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Cultura

No Mês da Mulher, Clube de Leitura CCBB 2024 fala sobre a literatura negra feminina no Brasil

Marilene Felinto e Eliana Alves Cruz debatem cor e gênero na criação literária em encontro no Centro Cultural Banco do Brasil

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No Mês da Mulher, Clube de Leitura CCBB 2024 fala sobre a literatura negra feminina no Brasil
No Mês da Mulher, Clube de Leitura CCBB 2024 fala sobre a literatura negra feminina no Brasil (Foto: Divulgação)

No Mês da Mulher, a edição de abertura do Clube de Leitura CCBB 2024 propõe uma pergunta importante, prioritária e urgente: A literatura tem cor e gênero? Quem responde são as escritoras negras Marilene Felinto e Eliana Alves Cruz, convidadas do encontro.

Segundo a curadora do evento, poeta e mestre em Teoria Literária Suzana Vargas, este é um gesto também político, na medida em que atende a uma demanda cultural e histórica.

Para o encontro de março, o público poderá escolher, dias 15 e 16 de fevereiro, em votação aberta, no perfil do CCBB RJ no Instagram (@ccbbrj), entre duas obras de Marilene Felinto e duas de Eliana Alves Cruz. A sessão de março trará aos presentes, portanto, um livro de cada uma das autoras para o debate.

As obras que estão no páreo são As Mulheres de Tijucopapo e Mulher feita e outros contos, de Marilene – uma voz feminista que começou a publicar nos anos 80, com o Mulheres de Tijucopapo, considerado forte, autoral e decisivo na época para pensar as questões femininas pouco exploradas na ficção brasileira-; e Solitária e O crime do Cais do Valongo, esses dois de Eliana Alves Cruz, uma das principais representantes da literatura negra do Brasil hoje e que, apesar de ter surgido relativamente há pouco tempo no país, mostra produção e força.

Os escritos de Marilene e Eliana inspiram a pensar o que significa ser uma escritora negra num país tomado pelo preconceito racial; quais são os sinais evidentes de que, por trás dos textos, existe uma mulher ou um homem negro; se é possível a um homem escrever sobre o universo feminino; e se um escritor ou escritora brancos conseguem penetrar, de fato, no universo da negritude. 

“Trata-se de dar visibilidade a essa parcela da população brasileira, que tem nos negros e mestiços mais da metade de seus indivíduos e, ainda assim, é a menos privilegiada em nosso país, sem acesso à educação de qualidade. A equalização dessas condições é muito recente e, de fato, acabamos por desconhecer muito do que se produz no país. São ainda poucos os escritores ou escritoras negros publicados por grandes editoras e, consequentemente, com obras divulgadas pela grande mídia com alcance nacional e até internacional. A maioria dos autores publica alternativamente, com baixas tiragens, tendo portanto seu público mais limitado”, analisa Suzana Vargas.

As Mulheres de Tijucopapo narra a viagem de retorno da narradora Rísia a Tijucopapo, localidade fictícia onde sua mãe nasceu, evocando história real do local, em Pernambuco. No século XVII, a cidade foi palco de uma batalha entre mulheres da região e holandeses interessados em saquear o estado. Nas entrelinhas de As Mulheres de Tijucopapo, conta-se a história das mulheres guerreiras da localidade. O livro se constrói como um fluxo de consciência literário cujo teor histórico, feminista e antirracista evidencia-se no trajeto que a narradora faz de volta a essa terra mítica, iluminando as contradições inerentes à sociedade e à cultura multirracial brasileira.

Já o Mulher feita e outros contos ecoa falas públicas da autora, Marilene Felinto, quanto ao ofício de escrever. É composto de personagens majoritariamente femininas que nos permitem refletir sobre a inconstância dos dias.

Solitária, de Eliana Alves Cruz, é tido como romance de libertação, constrói uma miríade de histórias que revolve o imaginário do trabalho doméstico no Brasil — ainda tão vinculado à época escravocrata — e o relaciona a questões contemporâneas urgentes como a pandemia, o debate sobre ações afirmativas e a luta por direitos reprodutivos.

E O crime do Cais do Valongo, também na enquete da votação, é um romance histórico-policial que começa em Moçambique e vai parar no Rio de Janeiro, mais exatamente no Cais do Valongo. O local foi porta de entrada de 500 mil a um milhão de escravizados de 1811 a 1831 e foi alçado a patrimônio da humanidade pela Unesco em 2017. 

A ideia é, no quarto ano do evento, continuar inovando em sua formatação para apresentar à sociedade boa diversidade de livros, autores e temas. Em 2024, o Clube de Leitura CCBB mantém-se recebendo autores brasileiros e  internacionais,  lusófonos e latino-americanos, cuja produção necessita de mais visibilidade no país. 

“Estamos ansiosos para descobrir as surpresas que a nova edição do Clube de Leitura CCBB nos trará. Em 2024, os convidados estão ainda mais diversos e, além de escritores lusófonos, teremos a alegria de trazer textos de autores latino-americanos para sugerir ao nosso público. O Clube mantém seu papel de oferecer visibilidade à Biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil e incentivar a leitura, sempre com o desejo de alcançar cada vez mais pessoas, de todas as idades e origens”, conta Sueli Voltarelli, gerente geral do CCBB Rio. E complementa: “em 2023 foram mais de mil e duzentas pessoas que puderam compartilhar com os escritores convidados momentos memoráveis, sem contar as milhares de pessoas que acessaram os vídeos pelo YouTube do Banco do Brasil, então esperamos que esse ano possamos promover mais uma vez a literatura contemporânea e trazer temas atuais e universais que conectem o brasileiro com a cultura por meio da literatura”.

O encontro com Marilene Felinto e Eliana Alves Cruz acontecerá no dia 13 de março, às 17h30, na Biblioteca Banco do Brasil, 5º andar, do CCBB RJ, com entrada gratuita. O Clube de Leitura CCBB 2024 conta com o patrocínio do Banco do Brasil. Os vídeos dos encontros ficam disponíveis, na íntegra, no YouTube do Banco do Brasil. O projeto vai até dezembro de 2024, sempre nas segundas quartas-feiras do mês. Entre os autores já confirmados estão Eliane Brum  e Itamar Vieira Júnior.

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