilha.”

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