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Bienal do Livro

‘Não vamos perder a vontade de jeito nenhum’, diz Otávio Müller sobre a produção de cultura no Brasil

Ator esteve ao lado de Luis Fernando Verissimo na Bienal, para divulgar filme baseado em obra do escritor

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(Esq à dir.) Luis Fernando Verissimo, Otávio Müller e Angelo Defanti
FOTO: Marcelo Antonio Ferreira

Os espaços da XIX Bienal Internacional do Livro Rio não servem apenas para o incentivo à leitura, mas, sim, à cultura em geral. Neste sábado, na Arena #SemFiltro do evento, que ocorre no Riocentro, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, foram divulgadas trechos do filme “O Clube dos Anjos”, que, sob a direção de Angelo Defanti, é uma adaptação da obra baseada no livro homônimo, de 1998, escrito por Luis Fernando Verissimo. Para divulgar o projeto, além dos dois, também estava o ator Otávio Müller, que integra o elenco ao lado de nomes como Marco Ricca e Matheus Nachtergaele. O grupo aproveitou o momento para conversar sobre como fica o cenário de produção cultural brasileira para os próximos anos – junto da platéia, que muito perguntou sobre o tema.

Recentemente, a Agência Nacional de Cinema, a Ancine, órgão responsável por fomentar e regularizar as produções audiovisuais no Brasil, tem sido alvo de ameaças do presidente Jair Bolsonaro, que cogitou extinguir a agência ou realocá-la para Brasília. Assim como a Lei Rouanet, que também é um tópico de incerteza do governo, apesar de ser um dos principais agentes de incentivo a itens culturais no País. Ativo no teatro, cinema e televisão, Müller expressou os anseios com o cenário, mas, também, ressaltou a importância de manter acesa a vontade de realizar.

“Sempre tivemos muita dificuldade. Nunca deixaremos de fazer. O momento já era de muitas dificuldades. Agora, a sensação é que as dificuldades vão aumentar. Me parece que a gente tem que correr atrás como artista e espectador ainda mais. Triplicar a leitura, triplicar as peças de teatro. Porque a barra pesou. O teatro carioca está passando por um momento dificílimo. É quase um apelo: não percamos a vontade de jeito nenhum”, disse o ator.

Defanti, que, além de dirigir, roteirizou o filme, reiterou a fala de Müller, e ainda contou que de quando conseguiu os direitos da obra até, de fato, produzi-la, demorou dez anos, devido às dificuldades em angariar recursos.

“A mudança de regra está vindo, mas o pior é a mudança ideológica. Só o fato de se já estar cogitando censura é muito grave. Quem perde é a cultura brasileira. É muito incerto. Se é pra ter uma certeza, é que vai piorar”, declarou o diretor do filme.

(Esq. à dir.) Verissimo e Müller
FOTO: Marcelo Antonio Ferreira

A história da obra é sobre um grupo composto por dez homens, que mantém a tradição de se reunir em torno da mesa de um bar. Mas, com o tempo, eles começam a desconfiar que a comida do local está envenenada. Porém, continuam a consumi-lá. A ideia da narrativa veio quando uma editora abordou o escritor para uma série de sete livros, na qual um autor diferente escreveria sobre um pecado capital; a Verissimo, coube a gula. Muito conhecido pelas crônicas, o autor, apesar da timidez, revelou na Bienal que essa obra é a favorita das escritas por ele.

“Antes de mais nada, me perguntaram se eu estava nervoso em participar desse debate. Eu respondi que estava, tentando bravamente resistir a não sair correndo. Enfim… É um dos meus romances que mais gosto. Um dos mais bem acabados. É, sim, o meu favorito”, revelou o autor.

Apesar de ser um dos escritor de obra popular, hoje com 82 anos, Verissimo revelou que, quando saiu de Porto Alegre rumo ao Rio de Janeiro, os planos eram de ficar por um curto período e as intenções não eram nem de escrever.

“Sempre gostei muito de cinema, e quando vim para o Rio de Janeiro, em 1962, a minha ideia era trabalhar um ano aqui, ganhar dinheiro e ir para Londres, na época, a meca da cultura. Não aconteceu nada disso. Não ganhei dinheiro nenhum no Rio de Janeiro, não fui pra Londres e me casei no Rio. Todos os outros filmes foram ofuscado pela luz dos olhos da Lúcia (mulher e mãe dos três filhos dele)”, brincou o escritor.

De poucas palavras, ele também expressou a insatisfação com o momento atual do País.

Lembro daquela frase ‘sempre que ouço em falar em cultura, me dá vontade de sacar minha arma’. No Brasil, estamos um pouco nesse momento, de ‘sacar a arma’… E quem propaga a arma é o nosso presidente”, lamentou Verissimo.

De acordo com o diretor, “O Clube dos Anjos” chega aos cinemas em 2020.

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