Esportes
Seleções que deixaram de ser potências no futebol
Crises esportivas e rupturas históricas explicam o declínio de antigas forças do futebol internacional
A discussão sobre as seleções que deixaram de ser potências voltou ao centro do debate após o novo colapso da Itália nas Eliminatórias. A tetracampeã mundial vive um dos momentos mais delicados de sua história recente. A goleada sofrida por 4 a 1 para a Noruega, em plena Milão, ampliou a turbulência e confirmou a equipe na repescagem europeia, acendendo outro alerta. O risco de ficar fora da terceira Copa seguida gera preocupação e aponta para uma crise mais profunda que vai além do campo.
A ausência nos Mundiais de 2018 e 2022 já havia marcado um período traumático. Agora, a perspectiva de depender novamente de jogos eliminatórios deixa o cenário ainda mais tenso. A Itália pode se tornar a primeira tetracampeã a errar três Copas consecutivas, resultado que reforça a impressão de estagnação estrutural. A repescagem, disputada em jogo único, definirá o futuro imediato do projeto esportivo da Federação Italiana.
Crises históricas mostram como grandes forças perderam espaço
A trajetória italiana reacende a análise sobre outras seleções que deixaram de ser potências, um fenômeno que atravessa décadas. O declínio desses gigantes ocorreu por razões que abrangem política, economia e mudanças profundas de organização. A Hungria é um exemplo marcante. Os “Magiares Poderosos”, liderados por Puskás, dominaram o futebol nos anos 1950 e influenciaram gerações seguintes. A interrupção causada pela Revolução de 1956, porém, desmontou o projeto e impediu a continuidade daquele estilo inovador.
A Áustria também viveu um momento de ruptura decisiva. O lendário “Wunderteam” marcou época no início dos anos 1930, mas o Anschluss de 1938 dissolveu a seleção e comprometeu o desenvolvimento autônomo do país. A potência original perdeu seu caminho ao ter sua estrutura absorvida pela Alemanha Nazista. Sem capacidade de reconstrução imediata, a Áustria tornou-se apenas competitiva, mas distante do topo mundial.
Outro caso emblemático envolve a Tchecoslováquia, que viveu grandes campanhas, como os vice-campeonatos de 1934 e 1962, além do título europeu de 1976. A separação do país em 1993 provocou uma divisão irreversível. A diluição de talentos, associada ao enfraquecimento da liga nacional, reduziu o potencial tanto de Tchequia quanto da Eslováquia. Mesmo com lampejos recentes, nenhuma das duas manteve o protagonismo do passado.
Países que se separaram perderam a expressão
A queda da União Soviética expôs outro tipo de fragmentação. A força do bloco, impulsionada por bases sólidas e por gerações inteiras vindas de Ucrânia, Geórgia e Belarus, perdeu consistência após 1991. A nova seleção russa não herdou toda a estrutura anterior e sofreu com a instabilidade econômica. A distância em relação às ligas de elite ampliou o declínio competitivo.
Outros países passaram por um processo semelhante, como a Suécia, que oscilou após 1994 ao não atualizar seu modelo, e a Polônia, que perdeu força por causa de crises econômicas prolongadas. Até mesmo a Escócia, tradicional frequentadora de Copas, viu seu espaço diminuir com o crescimento financeiro da Premier League, que absorveu seus principais talentos por anos.
A Itália observa todos esses exemplos enquanto tenta se reorganizar. O histórico de grandes seleções serve como alerta sobre a importância de renovação, planejamento e estabilidade institucional. O desempenho na repescagem definirá se a tetracampeã retomará o caminho das grandes competições ou se se aproximará definitivamente das seleções que ficaram marcadas pelo peso da própria história.