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Política

‘Ele próprio atira naqueles que foram seus principais escudeiros’, afirma Bebianno sobre Bolsonaro

Em entrevista exclusiva ao site Tupi.FM, o ex-ministro descreveu o desempenho do atual governo como 'mais perdido que cego em tiroteio e surdo em bingo'

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Em entrevista exclusiva ao site Tupi.FM, o ex-secretário-geral da Presidência descreveu o desempenho do atual governo como “mais perdido que cego em tiroteio e surdo em bingo”
(Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O ex-secretário-geral da Presidência da República Gustavo Bebianno concedeu entrevista exclusiva ao site Tupi.FM, em que avaliou como um “verdadeiro desastre” a articulação política do atual presidente, Jair Bolsonaro (PSL). Na conversa, descreveu o desempenho do atual governo como “mais perdido que cego em tiroteio e surdo em bingo”, além de dizer que “os recentes avanços de pauta”, como a aprovação do texto-base da reforma da Previdência, se devem principalmente aos esforços do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).

“Na verdade, o Brasil deve os recentes avanços de pauta ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia. Maia tem sido o grande responsável pela séria e responsável condução dos trabalhos. O Brasil deve muito a ele, deve muito mais do que pode supor”, garantiu.

Para Gustavo Bebianno, episódios como a expulsão do deputado federal Alexandre Frota dos quadros partidários do PSL, na última terça-feira, comprovam o “tremendo viés autoritário” de Bolsonaro. “Não é que ele abandone os seus próprios soldados feridos para trás. É pior do que isso. Ele próprio atira na nuca, pelas costas, daqueles que foram os seus principais escudeiros. O Frota foi um deles”, afirmou o ex-secretário-geral da Presidência.

Confira abaixo a íntegra da entrevista exclusiva ao site Tupi.FM:

Tupi.FM: O governo Bolsonaro conseguiu aprovar a Previdência e a MP da Liberdade na Câmara em 8 meses. Já é possível falar que o novo modelo de articulação política do presidente foi a opção correta?

Gustavo Bebianno: “Considero o modelo de articulação do governo um verdadeiro desastre, apesar do esforço e empenho de muita gente, a exemplo do ministro Onyx (Lorenzoni, da Casa Civil) que, na minha opinião, sempre desempenhou um papel muito importante. Na verdade, o Brasil deve os recentes avanços de pauta ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia. Maia tem sido o grande responsável pela séria e responsável condução dos trabalhos. O Brasil deve muito a ele, deve muito mais do que pode supor. É uma pena que o Jair continue a alimentar beligerâncias e a escutar tanto seus filhos mais novos”.

Tupi.FM: Nos próximos dias, o presidente deve indicar o Eduardo Bolsonaro para ocupar o cargo na embaixada do Brasil em Washington. Você acredita que passa no Senado? E a opção do presidente é correta para você?

Gustavo Bebianno: “Honestamente, essa indicação é um escândalo, um deboche. Eduardo não tem a menor condição de estar à frente de qualquer embaixada. Sua formação acadêmica é fraca, não tem maturidade e experiência de vida, tampouco faz ideia de qual seja o papel de um embaixador. Nem inglês ele fala! A avaliação do caso me parece bastante simples. Basta que se formule a seguinte questão: ‘Se seu pai não fosse o presidente da República, teria Eduardo Bolsonaro o seu nome cogitado para alguma embaixada?’ Garanto que não! Nem se fosse para o Congo, quanto mais para a mais importante embaixada do Brasil. Além disso, esse é um tremendo erro estratégico. Todos os problemas e desgastes entre Brasil e Estados Unidos serão transformados em questões pessoais que cairão diretamente no colo do presidente. Esse é um equívoco bastante perigoso. Essa história toda é apenas mais um dos caprichos dos filhos mais novos do capitão. E ele erra tremendamente em atender. Acho que o Senado tem a obrigação de vetar. Caso contrário, ficará de joelhos para esse tipo de absurdo não republicano”.

Tupi.FM: O PSL exonerou o senhor e expulsou o Alexandre Frota. O que aconteceu com o partido em 2019?

Gustavo Bebianno: “Essa questão do Frota é um absurdo que revela um tremendo viés autoritário por parte do Jair (Bolsonaro). Será que ninguém mais tem o direito de ter as suas próprias opiniões? Será que todos têm que concordar integralmente com tudo, numa espécie de seita fundamentalista? Meu Deus, até onde sei, estamos em um ambiente democrático. Acho muito ruim esse tipo de autoritarismo. Além disso, há uma outra questão bastante relevante também, que é o perfil ingrato e desmemoriado que o Jair vem revelando depois de eleito. Não é que ele abandone os seus próprios soldados feridos para trás. É pior do que isso. Ele próprio atira na nuca, pelas costas, daqueles que foram os seus principais escudeiros. O Frota foi um deles. Vi com os meus próprios olhos, ninguém me contou. Frota é um cara de personalidade forte, corajoso, e isso incomoda. Jair está acostumado com pessoas fracas, bajuladores que, tenho certeza absoluta, o abandonarão ao primeiro sinal de turbulência. A tendência é que o Jair vá ficando sozinho, apenas com os soldadinhos mais fraquinhos e sem coragem. Os fortes e de personalidade vão embora, não vão abaixar a cabeça. Os fortes estavam, ou ainda estão, para ajudar o Brasil, e não para se submeter incondicionalmente a uma espécie de líder soberano e autoritário. Tentaram me dobrar, oferecendo Itaipu e outras coisas, mas não aceitei nada. Sai como entrei. Trabalhei dois anos ao lado do capitão, de forma incansável, gastando do meu próprio dinheiro, correndo riscos, porque acreditava na causa, numa causa que é o Brasil melhor, livre do pensamento antigo e atrasado do PT e afins. Continuo acreditando nisso, mas o Jair tem sido uma gigantesca decepção”.

Tupi.FM: E o que vai acontecer com o PSL nas eleições municipais no Rio e pelo Brasil?

Gustavo Bebianno: “As próximas eleições municipais prometem ser quentes. Acho que testemunharemos muita radicalização, ainda. E isso é ruim. Vejo que conseguimos quebrar bastante, nas últimas eleições, a hegemonia de extrema esquerda. Agora, é hora de sensatez, de maturidade. O Rio de Janeiro não precisa de guerra ideológica nesse momento. O Rio precisa de gestão, de eficiência, de geração de riqueza. O Rio precisa se posicionar de forma a atrair novamente a atenção da indústria, de investidores, de empreendedores. A cidade precisa de sucesso e prosperidade, e não mais de guerra. Nesse sentido, é muito importante lembrar que o Jair jamais se importou de verdade pelo Rio. Não quis que seu filho Flávio ganhasse a última eleição municipal, em 2016, tampouco se dispôs a lançar um candidato a governador em 2018, apesar da minha forte insistência. Naquela época, fiz de tudo para que o General Mourão fosse candidato, mas o Jair não ajudou. Agora, no entanto, acredito que ele tentará emplacar alguém, não por preocupação pelo Rio, mas sim pelo interesse que já demonstra pela própria reeleição presidencial.

Já que me meti tanto nesse ambiente político, e já que tive tanta exposição, estou também disposto a mergulhar nas próximas eleições, trabalhando de alguma forma pela minha cidade. Há vários nomes bons, a exemplo do ex-prefeito Eduardo Paes, que já mostrou ser um grande gestor público, mas há o meu também. Quero ajudar de alguma forma, sou advogado, conclui três diferentes MBA, tenho um mestrado em finanças nos EUA, experiência profissional, enfim, posso ajudar”.

Tupi.FM: A sua relação era de inteira confiança com o presidente. Você ainda se sente traído por ele ou pelos filhos? Manteria todo o apoio que deu para a vitória em 2018?

Gustavo Bebianno: “Nossa relação era de confiança extrema e mútua. Fiz de tudo para eleger o Jair, eliminei todos os obstáculos para que ele pudesse seguir em frente. Enfrentei desafios e riscos que quase ninguém sabe, para protegê-lo. Ele sabe bem disso. Ele sabe que não teria chegado lá sem a minha ajuda. Só que isso foi quebrado pelo Jair. Fui leal e fidelíssimo todo o tempo. É o meu perfil, questão de personalidade. No entanto, decidi não dobrar a espinha diante dos caprichos e insanidade mental do Carlos (Bolsonaro, filho do presidente). Sempre agi com extremo respeito perante o Jair, independentemente dele ser ou não presidente, mas não podia deixar que um garoto mimado e despreparado fosse a público me chamar de mentiroso. Graças a isso, posso me olhar de frente no espelho. Ao Jair, desejo que tome juízo. Se continuar como está, todos nós é que pagaremos o preço”.

Tupi.FM: Qual sua avaliação do governo Bolsonaro? Acredita que o presidente já pensa em ser reeleito em 2022?

Gustavo Bebianno: “Acho que, na verdade, há dois governos distintos. Há o governo Paulo Guedes, que tem uma agenda e metas, e o governo Bolsonaro. O primeiro, com erros e acertos, precisa de um pouco mais de tempo para que os resultados possam aparecer. E esperamos que apareçam. Gosto do Paulo Guedes. Já o governo Jair Bolsonaro precisa de uma bússola para se guiar. Ele está mais perdido que cego em tiroteio e surdo em bingo”.

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