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Justiça

Terceiro dia do julgamento de Flordelis termina com discussão, ameaça de advogados e ré sendo atendida pelo Samu

Tribunal do Júri será retomado na manhã desta quinta-feira (10), a partir das 09h. Além da ex-parlamentar, mais quatro pessoas estão sendo julgadas pela morte do pastor Anderson do Carmo

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Flordelis
(Foto: Bruno Dantas/TJRJ)

O terceiro dia do julgamento da ex-deputada federal Flordelis e de mais quatro réus acusados pela morte do pastor Anderson do Carmo terminou em confusão na noite dessa quarta-feira (10). A sessão foi interrompida, pouco depois das 20h, no momento em que a quarta testemunha do dia, Raquel dos Passos Silva, neta afetiva da ex-parlamentar, prestava depoimento. O motivo que iniciou toda a discórdia foi uma acusação envolvendo uma das representantes da defesa de Flordelis.

Após Raquel relatar que Paula Barros, mais conhecida como Paula do Vôlei, teria se apresentado como psicóloga e orientado os depoimentos de integrantes da família de Flordelis, um dos promotores do Ministério Público exibiu para os jurados um trecho de um livro-reportagem sobre o caso, intitulado “O Plano Flordelis – Bíblia, Filhos e Sangue”. Na passagem do texto exibida, era dito que Janira Rocha, uma das advogadas da pastora, com a ajuda de Paula do Vôlei, “usou a própria experiência de vida” para persuadir algumas meninas que viviam na casa da ex-parlamentar a denunciar supostos assédios por parte de Anderson do Carmo.

Diante desta acusação, a defesa de Flordelis solicitou que a jornalista Vera Araújo, autora do livro-reportagem, fosse ouvida e ameaçou abandonar o plenário, caso a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, que preside o Tribunal do Júri, não atendesse o pedido. Após a confusão estar instaurada, a própria advogada Janira Rocha decidiu conversar com a imprensa e justificar o que estava acontecendo.

“O júri é uma competição de teses. A defesa tem suas e o Ministério Público a deles. Essas teses estão em debate. Durante a oitiva de uma testemunha, aonde existia a acusação de que essa testemunha teria sido manipulada por outra pessoa, o MP vem, mostra um livro, uma entrevista minha que não tem nada a ver com o contexto daquela pessoa, e diz que a minha declaração naquele livro era uma prova de que eu teria participado da manipulação daquela testemunha. Imediatamente me foi passado a palavra e eu perguntei para aquela testemunha que estava ali se ela me conhecia. Ela disse que não. Perguntei se ela teria falado comigo por telefone, ou por whatsapp. Ela novamente disse que não. Então, a própria testemunha já deu a resposta”, alegou a advogada, rebatendo as acusações.

“Eu nunca dei nenhuma declaração, em nenhum jornal, em nada, dizendo que eu manipulei alguma testemunha. Eu conversei, sim, com todas as partes do processo. Como eu vou fazer o meu trabalho? Vocês da imprensa me viram ali sentada fazendo a inquirição de três, quatro, cinco horas de uma testemunha. Qual é o advogado que faz uma inquirição de três, quatro, cinco horas se ele não tiver estudado o processo, não tiver conversado com as pessoas e não conhecer a situação?”, indagou, em seguida, Janira Rocha.

A advogada ainda garantiu não se abalar com a acusação. “Nunca escondi que eu sou uma advogada zelosa. Eu faço investigação defensiva. Por conta do processo, conversei com todo mundo. Essa história aqui não me acua. Estou extremamente preparada para qualquer debate que o Ministério Público trouxer pra cá”, declarou.

Também em conversa com os jornalistas, o advogado Rodrigo Faucs, outro dos integrantes da defesa de Flordelis, demonstrou apoio a colega e reforçou a intenção de deixar o julgamento caso o pedido para que a jornalista seja ouvida fosse negado. “Nós precisamos que seja um julgamento justo. É isso que estamos pedindo desde o início. A partir do momento que não há condições plenas de se ter paridade de armas e, que surgem acusações levianas para membros da nossa própria equipe, não se tem como continuar o julgamento. Então, vamos analisar. Não sei se vai chegar a isso, não creio que vá”, disse o advogado.

Rodrigo Faucs aproveitou o espaço para também criticar a postura do Ministério Público ao longo do julgamento até aqui. “A acusação sempre trás elementos que são tangenciais, situações que não tem a ver com o homicídio em si. Eles querem prejudicar sempre a imagem da ex-deputada para gerar um impacto nos jurados já que eles não têm provas. Então, é só mais um elemento que causa prejuízo para defesa e para imagem das rés”, disparou.

Depois de um longo período de deliberações, somente por volta das 22h, a juíza Nearis dos Santos proferiu a decisão sobre o requerimento e negou o pedido. Além disso, a magistrada determinou que, caso os advogados de fato abandonassem o júri, teriam de pagar uma multa de 15 salários mínimos e os réus teriam um prazo de cinco dias para constituir uma nova defesa.

Tal medida gerou uma nova discussão no plenário. Após as partes se reunirem e debaterem, a juíza declarou que houve um mal entendido e confirmou que o julgamento seria retomado normalmente na manhã desta quinta-feira (10), a partir das 09h.

Ré passa mal e precisa ser atendida pelo Samu

Simone dos Santos, filha biológica de Flordelis
Simone dos Santos, filha biológica de Flordelis, teve mal estar durante terceiro dia de julgamento (Foto: Bruno Dantas / TJRJ)

Enquanto todo esse impasse ocorria, Simone dos Santos, filha biológica de Flordelis e uma das rés que estão sendo julgadas pela morte do pastor Anderson do Carmo, teve uma crise de choro, seguida por falta de ar. Ela precisou ser retirada às pressas do plenário e foi conduzida para um sala anexa para receber atendimento médico.

Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionada e, no próprio local, conseguiu estabilizar Simone. No entanto, não foi informada a causa do mal estar. Uma das hipóteses levantadas é de que a ré teria tido uma crise de ansiedade ou estresse causadas pelo julgamento. Outra é que seria uma consequência de um tratamento que ela faz contra um câncer, em estado de metástase, que exige medicação adequada.

Terceiro dia é marcado por depoimentos de testemunhas de acusação

O terceiro dia de julgamento começou pouco antes das 10h de quarta-feira, com o depoimento de Luana Rangel Pimenta, esposa do ex-vereador de São Gonçalo Wagner Pimenta, mais conhecido como Misael, um dos filhos afetivos de Flordelis. Ao longo do depoimento, de aproximadamente duas horas e meia, Luana falou sobre o plano que existia para matar o sogro e relatou que Flordelis, ao lado da filha afetiva Marzy Teixeira, “jogava pózinho no suco do pastor” para envenená-lo.

Na sequência de Luana, foi a vez de Daniel dos Santos de Souza, filho afetivo, ser ouvido pelo Tribunal do Júri por videoconferência. Na oitiva, ele se comoveu ao falar sobre Anderson do Carmo e relatar os acontecimentos do dia do assassinato. Flordelis também chorou enquanto escutava a reconstituição do dia 16 de junho de 2019 e foi amparada pelos próprios advogados.

A terceira testemunha de acusação a prestar depoimento foi Daiane Freires, filha afetiva de Flordelis. Assim como Luana, ela contou ter visto a irmã de criação Marzy Teixeira colocar um pó em um suco que seria consumido por Anderson. Ao confrontar, ela teria dito que pela mãe iria presa.

Relembre quais são os crimes pelos quais os réus respondem

Réus durante julgamento no Fórum de Niterói
Réus durante julgamento no Fórum de Niterói (Foto: Brunno Dantas/TJRJ)

De acordo com o processo, Flordelis é apontada como a mandante do crime. Ao todo, a ex-deputada responder pelos crimes de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Marzy Teixeira da Silva, Simone dos Santos Rodrigues e André Luiz de Oliveira respondem por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Já Rayane dos Santos Oliveira é acusada de homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.

Confira também quem já foi julgado e condenado pela morte de Anderson do Carmo

Em sessão de julgamento que teve início no dia 12 de abril deste ano e que só foi encerrada na manhã seguinte, o Tribunal do Júri de Niterói condenou outros quatro réus acusados de participação na morte do pastor Anderson do Carmo. O filho biológico de Flordelis, Adriano dos Santos Rodrigues, foi condenado a quatro anos, seis meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto por uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada. Já o ex-policial militar Marcos Siqueira Costa foi sentenciado a cinco anos e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado. A esposa dele, Andrea Santos Maia, a quatro anos, três meses e dez dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto.

Filho adotivo de Flordelis, Carlos Ubiraci Francisco da Silva foi condenado pelo crime de associação criminosa armada a dois anos, dois meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto. No entanto, no dia 28 de abril, a Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu liberdade condicional a Ubiraci.

Lucas Cézar dos Santos de Souza e Flávio dos Santos Rodrigues durante julgamento
Lucas Cézar dos Santos de Souza e Flávio dos Santos Rodrigues durante julgamento realizado no ano passado (Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil)

Antes desses, em novembro de 2021, o Tribunal do Júri de Niterói condenou Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da ex-deputada federal Flordelis, a 33 anos 2 meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado consumado, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada. Ele foi denunciado como autor dos disparos de arma de fogo que provocaram a morte do pastor Anderson.

Na mesma sessão de julgamento, Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis, foi condenado por homicídio triplamente qualificado a nove anos de prisão em regime inicialmente fechado. Ele foi acusado de ter sido o responsável por adquirir a arma usada no assassinato do pastor.

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