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Política

Entenda os desgastes que pressionam a saída de Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde

General acumula polêmicas na pandemia, desde recomendação de medicamentos sem comprovação científica a inquérito por falta de oxigênio em Manaus

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(Fotos: José Dias/Agencia Brasil)

(Fotos: José Dias/Agencia Brasil)

Desde que assumiu o Ministério da Saúde, o general Eduardo Pazuello nunca deixou de caminhar sobre uma corda bamba no cargo. A notícia de que o ministro da Saúde teria pedido demissão foi desmentida pela pasta neste domingo (14). Diante do pior momento do Brasil na pandemia, porém, a substituição é apontada como questão de tempo.

Pazuello ganhou notoriedade quando assumiu interinamente a pasta, em 16 de maio de 2020, após a saída de Nelson Teich. Àquela época, o país contava com 15.633 mortos e 233.142 casos. Apresentado como um especialista em logística, o general comandava a 12ª Região Militar da Amazônia antes de se transferir para Brasília. Chegou à capital federal para operar a transição entre Luiz Henrique Mandetta, defenestrado após seguidos desgastes com o presidente Bolsonaro, e o médico Teich.

Em entrevista à Veja, o secretário-executivo esclareceu os objetivos à época. “Ao final de um período, o ministro estará com todos os nomes que ele escolheu e eu estarei saindo, voltando para a minha tropa”. Nada disso ocorreu. Em meio à desastrada política de enfrentamento à pandemia, Pazuello, um amador na área da Saúde, mantinha-se no cargo. Em 14 de setembro, o Brasil já acumulava 132.006 mortes e 4.345.610 casos da Covid-19.

Com o avanço devastador da pandemia e a demora para iniciar o programa de vacinação, Eduardo Pazuello entrou em uma espiral de sucessivos desgastes. Veja abaixo os principais deles:

16 de maio de 2020 – Ministro interino da Saúde

Pazuello assumiu, interinamente, o Ministério da Saúde após a saída de Nelson Teich, em 15 de maio de 2020, durante a pandemia da Covid-19 no Brasil.

19 de maio de 2020 – Protocolo autoriza cloroquina

No cargo de ministro interino, Pazuello amplia a recomendação do uso da cloroquina e hidroxicloroquina para todos os casos de pacientes da Covid-19 (leves, moderados e graves) e por um período maior, apesar da falta de comprovação científica de eficácia do medicamento.

16 de setembro de 2020 – Oficialmente ministro da Saúde

O então interino desde 15 de maio, o general Eduardo Pazuello foi efetivado à frente do Ministério da Saúde pelo presidente, Jair Bolsonaro.

20 de outubro de 2020 – ‘Um manda e o outro obedece’

Pazuello anunciou que o Ministério da Saúde havia comprado 46 milhões de doses da CoronaVac para o programa brasileiro de vacinação. Mas, no dia seguinte, o general foi desautorizado pelo presidente, Jair Bolsonaro, que postou em uma rede social que seu governo não iria adquirir a “vacina chinesa de João Doria.” Dois dias depois, o então ministro da Saúde apareceu em uma live com o chefe do Executivo e, visivelmente desconcertado, resumiu: “É simples assim. Um manda e o outro obedece, mas a gente tem um carinho”, relatou. Isso tudo ocorreu enquanto o ministro estava diagnosticado com a Covid-19, quando chegou a ser internado para receber soro por ter apresentado quadro de desidratação.

6 de junho de 2020 – Dados nacionais fora do ar

A pasta da Saúde também foi acusada de retirar do ar os números dos mortos da Covid-19, apresentados no boletim do Ministério da Saúde diariamente, após ter atrasado a divulgação dos dados nacionais da pandemia dias antes com objetivo de que eles não fossem reportados nos principais noticiários do país.

12 de janeiro de 2021 – ‘Tratamento precoce’ vs ‘Atendimento precoce’

Pazuello lançou o aplicativo TrateCOV para auxiliar médicos no tratamento da Covid-19. Mas o sistema recomendava “tratamento precoce” da doença por meio de remédios sem eficácia comprovada cientificamente, por exemplo, com uso de cloroquina, ivermectina e doxiciclina. A plataforma foi testada em Manaus, com mais de 340 profissionais de saúde cadastrados. Uma semana depois, Pazuello tentou justificar a conduta dizendo que nunca recomendou “tratamento precoce”, mas “atendimento precoce”. Na ocasião, disse: “Atendimento é uma coisa, tratamento é outra. Como leigos, às vezes falamos o nome errado. Mas temos que saber exatamente o que queremos dizer: atendimento precoce”.

14 de janeiro de 2021 – Manaus sem oxigênio

Os hospitais de Manaus entraram em colapso, inclusive, com falta de cilindros de oxigênio. Em live, o ministro Pazuello voltou a falar sobre medicamentos sem eficiência comprovada e disse que uma das causas para a situação da região era a “falta de atenção da capital ao tratamento precoce”. Diante da declaração de que o Ministério da Saúde foi avisado com antecedência sobre a possibilidade da falta de oxigênio nos hospitais amazonenses, o general apresentou versões diferentes sobre a data em que teria recebido essa informação e responde a inquérito, determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a conduta do ministro na pandemia. Segundo o Ministério Público Federal, 28 pessoas morreram por falta de oxigênio na capital do Amazonas em janeiro de 2021.

11 de março de 2021 – ‘Sistema de saúde brasileiro não colapsou, nem vai colapsar’

No dia em que o Brasil perdeu 2.349 vidas para a Covid-19 em 24 horas, Pazuello declarou que o sistema de saúde brasileiro “não colapsou, nem vai colapsar”, em vídeo divulgado pela assessoria do Ministério da Saúde. A afirmação foi contestada por secretários de Saúde, prefeitos e governadores ao redor do país.

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