Saúde
Mioclonia Ansiosa: como ansiedade e estresse podem causar espasmos durante o Sono
Condição está vinculada ao estado constante de alerta que acompanha indivíduos com níveis elevados de tensão
O Brasil é um dos países com maiores níveis de estresse, ocupando o quarto lugar no ranking mundial. O dado é do relatório World Mental Health Day 2024 e indicou que, em uma amostra de 1,5 mil participantes, apenas pouco mais de um quarto afirmou não ter enfrentado episódios de estresse significativo ao longo de um ano.
O estresse cotidiano, a pressão profissional, as demandas emocionais e a dificuldade de relaxar ao fim do dia podem se manifestar de diferentes formas no organismo. Uma delas ocorre justamente quando o corpo tenta descansar: os espasmos musculares involuntários conhecidos como mioclonia ansiosa.
Embora muitas pessoas associem esses movimentos bruscos aos espasmos comuns que surgem na transição entre vigília e sono, a mioclonia relacionada à ansiedade tem origem distinta e está vinculada ao estado constante de alerta que acompanha indivíduos com níveis elevados de tensão.
De acordo com Giselly Cristiany Lessi, profissional da área de Psicologia do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, compreender a diferença entre espasmos comuns e mioclonia ansiosa é fundamental para reconhecer quando esses episódios são apenas um fenômeno fisiológico normal e quando representam um sinal de que o corpo está reagindo a um estresse prolongado.
Causas da mioclonia ansiosa
Na mioclonia ansiosa, mesmo estando deitado e pronto para dormir, o organismo continua reagindo como se precisasse se manter vigilante. “A mioclonia ansiosa é um tipo de espasmo muscular involuntário que ocorre quando o sistema nervoso está em hiperexcitação devido à ansiedade. Ela acontece porque o cérebro permanece em modo de alerta mesmo quando o corpo tenta relaxar”, explica a psicóloga.
Ela esclarece que, enquanto os espasmos hipnagógicos — aqueles que ocorrem normalmente quando estamos prestes a dormir — são um reflexo natural da queda do tônus muscular, a mioclonia ansiosa tem origem distinta. Nesses casos, “o cérebro interpreta o relaxamento como uma ‘perda de controle’ e dispara impulsos motores para manter o corpo vigilante”, acrescenta.
A intensidade e a frequência desses movimentos também costumam ser mais elevadas do que nos espasmos fisiológicos, podendo vir acompanhados de sintomas associados à ansiedade, como taquicardia, respiração acelerada e sensação persistente de alerta.
Influência do estresse e da ansiedade no momento de dormir
Giselly Cristiany Lessi explica que quando a ansiedade e o estresse se tornam parte constante da rotina, o sistema nervoso simpático — responsável pela reação de “luta ou fuga” — pode permanecer ativado mesmo fora de situações de risco, gerando uma série de mudanças fisiológicas que dificultam o relaxamento.
Entre esses efeitos, estão o aumento prolongado de cortisol e adrenalina, que tornam os músculos mais reativos, além da dificuldade de desacelerar regiões cerebrais responsáveis por monitorar ameaças. Esse estado gera microdescargas elétricas nos neurônios motores, que se manifestam como espasmos, solavancos ou sensação de queda no momento de adormecer. Para a psicóloga, esse processo mostra que “o estresse diário ‘se acumula’ no sistema nervoso, que chega à noite incapaz de desacelerar de forma natural”.

Sinais de que os espasmos estão ligados à ansiedade
Segundo Giselly Cristiany Lessi, alguns comportamentos e padrões de repetição podem indicar que a mioclonia está associada à ansiedade e merece atenção profissional. Entre os sinais de alerta, ela lista:
- Espasmos que acontecem várias vezes na mesma noite ou quase todas as noites;
- Vêm acompanhados de taquicardia, respiração curta, medo ou sensação de alerta;
- Dificultam ou impedem o início do sono;
- A pessoa tem histórico de ansiedade generalizada, crises de pânico ou estresse intenso;
- Os espasmos aparecem também durante o dia, especialmente em momentos de tensão;
- Há preocupação constante de que algo esteja errado com o corpo.
Como prevenir ou reduzir a mioclonia ansiosa
A psicóloga destaca que a prevenção envolve práticas de regulação do sistema nervoso que ajudam o organismo a reduzir o estado de hiperalerta. A ideia é treinar o corpo a reconhecer que o momento de descanso não é uma ameaça, restabelecendo o equilíbrio entre os sistemas simpático e parassimpático.
Giselly Cristiany Lessi ressalta que “qualquer prática que reduza ativação simpática e estimule o sistema parassimpático ajuda”. A profissional elenca cinco técnicas recomendadas:
- Respiração diafragmática lenta: reduz a adrenalina, ativa o nervo vago e diminui a excitabilidade dos neurônios motores;
- Higiene do sono rigorosa: deixar o ambiente escuro, não usar telas antes de dormir e evitar estimulantes como café, energéticos e álcool durante a noite;
- Contração e relaxamento muscular: contrair e relaxar grupos musculares por 5-8 segundos diminui tensão periférica e impede espasmos de rebote;
- Ritual pré-sono calmante: tomar banho morno, ouvir música suave e ter leituras leves;
- Atividade física regular: contribui para regular o cortisol, melhorar a serotonina e reduzir a probabilidade de descargas musculares involuntárias.
Quando buscar ajuda profissional
A mioclonia ansiosa não deve ser ignorada quando compromete o descanso. Giselly Cristiany Lessi orienta que se busque avaliação psicológica ou médica quando os espasmos prejudicam o sono por mais de duas semanas, quando há medo de dormir ou sensação persistente de que algo grave pode acontecer, ou quando os episódios surgem acompanhados de sinais de estresse crônico, burnout ou crises de pânico. A profissional alerta que os espasmos durante o dia também merecem investigação.
O tratamento, segundo a psicóloga, envolve principalmente psicoterapia, com destaque para a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Ela explica que essa abordagem “reduz hiperalerta, reorganiza padrões de pensamento e regula a resposta fisiológica ao estresse”.
Técnicas de regulação autonômica, como mindfulness, respiração guiada, biofeedback e terapias corporais, como acupuntura, também podem ser recomendadas. A avaliação médica pode ser necessária em alguns casos, especialmente quando há suspeita de outras condições neurológicas ou quando o quadro exige medicamentos.
Por Nayara Campos