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Justiça

Primeiro dia do julgamento de Flordelis é marcado por depoimentos de delegados e sessão com duração de mais de 11 horas

Ao longo dos próximos dias, testemunhas de acusação e de defesa serão ouvidas no Tribunal do Júri de Niterói. Além da ex-deputada, outros quatro réus são julgados pela morte do pastor Anderson do Carmo

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Flordelis
(Foto: Brunno Dantas/TJRJ)

Terminou já no fim da noite de segunda-feira (07) o primeiro dia de julgamento da ex-deputada federal Flordelis e de mais quatro réus acusados pela morte do pastor Anderson do Carmo, em 16 de junho de 2019. Ao todo, quatro pessoas foram ouvidas em mais de 11 horas de sessão, no Tribunal do Júri de Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

O primeiro depoimento teve início com mais de duas horas de atraso, em relação ao horário previsto. A testemunha ouvida foi a delegada Bárbara Lomba, responsável por dar início às investigações da morte do pastor, executado a tiros na residência da família, na região de Pendotiba, em Niterói.

Na oitiva, que durou mais de cinco horas e meia, a delegada negou que Flordelis tenha relatado à polícia que fora vítima de abusos sexuais ou de violência física por parte de Anderson. Bárbara Lomba destacou a relação conturbada da família e o fato de que era comum relações sexuais consentidas entre eles.

Logo depois que este depoimento foi concluído, o advogado Ângelo Máximo, representante da família de Anderson do Carmo, conversou com a imprensa e o avaliou positivamente. “Como sempre, um depoimento esclarecedor da doutora Bárbara Lomba, retificando tudo que ela já havia dito nos outros e corroborando com seu relatório das investigações da primeira fase. Relatório este que foi base para a continuação da segunda fase e para o inquérito conclusivo, que indiciou todos os réus”, declarou.

Também em conversa com a imprensa após o primeiro depoimento, o advogado Rodrigo Faucz, um dos membros da defesa de Flordelis, mostrou confiança e disse que conseguirá provar a inocência da cliente. “Demonstrou que eles não têm nada que acuse diretamente a Flordelis, a Rayane (neta da ex-deputada) e do André (filho adotivo dela). Ficou muito claro que o que eles têm são apenas achismos, provas circunstanciais, indícios não comprovados. Com isso, vai ser muito difícil deles conseguirem provar, além da dúvida razoável, a responsabilidade delas”, afirmou Rodrigo.

Réus durante julgamento no Fórum de Niterói
Réus durante julgamento no Fórum de Niterói (Foto: Brunno Dantas/TJRJ)

Após uma pausa, a sessão foi retomada com o depoimento do delegado Alan Duarte, que substituiu Bárbara Lomba na condução do inquérito. Em aproximadamente uma hora e meia de fala, ele relembrou os principais pontos da investigação e afirmou ser impossível este crime ter acontecido sem a participação de Flordelis.

O próprio delegado repercutiu esta declaração em conversa com a imprensa. “Durante o inquérito policial são colidas diversas provas técnicas testemunhais que formam um conjunto harmônico e robusto de elementos indiciários que há contra a direção delas. Um é a simulação de um latrocínio. Ela (Flordelis) diz que o telefone dele (Anderson do Carmo) foi levado por ocasião do fato. Mas, na verdade, ela usa esse telefone pouco tempo depois. Há troca de mensagens entre ela e os filhos falando da morte dele, falando da independência financeira. Então, depois de coletar todos esses dados, a gente tem a certeza de que ela é a mandante e esse crime não teria acontecido se não fosse por vontade dela”, alegou Alan Duarte.

“Ela arquitetou esse plano criminoso, ela regimentou pessoas, ela financiou, ocultou provas. Então, para mim, ela é a pessoa mais perigosa dessa organização criminosa familiar”, disparou o delegado na sequência.

Ainda na conversa com os jornalistas, o delegado Alan Duarte negou que a saída de Bárbara Lomba e a entrada dele no inquérito tenha sido ocasionada por motivações políticas, como foi questionado aos dois primeiros depoentes durante a sessão dessa segunda-feira. “Sou um admirador do trabalho da Bárbara Lomba. Ela foi minha colega de profissão na Delegacia de Homicídios, fomos assistentes juntos, depois eu fui assistente dela quando ela foi titular. É uma delegada super competente e quando eu assumi a investigação, eu contei com a qualidade do trabalho dela para dar seguimento ao meu trabalho”, assegurou. “Não acredito em motivação política, foi uma opção da Secretaria de Estado de Polícia Civil. O trabalho seguiu da melhor forma possível e a gente está vendo o resultado”, completou.

A terceira testemunha a ser ouvida foi a comerciante Regiane Ramos, ex-patroa de Lucas Cezar de Souza, filho adotivo de Flordelis envolvido no crime e já julgado no ano passado. Ao longo do depoimento de quase três horas, Regiane chamou a atenção para dinâmica que existia na casa, em que os filhos preferidos, os “privilegiados”, tinham roupas, comida e não trabalhavam; enquanto os menos queridos, os “escravos”, eram obrigados a fazer todos os afazeres, tinham acesso à alimentos de qualidade inferior e eram maltratados pela ex-parlamentar.

Já ao final da sessão, a diretora e roteirista Mariana Jasper, uma das responsáveis por um documentário sobre o caso produzido para uma plataforma de streaming, foi convocada de última hora para depor. A oitiva foi solicitada pela defesa de Flordelis após Mariana, que não estava com o nome arrolado no processo, ser citada em plenário por Regiane. Esse depoimento foi o mais curto do dia, com duração de apenas 15 minutos.

Ao longo dos próximos dias, outras 23 testemunhas, tanto de acusação quanto de defesa, serão ouvidas no Tribunal do Júri de Niterói. Além da ex-parlamentar, também estão sendo julgados a filha biológica de Flordelis, Simone dos Santos Rodrigues; a neta Rayane dos Santos Oliveira; e os filhos adotivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva.

Réus são acusados por diversos crimes

Réus durante julgamento no Fórum de Niterói
Réus durante julgamento no Fórum de Niterói (Foto: Brunno Dantas/TJRJ)

De acordo com o processo, Flordelis é apontada como a mandante do crime. Ao todo, a ex-deputada responder pelos crimes de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Marzy Teixeira da Silva, Simone dos Santos Rodrigues e André Luiz de Oliveira respondem por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Já Rayane dos Santos Oliveira é acusada de homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.

Outros envolvidos no crime já foram julgados e condenados

Em sessão de julgamento que teve início no dia 12 de abril deste ano e que só foi encerrada na manhã seguinte, o Tribunal do Júri de Niterói condenou outros quatro réus acusados de participação na morte do pastor Anderson do Carmo. O filho biológico de Flordelis, Adriano dos Santos Rodrigues, foi condenado a quatro anos, seis meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto por uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada. Já o ex-policial militar Marcos Siqueira Costa foi sentenciado a cinco anos e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado. A esposa dele, Andrea Santos Maia, a quatro anos, três meses e dez dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto.

Filho adotivo de Flordelis, Carlos Ubiraci Francisco da Silva foi condenado pelo crime de associação criminosa armada a dois anos, dois meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto. No entanto, no dia 28 de abril, a Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu liberdade condicional a Ubiraci.

Antes desses, em novembro de 2021, o Tribunal do Júri de Niterói condenou Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da ex-deputada federal Flordelis, a 33 anos 2 meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado consumado, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada. Ele foi denunciado como autor dos disparos de arma de fogo que provocaram a morte do pastor Anderson.

Na mesma sessão de julgamento, Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis, foi condenado por homicídio triplamente qualificado a nove anos de prisão em regime inicialmente fechado. Ele foi acusado de ter sido o responsável por adquirir a arma usada no assassinato do pastor.

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